Uma criança com a camisa do Manchester City abraça Vania Rodrigues, a Vaninha da Barreira do Vasco. Ela não é Ramón Díaz, mas foi abraçada e cumprimentada aos montes horas antes do time da casa - e da Barreira - golear o Coritiba para fincar de vez os pés contra o rebaixamento.
- Estou preparada para o caldeirão ferver hoje. Não é bonito de ver isso de volta? - diz, orgulhosa, Vaninha.
Presidente da Associação de Moradores da Barreira do Vasco, Vaninha talvez seja a maior responsável pelo movimento que durou três meses até o retorno dos jogos do Vasco em São Januário, depois de interdição no judiciário carioca.
- Ontem, parece que estava em preparativos para meu casamento - contou ao ge, que a acompanhou pelas ruas da Barreira desde antes das 15h.
Vaninha conversava com moradores e donos de estabelecimentos. Ouviu de alguns que nunca viu tanta limpeza nas calçadas como aconteceu neste retorno a São Januário dos jogos do Vasco. As ruas - as tais estreitas mencionadas pelo juiz de plantão que deu parecer, aquele chamado por Vaninha de "manifestações elitistas" - naturalmente têm bandeiras do clube vizinho e marcas associadas ao Vasco, seja em farmácia a restaurantes, até lan houses.
Os preparativos contaram com cooperação inédita entre clube, Prefeitura, forças policiais e de segurança e guardas municipais de todos setores - para se ter ideia de comparação, o bloqueio de ruas e ordenamento para retirar ambulantes de dentro do perímetro das grades, exigiu 180 agentes, o que significa que se multiplicou por cinco o número do que havia contra o Goiás, no último jogo no estádio. O Vasco também aumentou o número de seguranças.
- A gente trabalhava normalmente com a média de 320 segeuranças. A gente subiu para 400 nesse jogo. Aumento de quase 30% - contou Barbara Azevedo, gerente de operações do estádio do Vasco.
O pedido do prefeito
Uma das exigências do Ministério Público para a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) era o início da implantação do reconhecimento facial. O clube calculava cadastramento inicial de 140 pessoas nesta primeira partida, o que significava 10% das 1400 gratuidades. Fez a entrada da 124 pessoas nesta nova modalidade. Para a gerente do Vasco, o jogo em São Januário precisa ser visto como é: um megaevento.
- O jogo aqui é um evento para 30 mil pessoas. É quem está dentro do estádio e quem está fora. Era importante ter esse apoio da Prefeitura e dos órgãos públicos. Era um jogo importante para a gente mostrar que quando o Vasco trabalha em parceria com a comunidade e com os órgãos públicos, a gente tem como fazer o funcionamento ideal e uma operação bacana pra a comunidade, para o Vasco e para os órgãos públicos - afirma a executida do Vasco.
Bar do Arnaldo. Depósito do Diogo. Isopor do Carlos. O tapete do Wilton. São todos pontos de comércio - formais ou informais - ao redor do estádio do Vasco. A grande preocupação - e que fez Vania, da associação, andar por ruas e conversar com ambulantes - era não vender garrafa de vidro. Os carros fora do perímetro, principalmente no espaço da Avenida Roberto Dinamite, deixaram área bem mais livre para circulação de pessoas, que também contaram com participação muito mais ativa de equipes de limpeza da Comlurb.
Vania conta que tomou um susto ao ser alertada às 23h, às vésperas do jogo, de que ainda havia um carro ou outro estacionado em frente à social do Vasco. Soube que foi o próprio prefeito Eduardo Paes quem avistou nas novas câmeras de segurança que ficam ao redor do estádio e mandou retirar. E lá foi Vaninha de manhã cedo resolver o caso.
O espaço para ambulantes
Um outro que ela ainda quer se debruçar diz respeito ao espaço dos ambulantes. Foi medida de prefeitura do Rio de Janeiro para isolar ao máximo a área de circulação de pessoas.
- Eu acho que tem que organizar os ambulantes. Porque ficou bem distante (do público). Eu acho que a demanda do público é tanta que vai gerar desconforto. Pessoal está lá e vai voltar para cá (para comprar) e quando voltar para lá já vai ter mais gente - comentou Vaninha.
O Vasco conta que trabalha com a Barreira para melhor adaptar a questão, mas considera que o mais importante neste momento é movimentar a economia local, sem deixá-los de fora da área de trabalho. Mesmo que um pouco mais distantes.
- Isso tudo fez falta demais. Ontem mesmo uma moradora me falou assim: "Vaninha, essa semana vou poder até ir para a praia com os meus filhos". Eu estou arrepiada. É chegar de noite e dar sabe aquela sensação de dever cumprido, sabe? De você falar assim, estava na luta, eu lutei e hoje posso que demos um passo. Hoje foi esse passo que nós demos - conclui a presidente da Associação de Moradores da Barreira do Vasco.