Foram 14 dias de convivência intensiva em Atibaia (SP) na pré-temporada do Vasco, que terminou nesta sexta-feira. Numa delegação composta por 55 pessoas, três mulheres passaram 24 horas diárias precisando lidar com muitas diferenças. Mas para aqueles que são os principais personagens do futebol, a presença de Maria Helena Rodriguez, Mildre Souza e Patrícia Gregório são fundamentais para dar equilíbrio a um ambiente tão marcado pelas figuras masculinas.
A psicóloga Maria Helena está no Vasco há 25 anos e trabalhou 12 anos nas categorias de base da Seleção Brasileira. A nutricionista Mildre Souza está em São Januário há nove anos e vive no futebol há 11. Patrícia Gregório, assessora de imprensa do futebol, chegou ao clube em 2008, quando Roberto Dinamite assumiu a presidência. Todas se dizem acostumadas ao ambiente, mas admitem que, em nome da tranquilidade, muitas dificuldades precisam ser superadas.
Mildre (à esquerda), Maria Helena e Patrícia: toque feminino na comissão técnica do Vasco em Atibaia (Foto: Gustavo Rotstein/Globoesporte.com)
- O início foi muito difícil, porque o olhar era diferente em relação a uma mulher praticando a psicologia do esporte num meio tão machista. Muitos se perguntavam: O que ela está fazendo aqui? Então fui quebrando barreiras e, aos poucos, mostrando a importância de trabalhar corpo e mente - explicou Maria Helena.
A proximidade com os jogadores cria uma intimidade similar à dos familiares. Então, elas precisam conviver com muitas brincadeiras.
- A Mildre não gosta quando eu a chamo e depois finjo que não falei nada. Com a Maria Helena eu brinco mostrando que eu a amo tanto que fiz uma tatuagem, sendo que é o mesmo nome da minha mãe. Também costumo dar uns beliscões na Patrícia - diverte-se o zagueiro Dedé.
Mas se hoje existe a cumplicidade e a convivência pacífica entre os públicos masculino e feminino no Vasco, ela foi conquistada com base no respeito mútuo. Mildre Souza lembra a importância de as profissionais deixaram claro o papel de cada um nessa relação.
- A conduta profissional e o respeito estão sempre à frente. Claro que há dificuldades para uma mulher trabalhar no futebol, mas tenho bastante respeito e não tenho do que reclamar - explicou a nutricionista.
Segundo elas, existe o instinto de proteção dos jogadores em relação às mulheres da comissão técnica do Vasco. Mas em muitos momentos, o comportamento dos atletas mostra que é preciso abstrair as diferenças para que elas vivam com tranquilidade no mundo do futebol.
- Muitas vezes a gente sente um machismo disfarçado. Eles dizem que mulher não pode fazer certas coisas. Mas também em alguns momentos eles se comportam como se nós fôssemos mais um deles. Falam besteiras e não gostam que a gente tenha frescuras. Se nós não levarmos as brincadeiras numa boa, a situação só piora - contou Patrícia.
No entanto, em alguns momentos é à ala feminina que eles recorrem. Seja no momento avaliar o visual antes de uma entrevista ou de servir como ponto de apoio numa questão emocional. Neste momento, as mulheres da comissão técnica vascaína deixam se tornar os parceiros para assumirem o papel de mães ou irmãs.
- Existe essa necessidade de afeto e de verbalizar o que estão sentindo, e eles sabem que estamos aqui para isso também. Também por isso sentem ciúmes de nós e questionam quando alguém que não é do meio se aproxima. Querem sempre nos proteger - atesta a psicóloga vascaína.