Ano eleitoral historicamente movimenta os bastidores do Vasco, mas a venda da SAF para a 777 Partners mudou as regras do jogo. O próximo presidente não terá mais o controle do futebol, o que consequentemente influencia no interesse em relação ao pleito. Mas ainda há muito em jogo. Especialmente a sobrevivência do clube associativo.
O Vasco associativo não interfere mais nas principais decisões do futebol, mas tem uma participação significativa. O clube ainda é dono de 30% da SAF e tem duas cadeiras no Conselho de Administração da Vasco SAF, hoje ocupadas pelo atual presidente Jorge Salgado e pelo segundo vice-geral, Roberto Duque Estrada.
O fato é que a SAF pautará a eleição do Vasco. A oposição, por exemplo, começa a se articular, adota o discurso de “resgate do clube” e busca por uma forma de ruptura com a 777. A relação com a empresa americana e o desempenho em campo ao longo do ano tendem a ser decisivos na disputa presidencial de novembro, na opinião da maioria dos agentes políticos ouvidos pelo ge. A votação ainda não tem data definida.
A composição da SAF tem causado divergência nos bastidores até mesmo nos grupos favoráveis. A venda ou manutenção de 20% da SAF por parte do clube associativo é tema de debate interno e tende a ser definitivo na formação de eventuais alianças. Há quem acredite que o Vasco não deve vender seus ativos, mas há também quem veja esse como o melhor caminho. O Vasco hoje tem 30% da SAF e, por lei, é obrigado a manter 10%. A 777 tem 70% e o controle.
Jorge Salgado isolado
É muito improvável que Jorge Salgado busque a reeleição. O atual presidente tem dito aos pares que está realizado com a conclusão da venda da SAF e não sinaliza interesse em participar de uma nova eleição. Politicamente, inclusive, ele não teria apoio da maioria dos grupos que compôs a “Mais Vasco”, chapa vencedora das eleições em 2020. Entre os antigos aliados, há muitos questionamentos sobre a forma como Salgado comandou o clube nos últimos anos.
Para muitos, Salgado está “isolado politicamente” por três motivos: o desempenho do futebol em sua gestão; a reforma administrativa realizada no ano passado, que desagradou muita gente; e, principalmente, a divisão criada entre seus aliados no processo de venda para a 777. Alguns se sentiram excluídos do debate e houve uma debandada de vice-presidentes.
A reunião do Conselho Deliberativo, na última quinta, expôs o racha. O presidente não conseguiu aprovar o aumento da mensalidade, que hoje representa mais de 50% das receitas do clube, e não teve apoio de antigos pares, que chegaram a propor uma comissão para avaliar o caso. Salgado, no entanto, não aceitou e pediu para que a votação tivesse apenas as opções “sim” ou “não”, o que surpreendeu até seus pares mais próximos. Acabou derrotado por 102 a 37.
Nome de Osório ganha força
Confraria, PetroVasco, Vasco do Povo e Resgata Vasco formaram a base eleitoral de Salgado em 2020. Os grupos romperam com o Desenvolve Vasco por conta do relacionamento com o ex-VP de Finanças, Adriano Mendes, mas caminham juntos para a próxima eleição. Ainda não há um candidato definido, mas o nome de Carlos Roberto Osório, atual vice-presidente, tem muita força internamente.
Osório, no entanto, não se manifestou sobre o interesse em participar das eleições, mas há quem o veja como nome ideal e sucessor natural, por ser muito ativo na atual gestão e por se tratar de um dos poucos dirigentes do clube associativo com um bom relacionamento e boa entrada com a 777. Ele tem trabalhado junto com a empresa americana, por exemplo, nas questões envolvendo Maracanã. A aliados, no entanto, confidenciou que não sabe se teria disponibilidade por razões profissionais e pessoais.
Osório também sempre se mostrou muito leal a Jorge Salgado, e aliados acreditam que ele somente sinalizaria com uma possível candidatura após o atual presidente oficializar que não estará na disputa no fim do ano. Isso, no entanto, não deve ser problema. O próprio Salgado, em conversas informais, indicou que gostaria de fazer de Carlos Roberto Osório seu sucessor.
Outros nomes ouvidos como fortes pela reportagem do ge foram o do atual 2º vice-presidente, Roberto Duque Estrada, e o de Vitor Roma, ex-VP de Marketing. Vitor, no entanto, se mudou recentemente para São Paulo por questões profissionais e sua candidatura é inviável no momento.
Eduardo Cassiano lança candidatura
Fato é que ainda há poucas definições, mas muitas conversas em andamento. A Confraria, por exemplo, tem tido encontros com a Sempre Vasco, grupo que teve Julio Brant como candidato nas últimas três eleições.
Em pauta a busca por uma convergência em relação a pontos importantes no Conselho Deliberativo, especialmente a reforma do estatuto, e uma possível renegociação de alguns pontos do contrato com a 777, apontadas como “excessivas” por conselheiros. Uma aliança para as eleições é difícil, mas não está descartada.
Por ter sido o nome da Sempre Vasco nas últimas três eleições, Júlio Brant sempre é apontado como possível candidato, mas no momento ainda não há debate sobre o tema. Júlio passará o primeiro semestre na Europa em compromissos profissionais.
Quem pretende concorrer no fim do ano é o conselheiro Eduardo Cassiano, eleito na chapa da Sempre Vasco. Cassiano se desligou recentemente do grupo e pretende dialogar com sócios influentes para formar sua chapa. Ele já tem material de campanha.
Cassiano, que surge como uma espécie de terceira via, votou a favor da SAF, mas recentemente tem levantado questionamentos sobre a condução do futebol. Ele foi, por exemplo, um dos signatários de uma recente carta endereçada a Jorge Salgado sobre a falta de transparência sobre o orçamento do futebol para 2023.
- Realmente pretendo representar a terceira via, com experiência de Vasco na próxima eleição, através de uma candidatura propositiva e sem ataques aos outros candidatos, respeitando o adverso. Brevemente convidaremos vários vascaínos para juntos construirmos um projeto que fortaleça os esportes olímpicos, paraolímpicos e amadores. Contamos com os melhores profissionais para desenvolver projetos incentivados, via ICMS através do Governo Estadual, e IR no Governo Federal, além de excelentes parceiros na área privada. Assim reforçaremos laços com a comunidade e voltaremos a ter um clube associativo forte - disse Eduardo Cassiano, que se mostrou a favor da SAF, mas prometeu fiscalização.
- Em relação ao futebol, somos detentores de 30% da SAF e temos um sócio com 70% das ações. Esta mudança foi aprovada por 80% do quadro social, pretendo fortalecer a parceria com a 777, mas sem deixar de acompanhar se tudo que foi prometido oficialmente, está sendo cumprido - completou o pré-candidato.
O discurso de resgate do Vasco será a bandeira da oposição. A ideia é que o Vasco tem que ser dos vascaínos. Uma ala entende que o caminho é a ruptura com a 777 Partners ou ao menos readquirir 21% da SAF para que o clube volte a ter o controle do futebol. Outra corrente defende que o primeiro passo é abrir o contrato na íntegra para os sócios. Somente após o entendimento completo do acordo seria possível ver o que pode ser feito.
Ainda não há alianças formadas ou um candidato definido, mas Leven Siano é um nome natural, de acordo com agentes da oposição ouvidos pela reportagem, e deve ter apoio de grupos influentes, como o Fuzarca, caso se candidate.
Há um entendimento de que com candidato único com a bandeira contra a SAF a oposição teria mais chances de vitória nas eleições. E nesse cenário Leven desponta como o nome mais influente pelo desempenho na última eleição. Ele ainda não confirma que vai concorrer, mas sinalizou a grupos aliados a intenção.
Candidato na última eleição e também contrário à SAF, Sérgio Frias não descarta uma nova tentativa, mas também entende que, com um candidato único, a oposição teria mais chances de sucesso, desde que haja convergência nas ideias.