Futebol e literatura foram os principais temas abordados pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, no encerramento da IV edição da Festa Literária de Marechal Deodoro, a Flimar, realizada em Marechal Deodoro, Litoral Sul de Alagoas, desde quarta-feira. A palestra do alagoano começou no horário previsto, e ele abriu o seu discurso relembrando grandes personagens da literatura brasileira: Lima Barreto, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade e José Lins do Rego.
O ministro falou ainda sobre a chegada do futebol no Brasil. Contou que a modalidade chegou ao país com os imigrantes ingleses e italianos e que por muito tempo foi considerada uma prática de aristocratas, "esporte para branco", como citou. Segundo Rebelo, a segregação no futebol da época gerou em Lima Barreto uma certa revolta, que acabou registrada em suas obras.
- A origem do futebol aqui no Brasil é muito interessante. Ele chegou pelos clubes aristocratas, o primeiro clube foi o Palestra Itália, de imigrantes italianos. Na época, os brasileiros costumavam jogar bola aos domingos, depois das missas. Era um esporte para os brancos ricos. Inclusive, Lima Barreto narrou em suas obras que tinha total desprezo por essa elitização do futebol. O Vasco foi o primeiro time a incorporar jogadores negros.
Rebelo lembrou a famosa crônica do escritor alagoano Graciliano Ramos, escrita em 1921, onde o romancista afirmava que o futebol era "fogo de palha no Sertão, e a rasteira a principal modalidade dessas terras". O ministro disse que o autor de Vidas Secas chegou a apostar que o futebol não 'pegaria' no Brasil. Ainda de acordo com Rebelo, Oswald de Andrade foi outro que teceu duras críticas à modalidade, mas também destacou os que exaltaram o futebol, como Jorge Amado.
- Graciliano Ramos escreveu certa vez que o futebol era fogo de palha, que não 'pegaria' no Brasil, que era algo passageiro. Lima Barreto tinha esse desprezo em relação ao futebol e Oswald de Andrade chegou a dizer, certa vez, que o futebol era uma das três pragas que assolava o Brasil. Mas teve o Jorge Amado, que fez uma bela obra: ´A Bola e o Goleiro´, que narra o romance entre uma bola e um goleiro 'frangueiro'. Ela acaba fazendo tudo para acabar nos braços do amado, dando sempre um jeito de ela nunca entrar em seu gol.
A todo momento, o ministro ressaltou as grandes obras literárias que tiveram inspiração no mundo do futebol. Para ele, esses autores contribuíram, mesmo ao criticarem a modalidade, para a formação de um público leitor, como também para eternizar o futebol nas famosas linhas dos grandes nomes da literatura brasileira.
Copa do Mundo
Aldo Rebelo falou brevemente sobre a Copa do Mundo, que será realizada no Brasil no próximo ano. Ele ressaltou a importância de estados que estão fora do eixo Rio-São Paulo sediarem o Mundial. O ministro lembrou que muitas pessoas de fora do país chegaram a questionar o investimento em estádios no Norte.
- Muitas pessoas de fora do país chegaram a questionar como o Amazonas, por exemplo, poderia sediar uma Copa . Eu respondi: `Vocês deveriam questionar como lugares como o Amazonas foram fundados, no meio da mata. Fiz questão de dizer para eles que Copa do Mundo sem Norte, Nordeste e Centro-Oeste não seria Copa do Mundo, seria Copa do Sul e do Sudeste.
O discurso foi rápido, durou apenas uma hora, mas, com pitadas de humor, conseguiu arrancar do público aplausos e risadas. Ao término de sua apresentação, o ministro foi homenageado, assim como o premiado cineasta alagoano Cacá Diegues, um dos fundadores do Cinema Novo e autor de Bye Bye Brasil, Deus é Brasileiro e Orfeu. O neto de Graciliano Ramos, Ricardo Ramos Filho, também subiu ao palco para receber homenagem, que contou com a participação da Seresta da Pitanguinha. O Velho Graça completaria no próximo dia 27 de outubro 120 anos. A organização do evento informou que a próxima edição do Flimar será em novembro de 2014 e contará com a presença do cantor e compositor Djavan.