Nesta terça-feira, 21/08/2018, o Club de Regatas Vasco da Gama completa 120 de anos de fundação.
Paralelamente a isso, o ano de 2018 marca os 20 anos da conquista do título mais importante do clube até hoje, a Taça Libertadores da América, vencida em 26/08/1998, contra o Barcelona de Guayaquil, no Equador. O Cruzmaltino é a única agremiação na história, até o momento, a ganhar essa competição no ano de seu centenário.
Para simbolizar o aniversário do clube e também essa histórica conquista, o NewsColina! conversou com o ídolo Mauro Galvão, zagueiro e capitão do time campeão de 1998 e também integrante do período de glórias do Vasco, de 1997 a 2000. Confira:
Newscolina: O Vasco está completando 120 anos. Coincidentemente, digamos assim, em 2018 completam-se também 20 anos da conquista da Libertadores, o maior título da história vascaína até hoje. Como foi o sentimento para você, capitão daquele time, levantar essa taça de tamanha importância e, além disso, ser considerado um dos principais zagueiros da história do clube, inclusive homenageado com sua foto no painel recentemente construído em São Januário?
Mauro Galvão: É motivo de satisfação ver o Vasco completar 120 anos. Eu estava jogando ainda quando o Vasco completou seu centenário, que também foi muito importante, e acabamos conquistando dois títulos naquele momento, o Estadual e a Libertadores, que era um título inédito para o clube. Então, acho que isso representa muito para nós que jogamos. No meu caso, como capitão da equipe, realmente foi um momento muito importante quando chegamos a essas conquistas. Primeiro o Brasileiro de 1997, depois o Estadual e a Libertadores, e os outros títulos que acabaram acontecendo, mais um Brasileiro (2000), Mercosul (2000), Rio-São Paulo (1999)… Todos esses títulos muito importantes, num ciclo vitorioso que acabamos vivendo nesse período de 1997 a 2000. É motivo de orgulho fazer parte dessa história.
E agora, ter no estádio uma foto ao lado de jogadores que participaram de grandes conquistas… é motivo de muita felicidade. A gente espera que o Vasco seja sempre forte e, a cada momento, possa voltar a ser protagonista e buscar sempre se superar. Isso, para mim, é o que representa um clube grande como o Vasco.
Newscolina: Como você falou, o time de 1998 vinha de uma conquista também muito importante, o Campeonato Brasileiro de 1997, que tinha como dupla de ataque muito entrosada Edmundo e Evair. Em 1998, a dupla mudou para Donizete e Luizão, mas o desempenho/nível do time se manteve igual, nada mudou. Qual era a diferença entre essas duplas e como foi o entrosamento do time, já embalado, com Donizete e Luizão, que acabaram sendo muito importantes para as conquistas daquele ano?
Mauro Galvão: Acho que realmente foram duas duplas muito fortes de atacantes. Primeiro, em 1997, Edmundo e Evair, que já tinham uma experiência vivida no Palmeiras e já existia um entrosamento no qual nem precisava se falar muita coisa. No olhar, já sabiam o que um iria fazer e o outro também. Uma dupla muito técnica e, ao mesmo tempo, com força e velocidade, no caso do Edmundo, e o Evair sendo um jogador de preparação, mais tático, inteligente, no sentido de abrir espaços para o Edmundo. Realmente foi uma dupla muito boa e um dos motivos do Vasco chegar ao título de 1997, sem dúvida nenhuma.
Já em 1998, com a saída deles, acabamos tendo uma outra dupla, Donizete e Luizão, que acabaram caindo muito bem na equipe. Eles chegaram com suas características próprias, procurando jogar da forma que sabiam, e o time ficou muito forte na marcação e também no contra-ataque. Nós tínhamos essa capacidade de nos fechar e jogar em contra-ataques. Então, foram muito importantes nesse sentido, pois tanto Donizete quanto Luizão tinham muita força e, ao mesmo tempo, ajudavam na marcação.
Eu entendo que as duas duplas foram muito importantes para nós e elas, cada uma com sua característica, ajudaram muito o Vasco nesses títulos de 1997 e 1998.
Na sua opinião, qual foi o jogo mais marcante/difícil da campanha da Libertadores?
Mauro Galvão: Nós tivemos vários jogos difíceis. Não começamos tão bem a competição em termos de resultado. A equipe até vinha jogando bem, mas não conseguia fazer resultado nos primeiros jogos, e isso, é claro, causa uma apreensão, uma preocupação. Porém, depois nós conseguimos empatar um jogo contra o América-MEX, no México, e ali começou nossa arrancada para chegar até o título. Então, esse resultado foi muito importante, mesmo tendo sido um empate, pois noa ajudou a ter mais tranquilidade e conseguir buscar as vitórias. Depois desse resultado, nós acabamos arrancando para buscar praticamente todas as vitórias em São Januário. Então, foi muito bom nesse sentido.
E, sem dúvida nenhuma, dos jogos mais difíceis que nós fizemos, o que realmente foi de dificuldade maior foi contra o River Plate, em Buenos Aires, pois tivemos que nos superar realmente para conseguir chegar ao resultado que queríamos, e ele veio com muita dificuldade, mas acabou nos levando até a final.
Você fez lendária dupla com Odvan, que era considerado por muitos um zagueiro limitado, mas que, após jogar com você, acabou chegando à Seleção. Qual recordação você tem dessa época, de fazer dupla com ele, e como era o relacionamento de vocês fora de campo?
Mauro Galvão: Ah, muito legal, né? Eu fiquei muito contente do Odvan ter conseguido jogar o seu futebol, o futebol que ele jogava no Americano, e ele conseguiu se adaptar rapidamente ao Vasco, coisa que não é fácil, principalmente por ter vindo de um time menor. E ele soube também escutar tudo aquilo que a gente colocava pra ele, tentando sempre ajudar, e isso foi fundamental, pois ele entendeu que nós todos queríamos o melhor pro Vasco. Então, nesse sentido, nunca houve nenhum tipo de problema dentro de campo conosco, de um não aceitar qualquer coisa que se falasse. Essa era uma das forças do nosso time: todo mundo tinha respeito um pelo outro, mas ao mesmo tempo todos se cobravam. Eu penso que, para um time ser vitorioso, tem que existir a cobrança.
Qual foi a principal contribuição do técnico Antônio Lopes para a conquista da Libertadores?
Mauro Galvão: A participação do Antônio Lopes foi muito importante, sem dúvida nenhuma. Ele foi um treinador que conseguiu sempre controlar bem o elenco, com todas as dificuldades, com muitos jogadores de qualidade. Ele conseguiu sempre manter os jogadores motivados. Acho que ele teve muita participação, principalmente, quando conseguimos aquela arrancada, ganhando todos os jogos em São Januário. Nós treinávamos muito pra fazer aquela forma de jogar, uma forma que não deixava o adversário jogar, abafando. Então, acho que ele foi super importante nessa definição de que nós tínhamos que apertar e pressionar o tempo inteiro o adversário. E acabou dando certo, nós ganhamos todos os jogos em São Januário, chegando à conquista da Libertadores.
Considerando Taça Rio e Taça Guanabara como títulos, o Vasco é o clube no qual você foi mais vezes campeão (10 vezes) e possivelmente tem o título mais importante de sua carreira, justamente essa Libertadores. Considera a passagem pelo clube carioca o principal momento/auge de sua carreira?
Mauro Galvão: Minha passagem pelo Vasco é realmente uma passagem muito marcante. Ela tem, assim, muitos momentos especiais, num momento importante da minha vida, eu já com 36 anos. Então, a gente consegue aproveitar mais, entender mais aquilo que está acontecendo. Consegue, também, viver, junto com teus companheiros, com a torcida, de uma outra forma.
Então, acho que, por isso tudo, minha passagem pelo Vasco foi muito forte, muito especial. E, até hoje, em todo lugar que eu vou, no Brasil todo, existe um carinho muito grande comigo e, certamente, tem muito a ver com esse período vitorioso que o Vasco viveu de 1997 a 2000 e, é claro, culminando com esse título inédito da Libertadores, que também era inédito pra mim, eu queria muito conquistá-lo. E ainda bem que acabou acontecendo, e o ‘escolhido’ foi o Vasco. Então, com certeza, isso serve, mais ainda, pra confirmar que minha passagem pelo Vasco foi maravilhosa, inesquecível.
Tem acompanhado o Vasco atualmente? Qual sua opinião sobre o atual momento do clube?
Mauro Galvão: Não tenho acompanhado muito o Vasco nesse ano, depois de todos os problemas que ocorreram na eleição. A gente ficou um pouco chateado com a forma como as coisas aconteceram. Então, achei prudente ficar um pouco afastado, assistindo de longe só o que estava acontecendo de mais importante, até mesmo pra formar uma opinião sobre tudo. Sem dúvida nenhuma, eu sempre me interesso por tudo que acontece no Vasco, tudo que é relacionado ao Vasco. Eu acompanho os jogos, é claro, os resultados, mas não tenho ido ao estádio, frequentado São Januário.
Aconteceram muitas coisas também na minha vida pessoal, as quais eu tive que estar muito presente em Porto Alegre, tive que passar praticamente três ou quatro meses em Porto Alegre devido à doença que meu pai teve, então acabei ficando um pouco de fora. Mas sempre me interesso por tudo que acontece no Vasco. Sempre que o clube precisar, tenho certeza que posso muito o Vasco. Já participei de várias campanhas, de várias situações. Já fui jogador, auxiliar, treinador, dirigente… Tenho certeza que a torcida vascaína confia em mim e, no momento certo, vou ajudar novamente o Vasco.
Você sempre foi considerado um zagueiro ‘elegante’, técnico. Na sua opinião, qual foi o melhor zagueiro que passou pelo Vasco após você?
Mauro Galvão: Acho que o Vasco teve bons jogadores na posição, bons zagueiros, mas nos últimos anos, que eu tenha visto, aliando a técnica com a marcação, a força, a disposição em campo, até mesmo uma certa liderança, sem dúvida nenhuma foram dois jogadores que me chamaram mais atenção: Dedé e Anderson Martins. No ano de 2011, eles formaram uma bela dupla e com certeza, para mim, foi a melhor dupla de zaga depois desse período de glórias que o Vasco viveu, como falamos aqui, de 1997 a 2000.
Para finalizar: um recado à torcida vascaína.
Mauro Galvão: Queria mandar um abraço à todos os vascaínos, dizer que é um motivo de satisfação fazer parte dessa história tão bonita. O Vasco completando 120 anos, uma bela data, e o importante é que a torcida em todos os momentos fez toda a diferença, seja em momentos bons ou difíceis que o clube tenha vivido. O Vasco sempre teve a participação da sua torcida, e isso é fundamental. É isso por isso que o Vasco é grande, pois a torcida sempre acaba fazendo a diferença, empurrando o time, seja qual for o momento que o clube esteja passando.