Juninho e Seedorf inegavelmente eram as figuras centrais do clássico entre Vasco e Botafogo de ontem. Resumir, porém, a partida nesses dois craques não é postura de mídia responsável. É preciso se ter em mente que o maior duelo não era entre esses dois jogadores, mas sim entre duas das maiores equipes do futebol carioca, brasileiro e mundial.
Vasco e Botafogo, ambos em um bom ano, credenciados à grandes objetivos no Campeonato Brasileiro, prometiam fazer um jogo extremamente equilibrado. Principalmente no meio de campo.
Enquanto o Botafogo tem jogadores de meio de campo como Renato, Seedorf, Andrezinho, Vítor Júnior e Elkeson; o Vasco tem Juninho Pernambucano, Wendel, Carlos Alberto e Éder Luís. Grandes jogadores dos dois lados. Mas como se sabe, no futebol não se basta ter bons jogadores. Tem de saber jogar!
Nesse sentido, o Vasco deixou a igualdade da qualidade técnica de lado. Superou o Botafogo na organização de jogo. Cristóvão Borges, apesar de duramente criticado, sabe montar equipes. Ontem, novamente, o organizado time vascaíno trouxera uma estratégia de jogo interessantíssima.
O Botafogo também era organizado. A estratégia de Oswaldo também era boa. Só não foi melhor que a de Cristóvão, que soube, e muito bem, usar todas as suas armas e anular as do adversário.
Para tal, o treinador vascaíno escalou o time em um 4-3-2-1 (esquema amplamente utilizado desde a chegada de Ricardo Gomes). O 4-3-2-1 era maleável, no sentido que dava liberdade para Carlos Alberto jogar tanto pelo lado esquerdo quanto pelo centro. Maleável, também, pela liberdade dos volantes Nílton, Juninho e Wendel atacarem.
Um ponto alto desse novo, refeito, mas não descaracterizado Vasco, é a mudança nas laterais. Fágner e Thiago Feltri deram lugar à Auremir e William Matheus. A mudança não foi só nos nomes. Implicou muito mais que isso.
Os novos laterias vascaínos possuem características bem diferentes das dos antigos. Enquanto Fágner e Thiago Feltri eram ofensivos e muitas vezes deixavam espaços vazios na retaguarda; Auremir, originalmente volante, e William Matheus, por muitas vezes zagueiro, são defensivos. Prezam pela marcação. Sobem menos para o ataque, e deixam pouquíssimos espaços atrás.
A mudança não alterou somente a forma de jogar pelos lados de campo. Ela deu liberdade para Nílton, Wendel e Juninho jogarem mais soltos. É nitidamente perceptível a subida de produção dos volantes do time. Logicamente que a entrada de Wendel também ajudou bastante e deu muita qualidade ao meio de campo. Mas as mudanças nas laterais foram ainda mais fundamentais.
Com laterais presos, meio de campo participativo, Carlos Alberto com liberdade, o Vasco enfrentou o Botafogo da seguinte maneira:
Do lado botafoguense, Oswaldo se preocupou principalmente com seu meio de campo. O treinador ainda vive um dilema: como escalar Seedorf da melhor maneira? A ideia da vez foi sacar Felipe Gabriel e liberar Andrezinho para a criação de jogadas.
Na nova configuração tática, o Botafogo tentou um ChristmasTree (Famoso esquema Arvore de Natal. 4-3-2-1 com meias ofensivos centralizados). A ideia era, de fato, muito boa, a execução, porém, esbarrou em alguns detalhes. Como, por exemplo, a não adaptação de Renato à nova função.
Para a segunda etapa, o Vasco se manteve no seu bem montado esquema de jogo. Já o Botafogo, mudou do 4-3-2-1 para um 4-2-3-1, recuando Seedorf.
O esquema deu poder ao time alvinegro. Insuficiente, porém, para deter a solidez, inteligência e aplicação tática dos comandados de Cristóvão Borges que, contemplados com a raça de Juninho Pernambucano, chegou ao gol da vitória com Alecsandro. 1 a 0 Vasco. Vitória para quem se organiza e sabe o que quer.
Vitória para o burro com sorte que faz um excelente trabalho, mesmo com todas as dificuldades de perdas e desfalques.
por Igor Rufini
em A Prancheta