Futebol

Memória EC: história dos clássicos cariocas em São Januário

Aos 90 anos, recém-completados no último dia 21 de abril, o estádio de São Januário voltará a sediar um clássico carioca neste sábado, no confronto entre Vasco e Fluminense, pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro. E não é à toa que a diretoria vascaína se empenha junto à Federação Carioca, à CBF e a autoridades como o Corpo de Bombeiros, para que seu estádio possa servir de local a este tipo de jogo. Quando lotado, como no domingo passado, nos 2 a 1 sobre o Bahia, São Januário canta, balança bandeiras, grita, festeja, pulsa como um coração e parece ser mesmo algo mais a favor da equipe anfitriã, que não perde um clássico ali há 15 anos. Desde 8 de junho de 2002, pelo Estadual, no 1 a 0 diante do Botafogo, gol de Dodô.

O Fluminense não enfrenta o tradicional adversário na colina histórica há quase 12 anos. A última edição do confronto com o Vasco naquele estádio foi em 14 de novembro de 2005, no Brasileiro. Romário fez os dois gols que deram o resultado positivo ao time da casa: 2 a 0. Para conseguir lembrar a última derrota vascaína para o Tricolor naquele cenário é preciso retornar ao dia 4 de fevereiro de 1973, no Torneio Internacional de Verão. Na decisão do quadrangular, que também contou com o Argentinos Juniors e o Atlanta, ambos de Buenos Aires, um gol de Lula deu o troféu ao clube das Laanjeiras: 1 a 0.

Desde então, houve mais dez edições deste clássico em São Januário, com seis triunfos vascainos e quatro empates. Assim, o Vasco mantém 44 anos de invencibilidade em casa diante do rival.

Os números, porém, não garantem favoritismo dos anfitriões, ainda mais que nas duas edições do clássico este ano, o Fluminense passeou, repetindo o placar de 3 a 0. Ao longo de 364 partidas, desde 1923, o Vasco obteve 141 triunfos contra 120 do Fluminense, além de 102 empates. Uma das curiosidades do duelo tem sido a alternância no predomínio entre os rivais ao longo das décadas. Num determinado momento, um time vence mais vezes, e no outro é o adversário que leva a melhor.

Trata-se também de um clássico repleto de polêmicas extracampo. A mais recente surgiu em 2013. O Fluminense firmou contrato com a concessionária Maracanã S.A., e sua torcida passou a ocupar o setor Sul ou o lado direito das tribunas de honra. Área que a torcida do Vasco sempre teve como seu território pelo fato de seu clube ter sido o primeiro campeão carioca no estádio, em 1950. Era uma espécie de direito adquirido. Entretanto, na semifinal do Estadual, a Federação de Futebol do Rio deu ganho de causa aos tricolores. Este é um dos motivos de o Vasco, que detém o mando de campo, ter levado o jogo para seu estádio particular.

Em relação aos outros clássicos cariocas, o último Vasco x Botafogo em São Januário ocorreu a 27 de março do ano passado: Vasco 1 a 0, gol de Thalles, pela Taça Guanabara, primeiro turno do Estadual de 2016. À época, o Maracanã estava fechado, por causa da preparação para a Olimpíada e a Paralimpíada.

Pouco mais de um mês antes, pelo mesmo motivo, os vascaínos voltaram a mandar um clássico em casa, em 14 de fevereiro de 2016, no triunfo por 1 a 0 sobre o Flamengo, pela Taça Guanabara. Gol de Rafael Vaz, atualmente na equipe rubro-negra.

Para conseguir sediar esses jogos, a diretoria do clube teve de lutar para comprovar que seu estádio dispunha de estrutura para uma partida com as presenças de duas torcidas (90% de vascaínos e 10% de visitantes). O último insucesso do Vasco diante do Flamengo em casa foi em um amistoso a 21 de janeiro de 1973: 1 a 0, gol de falta de Paulo Cesar Caju.

Desde sua inauguração, São Januário foi local de 126 jogos do Vasco contra Botafogo, Flamengo e Fluminense. O retrospecto é favorável ao time da casa. Em relação ao Tricolor, foram 46 confrontos, com 22 vitórias, 11 empates e 13 derrotas. Contra o Alvinegro, em 45 duelos, 18 triunfos vascaínos, 15 empates e 12 vitórias do Botafogo. No caso de Vasco x Flamengo, foram 35 partidas. Os vascaínos levaram a melhor em 16 deles, os rubro-negros em 10, e foram registrados nove empates.

Apesar de obviamente necessitar de uma modernização, que possibilite uma ampliação de sua capacidade e mais conforto e limpeza nos sanitários, de melhorias no acesso, entre outras coisas, a casa vascaína é um exemplo de estádio à moda antiga, de onde se vê toda a ação bem de perto e no qual a temperatura do calor humano é alta. Embora o nome oficial do estádio seja o do próprio clube, ele é mais conhecido como São Januário por causa da rua situada nas imediações, no recém-denominado bairro Vasco da Gama, em São Cristóvão (Zona Norte do Rio).

O estádio foi inaugurado a 21 de abril de 1927, no amistoso Vasco 3 x 5 Santos. Foi construído em pouco mais de um ano e sem um centavo de ajuda do governo, graças à união de torcedores e sócios vascaínos, que lutavam contra preconceitos raciais e sociais de que seu clube era vítima  - por ter atletas negros e porque esses mesmos sócios e torcedores vinham de classes sociais mais baixas.

Naquele local, a partida mais importante para o clube se deu a 12 de agosto de 1998: 2 a 0 sobre o Barcelona de Guayaquil, do Equador, gols de Donizete e Luizão, no primeiro jogo da final da Copa Libertadores da América.

São Januário permaneceu como o maior do país até 1940, quando da abertura do Pacaembu, em São Paulo. Havia sido também o maior da América do Sul, até 1930, ano da inauguração do Centenário, de Montevidéu, para a primeira Copa do Mundo. E o maior do Rio até 1950, ano da abertura do Maracanã para o Mundial. Foi o primeiro do país a dispor de refletores, inaugurados a  31 de março de 1928, com Vasco 1 x 0 Wanderers (Uruguai), num gol olímpico de Sant'Anna, um dos primeiros tentos desse tipo no futebol brasileiro.

Até a inauguração do Maracanã, o local não apenas sediava os grandes clássicos, mesmo que o Vasco não participasse - a final do Carioca de 1946, Fluminense 1 x 0 Botafogo, foi na  casa vascaína -, como as partidas da seleção brasileira e do antigo Brasileiro de Seleções. Além de eventos não ligados ao esporte. Casos, por exemplo, das concentrações cívicas e trabalhistas de Getúlio Vargas; comicio de Luiz Carlos Prestes; apresentações de corais regidos pelo maestro Heitor Villa Lobos; e dois desfiles de escolas de samba, em 1943 e 1945, este oficial, ganho pela Portela. O estádio também serviu de concentração para vários pracinhas antes de seu embarque para a Segunda Guerra Mundial, na Itália, confronto para o qual o clube doou dois aviões ao Brasil.
 
Em 2002, o Travel Channel, canal de TV de turismo, incluiu o estádio entre os sete melhores do mundo para se assistir a uma partida, junto com Camp Nou, Giuseppe Meazza, La Bombonera, Ibrox, Stamford Bridge e Olímpico de Munique.

Texto: Cláudio Nogueira 

Fonte: Blog Memória E.C. - ge
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