"Andy", como camisa 77 é chamado pelo argentino devido ao fato de este ter ouvido errado o nome de batismo do meia, tirou o peso das costas do centroavante e o deixou mais descontraído.
Comemorações, abraços, apelido, senso de liderança e muitos gols. Desde que iniciaram a parceria, há sete jogos, Cano e Nenê vêm se entendendo perfeitamente dentro e fora de campo. Como diz o funk das duas principais referências do atual elenco, o Vasco "tá maneiro" com os gols do artilheiro e "ferveu" depois que o camisa 77 apareceu. Ou melhor: reapareceu em São Januário.
Os números apenas evidenciam o que já é bem claro para o torcedor: Nenê e Cano são diferenciados e decisivos dentro do elenco. Desde a estreia do meia, que coincidiu com a chegada do técnico Fernando Diniz, a dupla marcou 66% dos gols do Vasco. Se incluirmos assistências, Cano e Nenê tiveram participação em 77% das bolas na rede no período, de acordo com números levantados por Guilherme Maniaudet, do Espião Estatístico.
Números
° Desde a chegada do Fernando Diniz, o Vasco marcou 9 gols
° Deste 9 gols, 7 gols tiveram a participação de pelo menos um dos dois (77,7% dos gols)
° Foram 3 gols de Cano, 3 gols de Nenê, 2 assistências do Nenê e 1 assistência do Cano
° A assistência de Cano foi para um gol de Nenê e uma das assistências do Nenê foi para um dos gols do Cano (a outra foi para Gabriel Pec)
° Desde que chegou, Nenê participou diretamente de 5 (3 gols + 2 assistências) dos 9 gols do Vasco (55,5%)
° Com Diniz, Cano participou diretamente de 4 (3 gols + 1 assistência) dos 9 gols marcados (44,4% dos gols)
° Antes de Diniz, Cano participou diretamente de 16 (14 gols + 2 assistências) dos 57 gols marcados (28,07% dos gols) na temporada.
° Antes de Diniz, Cano participou diretamente de 7 (6 gols + 1 assistência) dos 27 gols marcados (25,9% dos gols) na Série B.
* Números do Espião Estatístico
Responsabilidade dividida ajuda Cano
Há quase dois anos no Rio de Janeiro, Cano virou referência e conquistou a idolatria no Vasco. Mesmo diante de cenários horríveis, como o rebaixamento para a Série B ou a irregular campanha em 2021, o argentino jamais teve o posto ameaçado. Pelo contrário, foi dos poucos que se salvou e era apontado por muitos como um oásis no deserto vascaíno.
A expressão “Canodependência” não surgiu à toa. No ano passado, Cano marcou quase metade dos gols do Vasco - 24 de 53 (45%). Mas o que impressionou em um primeiro momento passou a ser um fardo na atual temporada. O time precisava excessivamente do argentino. Se ele não funcionava, o Vasco não andava.
A chegada de Nenê contribuiu até para essa questão. Aos 40 anos e com um passado vitorioso no Vasco, o meia assumiu o papel de liderança e passou a dividir a responsabilidade com Cano. O efeito foi imediato. O argentino enfrentava seu maior jejum desde que chegou ao Vasco, ficou 10 jogos sem marcar e desencantou, com um belo gol de letra, logo na estreia de Nenê, no empate por 1 a 1 com o CRB. Desde então, marcaram juntos seis dos nove gols do Vasco.
Cano é ídolo do Vasco, mas talvez por ter convivido pouco com a torcida em São Januário e, principalmente, por seu perfil discreto, sempre foi mais na dele, embora seja super solícito com os torcedores, especialmente com as crianças. Nenê é o contrário. Descontraído, brincalhão e midiático, sabe como poucos lidar com o torcedor. Seja no estádio, nos aeroportos ou redes sociais.
Descontraído Nenê "arrasta" Cano
Nenê lida tão bem com a torcida que tem arrastado o tímido Cano para os braços da multidão. No desembarque em São Luís, por exemplo, o argentino passava rapidamente pelo saguão quando foi puxado pelo companheiro. Juntos, saudaram centenas de vascaínos que no aeroporto e repetiram a dose no estádio. De quebra, Nenê filmou tudo e postou nas redes sociais. O tímido Cano, ainda que um pouco sem jeito, se soltou.
A relação é tão boa que rendeu um apelido personalizado, ainda que tenha nascido de uma má compreensão da língua portuguesa por parte do argentino. Ao ouvir Nenê sendo chamado de Anderson (seu nome de batismo), Cano compreendeu “Andy” e, desde então, o chama assim. Após a vitória sobre o Coritiba, Nenê até brincou.
- Ninguém sabe isso aí, cara – disse Nenê.
Cano, cada vez mais solto, deixou o companheiro falar primeiro na entrevista.
- Primeiro os mais velhos – disse o argentino, arrancando risadas de Nenê.
Aula de dança para o argentino
Outra prova de que não se desgrudam Nenê e Cano têm dado nos aquecimentos dos jogos em São Januário. Na vitória por 2 a 0 sobre o Goiás, a Vasco TV flagrou o camisa 77 dançando o funk "Uh, tá maneiro, Germán Cano é artilheiro" enquanto o tímido argentino retribuía com o tradicional tchauzinho.
Também contra os goianos, o maestro de Fernando Diniz tratou de reger a torcida após o apito final ao cantar junto com ela: "Olê, olê, olê, olá (2x), a cada dia te quero mais. Sou vascaíno, e o sentimento não pode parar".
No último jogo na Colina Histórica, Nenê voltou a fazer o "ombrinho" quando a torcida cantava a música de Cano. Não se sabe se por influência do meia, mas a comemoração do primeiro gol contra o Coritiba já foi mais soltinha, e o gringo imitou uma pantera. Depois disso, adivinha quem ele abraçou?
No lance do gol da vitória, em que os dois participaram, o camisa 77 primeiramente ganhou um pulo no cangote de Cano, ajoelhou-se para agradecer posteriormente e, ao ouvir o tradicional "Ih, f..., o Nenê apareceu", já saiu no passinho do funk. O argentino só não aprende se não quiser.
Dupla de quase 90 gols
Recém-formada, a dupla fez apenas sete jogos, mas caminha para deixar sua marca no clube. Somados, os dois já marcaram 88 gols pelo Vasco.
Em sua segunda passagem por São Januário, Nenê já balançou as redes em 46 oportunidades. Cano está logo atrás, com 41 gols. Os dois, aliás, estão entre os maiores artilheiros do Vasco no século XXI. Ficam atrás apenas de Romario (131), Élton (52) e Leandro Amaral (51).