Adversários na campanha, aliados no Conselho Deliberativo. A eleição para a Mesa Diretora revelou a união entre os grupos políticos Mais Vasco (Jorge Salgado) e Sempre Vasco (Julio Brant), algo especulado na época eleitoral e que nunca se confirmou.
Os dois grupos acordaram que, após a posse de Salgado como novo presidente, a prioridade no Conselho é reformar o estatuto. Representantes dos dois lados revelaram entender que o cenário será de tranquilidade mesmo que apoiadores de Leven Siano tentem reverter o quadro eleitoral na Justiça - há uma ação no Supremo Tribunal Federal que carece de decisão.
O exemplo mais claro do acordo foi a presença de Renato Brito, um dos líderes da Sempre Vasco, na única chapa que se apresentou para formar a Mesa Diretora - ele assumiu como vice-presidente do Conselho. Na campanha eleitoral, a Mais Vasco indicou Carlos Fonseca à presidência, com Leandro Coutinho como vice. Leandro, após o entendimento, virou segundo secretário - Marcelo Rocha, primeiro secretário, completou a formação.
- O Carlos Fonseca é meu amigo, temos relacionamento próximo. Eles (Mais Vasco) entenderam que era bom ter o contraponto na Mesa. E isso poderia dar uma mensagem de união no clube. Partiu dele (Carlos), algo endossado pelo presidente Salgado. Não é um recado de adesão à gestão. A Sempre Vasco não aderiu à gestão, ela continua como oposição responsável. Mas é um recado importante de união para fora e para dentro. Estou pronto para honrar o mandato e ajudar a reformar o estatuto - explicou Renato Brito.
Julio Brant, candidato da Sempre Vasco derrotado na luta pela presidência, em discurso no Conselho, disse que o Vasco está "mais unido do que nunca" o que, no entender dele, é "um recado a todos que querem o caos". Mesmo com uma série de disputas judiciais questionando o processo eleitoral, Brant criticou uma manchete do ge que apontou a divisão interna no clube. Os números da formação do novo Conselho apontam uma tendência ao entendimento, mas não significa que alguns pontos da reforma não possam gerar divergências.
A Mais Vasco elegeu 120 conselheiros. A Sempre Vasco, 30. Outros 150 conselheiros natos, alguns ligados a Leven, completam o quadro.
- Com esse Conselho, a gente tem todas as possibilidades de fazer a reforma tão sonhada. Temos de colocar os pontos em debate. Vou tentar fazer isso no primeiro semestre - resumiu Salgado.
Na gestão de Roberto Monteiro, até então presidente do Conselho, a reforma do estatuto foi debatida. Algumas sessões tiveram brigas e confusões. No final, a tentativa fracassou à exceção da aprovação da eleição direta para presidente.
- No último triênio, vimos reuniões confusas, conduzidas de forma autoritária. Acho que a gente inaugura um triênio para que mudanças sejam feitas. Precisamos atualizar o estatuto, precisamos de modernidade. E temos um grupo de conselheiros, os eleitos e os natos, que vai conseguir, afinal, concordavam bastante em vários temas. Temos tudo para colocar em análise no Conselho, e aí é uma questão política. É no voto - acrescentou Carlos Fonseca.
O direito a voto do sócio-torcedor, a votação à presidência de forma online e a proibição que conselheiros mantenham direito a voto caso sejam contratados e passem a ser remunerados pelo Vasco são alguns dos temas que devem monopolizar o debate da reforma. Para ela ser aprovada, precisa de 2/3 dos votos do Conselho.
- A intenção é de que façamos isso nos primeiros seis meses. Temos de avaliar a situação política, mas tendo 150 conselheiros alinhados no propósito de reformar... é mais fácil - finalizou Renato Brito.