Futebol

'No va a bajar', 'Vamos à final'... As frases de Ramón Díaz

O povo argentino sabe como poucos valorizar e dar tom a uma história, com todo o drama e a emoção - desde os tangos até o cinema. Na epopeia do Vasco na luta contra o rebaixamento no ano passado, em uma situação quase impossível de ser revertida, os protagonistas Ramón Díaz e Emiliano salvaram o clube do descenso, em uma campanha marcada pelo lema "no va a bajar".

- Vasco, toc toc toc (três toques na mesa), no va a bajar - cravou e cumpriu Ramón Díaz.

Isso o torcedor do Vasco já sabe que Ramón Díaz cumpriu. O que muitos torcedores não sabem é que o treinador argentino tem um repertório vasto de frases marcantes desde a época do River Plate.

A última promessa e frase marcante de Ramón, treinador do Vasco, foi a de garantir a classificação da equipe para a final do Campeonato Carioca. Após um empate no qual o Nova Iguaçu foi melhor, o técnico argentino foi para a sala de coletiva, deu entrevista à imprensa - o que não foi muito comum em 2024 - e cravou a classificação para a decisão estadual, mais uma vez batendo na mesa.

- Venham para o estádio porque o Vasco vai chegar à final (bate na mesa). Podem vir. O Vasco chegará à final no domingo. Algo mais? - questionou o treinador à imprensa.

Se o Vasco chegará ou não à final, depende da partida contra o Nova Iguaçu, que acontecerá no domingo, às 16h, no Maracanã. No entanto, as frases de Ramón Díaz e Emiliano serviram para tranquilizar alguns torcedores após a atuação ruim na primeira semifinal.

Esta não foi a primeira, nem a segunda, e provavelmente não será a última frase que Ramón Díaz irá emplacar no Vasco após um resultado adverso. Quando tudo parecia perdido após a derrota para o Corinthians, no Brasileirão do ano passado, o treinador dobrou a aposta e disse que estava convencido que não cairia, até porque a rodada ainda teria outros jogos. E deu certo.

- Estou convencido de que não vamos cair. Ainda há seis pontos em disputa e temos que esperar os jogos das outras equipes. Vamos esperar os outros resultados - tranquilizou Ramón.

Nos vídeos de bastidores em vitórias do Vasco, broncas e conselhos de Ramón Díaz já viralizaram também. Em um dos mais famosos, o treinador argentino apareceu motivando o time após a vitória por 4 a 2 contra o Fluminense, no Brasileirão de 2023, afirmando que o clube pode competir com qualquer time do Brasil.

"Vasco está para competir, gente, para competir con cualquiera. Con cualquiera tenemos que competir. Es un gran club este, tienen que competir, caraj*", gritou Ramón Díaz.

Emiliano, filho de Ramón, também emplacou frases na torcida vascaína. Por meio das redes sociais, o auxiliar técnico do Vasco viralizou com os lemas "lo mejor está por venir" e "se quiserem que desistamos, terão que matar todos nós".

Desde o River Plate

Se no Vasco, em menos de um ano, Ramón e Emiliano Díaz já emplacaram diversas frases e lemas na torcida, no River Plate, onde o treinador é um dos maiores ídolos do clube, não seria diferente.

Ramón Díaz é um dos maiores jogadores e treinadores da história do gigante argentino e até hoje tem frases e momentos marcantes no River Plate.

"Que diferente somos de los bosteros"

É claro que um dos dizeres mais reproduzidos pela torcida do River é contra o Boca Juniors, em uma das maiores rivalidades do mundo. No caso, a autoria da frase é de Ramón Díaz, atual técnico do Vasco, que valorizou a festa da torcida milionária em comparação aos festejos da torcida "bostera", forma pejorativa com a qual os torcedores do River se referem aos rivais.

- Acho que foi um espetáculo do River Plate, as pessoas, o público, o clima, o estádio. Como somos diferentes dos "bosteros". Terríveis. (River jogou melhor?) Você acha que não? Nunca vi um time com tanto medo - disse Ramón, ao provocar o Boca Juniors.

O Boca Juniors é um alvo das provocações de Ramón Díaz desde sempre. Uma "rivalidade pessoal" do treinador argentino foi Maurício Macri, ex-presidente da Argentina e ex-diretor do Boca Juniors. Multimilionário, o mandatário comandou o clube rival do River de 1995 a 2007, período em que rivalizou com o time de Ramón.

- Isso é para Macri, não basta ter dinheiro, é preciso jogar um bom futebol - disse Ramón Díaz para Macri, em entrevista após vencer a Libertadores de 1996 em cima do América de Cali.

Parte do folclore do futebol argentino dos anos 90 e 2000, a rivalidade entre Díaz e Macri tinha apostas quase antes de todos os clássicos. Em uma delas, em 1999 às vésperas de um Superclássico, Ramón colocou em cheque um carro de luxo, ao propor a aposta com o mandatário do Boca ao vivo em uma televisão argentina.

- Para ele (Macri), quero fazer uma aposta, vou apostar aqui porque sei que o River vai ganhar, uma "mercedita" - levantou a aposta Ramón, com a miniatura de um carro.

- Vamos apostar 10 mil dólares, se eu ganhar eu lhe direi onde doar e, se não ganhar, faça o que quiser - rebateu Macri.

- Se ele estiver disposto a pagar uma Mercedes, sim, eu aceito, mas não aceito os 10 mil dólares - respondeu Ramón.

A partida foi disputada no Monumental e vencida pelo River por 2 a 0. Macri pagou pela van, que foi recebida por Ramón Díaz e sorteada entre a equipe, acabando nas mãos de Víctor Zapata.

"Que o River empate e o Boca Juniors ganhe"

Ramón Díaz nunca teve receio de fazer frases impactantes em momentos decisivos. Na rodada final do Torneio de Abertura do Campeonato Argentino 1997, o River Plate precisava de um empate para se sagrar campeão. O Boca, segundo colocado, precisava de uma derrota 'millionaria' e de uma goleada.

- Eu gostaria que o Boca ganhasse e o River empatasse, porque eles ficariam um ponto atrás no final, e para os torcedores do Boca haveria um gosto amargo. Que o Boca vença com uma goleada neste domingo - disse Ramón antes da partida.

O fim da história? O Boca Juniors venceu o Unión por 4 a 0, e o River Plate empatou o seu jogo em 1 a 1 com o Argentinos Juniors. Título argentino para Ramón Díaz e companhia.

Dois anos depois, um cenário parecido. O River Plate precisava de um empate contra o San Lorenzo, na casa do adversário, para se sagrar campeão. O Boca Juniors, perseguidor durante toda a competição, precisava de uma vitória e de uma derrota do rival.

A equipe repleta de jovens talentos, como Pablo Aimar, Javier Saviola e Juan Pablo Ángel - que um ano antes havia sido eliminada na semifinal da Libertadores de 1998 para o Vasco, abriu 2 a 0 na casa do San Lorenzo. Com o placar, a torcida mandante começou a tacar bombas no gramado e sinalizadores.

O árbitro Horacio Elizondo paralisou a partida aos 17 minutos do segundo tempo e cogitou suspender o jogo, então a final só seria realizada em outro dia. Revoltado com o acontecido, Ramón Díaz bateu o pé na beira do campo e disse que o jogo deveria seguir.

- O que pensa de tudo o que está passando aqui? - questionou o repórter:

- Lamentável por todos que vieram ao estádio. Cobraram 80 "mangos" para os torcedores do River Plate entrarem aqui. Oitenta pesos. Tudo o que queremos é que haja a partida - respondeu Ramón.

- Qual você acha que será a decisão do árbitro? - indagou o repórter novamente.

- Não sei. Sei que na terça-feira saio de férias, entendeu? - respondeu enfaticamente "El Pelado".

Resultado: o San Lorenzo empatou a partida após o reinício do jogo no mesmo dia, mas o 2 a 2 deu o título do Abertura de 1999 ao River Plate. O Boca Juniors tropeçou e terminou na terceira posição.

- Vencer o Boca, estar um ponto na frente deles e fazer com que as pessoas comemorem é ótimo - disse o técnico.

- Gosta de saber que o Central ficou em segundo lugar, e não o Boca - pergunta o repórter.

- Ficaram em terceiro?? - questiona Ramón Díaz dando risadas.

Também há a frase que virou provocação do torcedor do River Plate para o Boca. A imprensa argentina comentou que o adversário iria com um time reserva, formado por jovens, o que não aconteceu. Após o término da partida em 1 a 1, com um saco de pirulitos na mão, Ramón brincou:

- Para todos os jovens do Boca, porque eles disseram que iriam jogar com jovens contra nós, eu trouxe esses pirulitos, mas vejam o time com o qual eles jogaram - ironizou Ramón.

Agora, Ramón Díaz e Emiliano estão no Vasco. Apesar de não esconderem o carinho pelo River Plate, clube o qual torcem desde a infância e são ídolos, os dois têm um carinho especial pelo clube carioca, e a torcida vascaína retribui de forma recíproca. Na partida contra o Água Santa, o nome dos dois foi cantado pelos torcedores, gesto que emocionou Emiliano e Ramón.

Para a tentativa de cumprir mais uma profecia de Ramón Díaz, o Vasco entra em campo contra o Nova Iguaçu no domingo, às 16h, no Maracanã. A partida é válida pelo jogo de volta das semifinais do Carioca. O Vasco precisa vencer para avançar à final da competição.

Fonte: ge
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