Atual presidente do Vasco, Alexandre Campello era médico do clube em sua principal conquista, a Libertadores de 1998. O título completa 20 anos neste domingo, e o mandatário cruz-maltino relembrou histórias curiosas de bastidor vividas pela equipe do técnico Antônio Lopes até superar o Barcelona-EQU, na decisão.
Campello ficou no banco de reservas em todas as partidas mais importantes e se tornou um espectador privilegiado. Pôde acompanhar de perto a história sendo feita. As recordações não saem da memória.
A macarronada "monumental" após o gol de Juninho em Buenos Aires
- Para mim foram muito marcantes os últimos três jogos. Contra o River lá, principalmente. Era o grande jogo, existia o entendimento de que era uma final antecipada. Se a gente se classificasse, sabíamos que a chance de título era muito grande.
Lembro de um número muito grande de vascaínos na Argentina. Muitos sem ingresso, reserva de hotel, nada... foram na aventura mesmo. Aquele gol do Juninho deu uma euforia enorme a todos. Voltamos para o hotel, e ninguém conseguia dormir. Apareceu um grupo de uns 50 ou mais torcedores que foram no risco, sem estrutura nenhuma.
Estávamos eu e o Clóvis Munhoz (também médico do Vasco) tentando acolher. Fomos para dentro da cozinha do hotel para tentar que servissem comida para os torcedores, mas estava praticamente tudo fechado já. Depois de muito custo, convencemos o ajudante a fazer uma macarronada para a galera. Imagina uma macarronada para uns 50... e o pessoal comendo como se fosse um banquete. Ainda pegamos algumas camisas e distribuímos.
Fomos praticamente sem dormir para o aeroporto, todos eufóricos ainda.
No Equador, pedradas, tinta, fumaça e som alto no vestiário
- Na final, o jogo em São Januário foi bastante tranquilo. Naquela época havia uma queima de fogos enorme. O estádio estava lotado, deve ter ultrapassado o limite. Não se conseguia andar. Foram 30 e tantos mil torcedores. Acabamos vencendo a partida e levamos uma vantagem para Guayaquil.
Lá, criaram uma situação de que tinham passado por constrangimento no Brasil, que tinham sido ameaçados... Por conta disso, o clima ficou muito negativo para nós em Guayaquil. Acho que usaram como justificativa para a derrota. Nosso ônibus não conseguiu chegar no hotel, jogaram um monte de coisa. Tivemos que desviar e entramos por trás. Imagina a delegação toda passando por dentro da cozinha.
No dia do jogo, o clima continuou hostil. Na chegada ao estádio, o caminho é como se fosse no meio de pedras. Então, os torcedores ficaram em cima jogando pedras e garrafas. Dentro do estádio, pintaram o vestiário. Ficou um cheiro danado de tinta, além de uma fumaça. Colocaram também os alto falantes do sistema de som do estádio virados para dentro do vestiário. Não dava para ficar lá dentro e conversar.
Mas depois que o jogo começou, o time superou todas as adversidades. Nossa equipe era muito superior, incomparável. Rapidinho o Vasco resolveu o jogo.
Válber: treino com roupa de mulher e zoação ao supervisor
- Estávamos todos nos preparando para o treino durante o carnaval. Daqui a pouco chega o Válber vestido de mulher, vindo direto do bloco. Entrou no vestiário com aquela roupa (risos). Sem contar que no ônibus ele contava histórias o tempo todo e gostava de sacanear todo mundo.
O supervisor Isaías (Tinoco), que é gago, era o principal alvo dele. Chegava lá trás e gritava "Eeeu nããoo sooou gagago não. Não tenho ééé preeessa de faaalar". Cantava "Atirei o pau no gato" no ritmo do "The Wall" (música da banda Pink Floyd). Era só zoeira.
Campello e os rachões com o time; as superstições de Lopes
- Ele era muito supersticioso. Ia com a mesma meia, camisa, sapato... desde o primeiro jogo. Foi até o final. A camisa já deveria estar poída.
Eu sempre fui peladeiro. Naquela época, na véspera dos jogos tinha uma peladinha, o rachão. E muitas vezes eu entrava para brincar. Óbvio que quando era um jogo mais importante, eu não entrava. Em um rachão desses eu entrei e meu time ganhou. A partir dali, eu tinha que participar de todos.