Após uma verdadeira novela que envolveu o nome de muitos treinadores, o Tottenham finalmente anunciou seu novo comandante: Ange Postecoglou.
Sua chegada se dá após as recusas de Julian Nagelsmann e depois de Arne Slot, que preferiu renovar seu contrato com o Feyenoord. Sem opção, o clube buscou o australiano, que aos 57 anos, comandará sua primeira equipe na Premier League após um excelente trabalho no Celtic.
Lá, ele venceu cinco dos seus títulos que disputou na Escócia: o Campeonato Escocês e a Copa da Liga Escocesa em 2021/22 e 2022/23 e a Copa da Escócia em 2022/23.
A conquista do "Treble", como a tríplice coroa é chamada na Grã-Bretanha, fez de Postecoglou ídolo da torcida, que também torceu o nariz no momento de sua chegada.
Refugiado de ditadura militar e vascaíno por opção
O estilo de jogo rápido e envolvente dos escoceses atraiu os Spurs, que buscam uma virada de chave após a passagem de Antonio Conte. Além de lutar contra divisões internas, o clube quer um treinador capaz de construir um DNA mais ofensivo e que aproveite jovens como Mauricio Pochettino fez em seus anos.
Natural de Atenas, ele chegou na Austrália aos cinco anos e fez carreira como jogador no South Melbourne, onde assumiu como treinador e venceu 4 campeonatos, inclusive a Copa da Oceania em 1999. Ange inclusive foi o treinador da equipe no primeiro Mundial de Clubes da FIFA em 2000.
Ele até revelou, durante a Copa do Mundo de 2014, que se declara torcedor do Vasco, clube que enfrentou como treinador no Mundial de Clubes da FIFA em 2000, no comando do South Melbourne. O ge presenteou o técnico com uma camisa do clube na época.
Para um time australiano foi algo muito especial. Um momento singular. Conheci o Vasco nessa excursão e peguei uma simpatia grande. Desde então comecei a acompanhar para saber os resultados.
— Ange Postecoglou, em declaração durante a Copa do Mundo de 2014
O bom trabalho na Austrália na Copa de 2014, com jogos eletrizantes contra o Chile e a Holanda, fez a fama do treinador na Ásia. Ele findou um jejum de 15 anos sem a J-League com o Yokohama Marinos em 2021, com vários jovens da base e um time ofensivo e rápido. Foi o que chamou a atenção do Celtic.
Preferência pelo 4-3-3 e estilo envolvente
O Celtic campeão de praticamente tudo na Escócia jogava sempre um 4-3-3. Na última temporada, Jota e Abada eram os pontas, com Furuhashi como centroavante - ele foi um pedido especial de Ange nos tempos de futebol japonês.
Jogando sempre numa postura avançada dentro e fora de casa, o Celtic começava suas jogadas com o time bem avançado. Os laterais circulavam mais por fora enquanto dois meias se aproximavam para pensar o jogo.
Geralmente era O’Riley que vinha buscar a bola de McGregor, o primeiro volante. Ambos tinham bastante liberdade de movimentação e trocavam: um avançava, o outro recuava.
Isso fazia com que o Celtic tivesse muito volume de jogo: finalizações e chegadas a toda hora.
Sem a bola, Ange gosta de equipes que não marquem tanto lá na frente. Ele prefere uma retomada rápida da bola, mas se o time não rouba, todo mundo volta e fecha o 4-3-3 de forma bem compacta.
No Tottenham, o esquema usado deverá mudar para encaixar Richarlison, Kane e Son, jogadores que gostam de jogar por dentro, como primeiro ou segundo atacante.
Outro ponto forte dos times que treinou era a bola parada. O Celtic abriu muito placar assim, e com a vantagem, controlava o jogo e chegava a mais gols - o ataque extremamente positivo no Campeonato Escocês é algo para animar os torcedores dos Spurs.
Apesar dos traumas recentes, o Tottenham sabe que o treinador é o menor dos problemas.
Por lá passaram técnicos promissores (Nuno Espírito Santo), treinadores com excelentes trabalhos (Antonio Conte) e um mito do futebol (José Mourinho). Mas será com um greco-australiano que a equipe tentará sua reconstrução em busca de um tão sonhado título.