Nilson Gonçalves. O nome é de um supervisor da base do Vasco, com mais de 30 anos de serviços prestados ao clube. Mas nesta semana ele ganhou outra faceta: a de um homem acusado de angariar pessoas para se tornarem sócias do clube sem o devido pagamento legal. Ele foi citado em depoimentos por três pessoas que dizem ter se associado ao Cruz-Maltino de forma irregular - duas delas diretamente através do funcionário vascaíno.
Para Eurico, o procedimento de Nilson não teve nada de ilegal. O presidente defendeu seu aliado em entrevista coletiva na última quinta-feira.
- Por que tenho que conversar com Nilson, com José...? Se foi aliciado por A, B, C... o que isso implica? Ninguém recebeu um centavo. Se teve aliciamento, eu vou logo dizendo. Se o Nilson fez, não vejo nada de irregular. Se for fazer campanha para alguém, você procura e não vai ser aliciador.
Antigo homem de confiança
Nilson é homem de confiança de Eurico Miranda. Trabalhou de 1983 a 2007 no Vasco e chegou a ser supervisor de futebol do elenco profissional. Ele deixou o clube após Roberto Dinamite assumir o poder. Em 2015, retornou junto com Eurico. Entre 1994 e 2003, também trabalhou nas divisões de base da CBF.
A ligação de Nilson com o atual presidente do Vasco já lhe rendeu polêmicas. Em 2001, por exemplo, ele foi um dos investigados na CPI do Futebol. Na época, Eurico foi acusado de desvio e apropriação indevida de recursos financeiros – depois, foi absolvido.
O nome de Nilson surgiu porque alguns pagamentos do Vasco haviam sido feitos na conta de sua empresa, Brazilian Soccer. Ele chegou a ser interrogado, suspeito de ser um “laranja” de Eurico.
Passagem pelo Duque de Caxias
Mesmo no período em que Eurico esteve afastado de São Januário, eles não perderam os laços. Nilson foi para o Duque de Caxias junto com diversos funcionários que deixaram o Vasco após a chegada de Dinamite.
No clube da Baixada, ele trabalhou como gerente de futebol numa época em que seu sobrinho, Rodney Gonçalves, virou treinador da equipe, com Álvaro Miranda, filho de Eurico, como auxiliar. Os times chegaram a se enfrentar na Série B em 2009, inclusive.
Sobrinho treinador
No retorno de Eurico ao Vasco, Rodney virou técnico do sub-20 cruz-maltino. Entretanto, nunca foi unanimidade entre os jogadores. Há relatos de discussões de algumas das promessas com ele. Ele deixou o cargo no fim de 2016 e foi fazer um curso na Europa.
Rodney, por exemplo, era um dos mais exaltados na eleição do Vasco. Num dos poucos momentos de tensão, ele discutiu com Faues Mussa, benemérito de oposição que queria permanecer no ginásio durante a apuração, mesmo sem ter credencial para isso. Veja no vídeo abaixo:
Embora Rodney não tenha sido unanimidade, pessoas que trabalham com Nilson no Vasco não fizeram queixas sobre seu trabalho. Ele é relatado como um dirigente tranquilo e de bom relacionamento com os funcionários.
Raízes em Magé
Nilson foi citado por três depoentes. Dois deles dizem que viraram sócios a partir dele e que, inclusive, buscaram suas carteirinhas na residência do dirigente. O terceiro afirma que foi procurado por Cláudio Marcelo de Oliveira, mais conhecido como Grilo, um mecânico de automóveis de Magé.
Grilo seria conectado a Nilson, que o teria apoiado na última campanha para vereador da cidade. O dirigente do Vasco tem raízes no município e chegou a ser presidente de um clube de futebol local – o Grande Rio Brescia Clube Ltda.
Magé é a segunda localidade com mais sócios na lista de 691 sob suspeita em ação na Justiça. Ao todo, 35 pessoas da relação têm a cidade no endereço informado ao Vasco. Apenas São João de Meriti, com 38 associados, aparece mais vezes.
O GloboEsporte.com tentou por dois dias contato com Nilson para ouvir sua versão, mas não obteve sucesso. A reportagem também buscou uma resposta através da assessoria de imprensa do Vasco, mas não foi possível.