A "urna da discórdia" teve um peso fundamental na eleição do Vasco, já que se tornou um dos pilares primordiais da vitória de Eurico Miranda, que sem os votos da urna 7 perderia o pleito para Julio Brant.
Muito se especula sobre a lista com os 691 sócios aptos ao exercício democrático na badalada urna 7. Desse total, 475 associados compareceram a São Januário para votar. 428 elegeram Eurico Miranda, 42 Julio Brant, quatro Fernando Horta e um anulado.
Mas o que, de fato, se pode concluir como verdade? O que é especulação? O que é mito? O Esporte Interativo analisou a lista com os 691 nomes e preparou um pequeno resumo dos principais pontos suspeitos.
Nome replicado e CPF inexistente?
Verdade. Não existe nenhum nome inteiramente idêntico em toda listagem. Porém, dois chamam a atenção. Eles apresentam o mesmo nome, mas sobrenomes, CPF's, matrícula, datas de nascimento e associação diferentes. Apesar disso, o endereço e o nome dos pais são os mesmos e o telefone de contato de ambos não aparece na lista.
Em uma pesquisa rápida confirmamos a desconfiança óbvia. Trata-se da mesma pessoa. Em um cadastro, omite-se o último sobrenome. No outro, omite-se todos os outros sobrenomes, exceto o último.
Um dos cadastros aparenta ser regular. Através do site da Receita Federal checamos as informações e os dados como nome, CPF e data de nascimento batem. Entretanto, ao checar o mesmo nome, com o outro CPF da lista, nada consta.
Para aumentar ainda mais a desconfiança, o endereço fornecido, em ambos os cadastros, indica residência em um prédio, mas na rua e número citados existe uma vila de casas.
Ainda há, no mínimo, outros dois casos estranhos. Em um deles, o nome do associado é idêntico ao do pai, acrescido do sobrenome "Junior". Ambos estão na lista. Entretanto, no caso do pai, na parte destinada à filiação, aparecem dois nomes masculinos, o que chamou a atenção da nossa reportagem. Não pelos dois pais, mas pela data de nascimento, 1961, época em que a sociedade era ainda mais intolerante e a dificuldade para assumir tal posição ainda maior.
Checamos então as informações de pai e filho. Quanto ao pai, todos os registros (exceto à filiação, que não podemos confirmar) aparentam estar regulares. Mas quanto ao filho, a situação é diferente. O site da Receita Federal informa que a data apresentada na lista não confere com a do portador do CPF.
O mesmo acontece em outro caso parecido. Na lista, um associado tem exatamente o mesmo nome do pai, sem nenhum acréscimo ou supressão. Na pesquisa sobre a situação do CPF informado, a mesma resposta: a data apresentada na lista não confere com a do portador do CPF.
Existe CPF replicado?
Mito. Em todos os 691 nomes da lista, nenhum CPF aparece duas vezes. Entretanto, sete não apresentam o registro. Cinco deles, de fato, não precisam do documento para votar, já que são "Benfeitores Remidos", mas por se tratar de uma lista "completa" de parte do quadro de associados, a falta é curiosa.
Endereços falsos e repetidos?
Mito e verdade. É bastante comum, e todos estão sujeitos a isso, realizar um cadastro, mudar de residência e não atualizar o novo endereço. Portanto, apenas o fato da pessoa não habitar mais no local anteriormente citado não quer dizer muito.
A mesma coisa vale para alguns casos em que mais de uma pessoa está cadastrada no mesmo endereço, já que podem representar famílias, como por exemplo, um apartamento em Copacabana onde residem seis associados, quatro deles com parentesco direto. Entretanto, algumas coincidências despertam a atenção. Destacamos aqui algumas delas:
- Três pessoas têm cadastro em um mesmo endereço de Copacabana. O problema? O endereço corresponde a uma administradora de imóveis em um shopping do bairro. Um desses cadastros, inclusive, apresenta um complemento de um número de uma casa.
- Chama a atenção o número de pessoas com endereços parecidos associadas no período. São dois casos mais gritantes, um na Baixada Fluminense e outro na Zona Norte. No primeiro, oito pessoas da mesma rua, algumas residentes em números diferentes, fizeram o cadastro. No segundo, foram nove.
- Observação: existem muitas imprecisões na lista. Muitos endereços constam apenas como "Pra", "Rua Ant", "Rua S", entre outras. Ao todo, são mais de 40 locais com a dificuldade mínima de se descobrir ao menos o que significam.
Telefones inventados?
Em parte mito, em parte verdade. Muitos telefones podem não existir mais ou não pertencer a pessoa que consta no cadastro, já que é o próprio associado que atualiza essa informação. Alguns números (principalmente os residenciais) também aparecem repetidos, mas podem representar uma família, que utilizou um número comum ao preencher a ficha. Apenas isso não é base para afirmar algum tipo de manipulação.
Mas não é apenas isso. 43 sócios apresentam um telefone nulo (21 00000-0000) e existem diversos números de um mesmo celular cadastrado para mais de uma pessoa, um deles, inclusive, "pertence" a 21 associados.
Adesão no Domingo? (E feriados? E dia de rebaixamento?)
Verdade. Desde o primeiro dia útil de novembro aconteceram associações em domingos, dias que a secretaria não funciona. Foram 16 novos cadastros. Inclusive, um desses domingos marcou o rebaixamento do Vasco na Série A do Brasileirão de 2015, dia em que três pessoas aparecem matriculadas na lista vascaína.
Também existem associações em feriados: 28 no total. (Um dos feriados era em um domingo e quatro sócios se juntaram ao quadro).
Associação em Massa?
"Verdade". Entre aspas porque se tratando de um clube grande como o Vasco, uma associação em massa, possivelmente, teriam números ainda maiores.
Mas o que se pode concluir é: desde o dia 02 de novembro 2015, aconteceram novas filiações em praticamente todos os dias até o final do ano, sempre em números pequenos, variando de uma pessoa a 14 em um dia.
Só que em dezembro a história começou a mudar. O número de associados por dia passou a crescer e, a partir de 08 de dezembro de 2015 (dois dias após o Vasco ser rebaixado no Brasileirão), aumentou ainda mais, chegando a atingir o ponto máximo em 15 de dezembro de 2015, quando 84 pessoas se cadastraram.