Rio - Como você fez isso, Mister M, príncipe negro de todos os sortilégios? Um dia após prever a volta por cima de Bernardo diante do Náutico, o folclórico torcedor vascaíno revelou o seu segredo e contou como surgiu a ideia de confeccionar a faixa com os dizeres ‘Hoje é dia de Bernardo’, utilizada pelo jogador na comemoração de seu primeiro gol, após passar sete meses se recuperando de uma cirurgia no joelho esquerdo. De quebra, o Mago dos magos, como diria o apresentador Cid Moreira, decretou: o jovem Thalles vai salvar o clube do rebaixamento domingo, contra o Atlético-PR.
Não há mistério, apenas matemática. Ciente do que o Vasco precisa fazer para seguir na Série A, o Mister M sabe que torce por um time limitado, mas acredita em uma tarde mágica em Joinville. Se o personagem original ficou famoso em meados dos anos 90 por revelar quais eram os truques de seus concorrentes, para o vascaíno, o segredo da salvação é manter a tranquilidade em campo. E agora, Mister M?
“O time tem de jogar com atitude como na partida contra o Cruzeiro. Desse jeito não vamos cair. O choro vai sobrar para o Fluminense. O Coritiba vai empatar com o São Paulo e vamos vencer o Atlético-PR por 2 a 1. Thalles vai marcar o gol histórico”, decretou.
O dom da premonição Mister M adquiriu a dois dias da partida com o Náutico. Conhecido por poucos pelo nome próprio, José Pedro dos Santos, de 43 anos, e pai de duas filhas, cochilava em sua casa no Complexo do Alemão quando sonhou. “A cena era parecida com aquela da vitória contra o Fluminense no último minuto, em 2011. Mas, desta vez, Bernardo corria olhando e apontando para mim”, lembrou.
O torcedor ligou para amigos e, de forma urgente, pediu para que um cartaz fosse confeccionado para homenagear o camisa 31. “Entre 55 mil presentes, fui o escolhido para ajudar na volta por cima do Bernardo. É mais uma magia do Mister M”, comemorou o vascaíno, lembrando os momentos seguintes do segundo gol do Gigante:
“Bernardo veio igual ao meu sonho. Ele me abraçou e me agradeceu pela força.”
Clube espera dois mil em Joinville
A decisão com o Atlético-PR pode até ser longe do Rio, mas o Vasco poderá se sentir um pouco em casa em Joinville. Reduto de milhares de vascaínos, a cidade já vive a expectativa do jogão e os torcedores prometem fazer a sua parte na arquibancada, assim como os cariocas no Maracanã. Dois mil ingressos vão ser destinados ao Gigante da Colina.
Em pesquisa divulgada em 2012 pelo blog Teoria dos Jogos, o Vasco tem a terceira maior torcida de Santa Catarina — só fica atrás de Flamengo e Corinthians.
Decisão repetida nove anos depois
O destino prega peças e, por ironia ou não, repete cenários marcantes. O jogo de domingo entre Vasco e Atlético-PR, domingo, em Joinville, é um deles. Em 2004, ambos os clubes enfrentaram-se na penúltima rodada do Brasileirão. O Vasco tentava desesperadamente fugir do rebaixamento e o Furacão buscava o título. A improvável vitória por 1 a 0 do Gigante da Colina, que selou a conquista do Santos, até hoje é lembrada pelo Furacão, que amargou o vice-campeonato.
Com 85 pontos, dois a mais que o rival Santos, o Atlético-PR, que estava há 11 rodadas seguidas no topo da tabela, viajou para o Rio como franco favorito. Era considerado o melhor time, com melhor futebol da competição. O caldeirão de São Januário, entretanto, ferveu. Sob o comando do técnico Joel Santana, o Vasco atuou na base da superação.
O goleiro Everton não deu chances para Washington, Coração Valente, artilheiro da competição com 34 gols (recorde até hoje). Na frente, Petkovic, antes perseguido pela identificação que tinha com o Flamengo, foi o principal nome do jogo. Foi dele a cobrança de falta que achou o zagueiro Henrique livre na área para marcar o único gol da partida.
Com o resultado, o Gigante da Colina escapou matematicamente da degola com 54 pontos. Já o Atlético-PR viu o Santos ultrapassá-lo com 86 pontos. E o pior, na última rodada o Peixe venceu o mesmo Vasco por 2 a 1 para confirmar o título.
Nove anos depois, Vasco e Atlético-PR mais uma vez jogam por objetivos distintos. O mando do jogo será do Furacão, que busca uma vaga na Libertadores. A situação do Gigante da Colina agora é muito mais dramática. Afinal, ele não depende apenas de si para escapar da degola.