Amados e idolatrados por uns, odiados e execrados por outros. Eurico Miranda, para o Vasco, parece estar como Fidel Castro sempre esteve para Cuba, durante seus 49 anos de poder inabalável. Mas, ao contrário do ditador cubano, de 81 anos, que jogou a toalha por problemas de saúde, Eurico é duro na queda e continua absoluto.
Aos 63 anos, já são três décadas de um poder que teve origem em 1979, como assessor do então presidente Alberto Pires Ribeiro. Depois de perder eleições para Antônio Soares Calçada, Eurico foi convidado por ele, em 1986, e assumiu a vice-presidência de futebol do clube.
Chegar à presidência do Vasco foi fácil, em 2000. Até ser reeleito nas eleições de 2006, que estão sub judice, por suspeita de fraude. E ao contrário de Fidel, que sucumbiu a um câncer no intestino, Eurico superou sérios problemas de saúde.
Formados em Direito, fãs de charutos, líderes por natureza, eles são donos de estilo centralizador, de decisões pessoais e polêmicas. Eurico eternizou a camisa 11 para Romário e fincou uma estátua em homenagem ao Baixinho em São Januário.
Mas se alguém se insurge, está ‘out’, como costuma dizer o líder vascaíno. Roberto Dinamite caiu em desgraça por se tornar oposição.
Se em Cuba o regime censura a liberdade de imprensa, no Vasco, Eurico institui a ‘lei da mordaça’, impondo silêncio a jogadores e comissão técnica, que tudo aceitam.
“Não dou mais entrevistas. E desautorizo qualquer integrante da minha chapa a falar. No Vasco quem manda sou eu. É ditadura! Nada de novos tempos. Aqui o que reina são ‘os velhos tempos’, bradou, após a divulgação do resultado da eleição de 2006.
Em 2000, ele tentou obstruir os trabalhos das CPIs do Futebol na Câmara e no Senado, e também insultou o então governador Garotinho, por ocasião da queda de parte do alambrado de São Januário na final da Copa João Havelange, contra o São Caetano. A exemplo de Fidel, que passou o poder para Raúl Castro, seu irmão mais novo, no Vasco, Eurico também já inicia uma transição em família, preparando Euriquinho, o filho mais novo, como seu futuro sucessor.
FIM DO SILÊNCIO - Alfredo Sampaio quebrou o silêncio, ontem, e falou sobre a crise com Edmundo, que abandonou o treino de sexta-feira. Ele garantiu que foi dele a ordem para o Animal sair de campo. “Não sou um sargento, mas não aceito indisciplina. Edmundo é importante para o time, mas tem pavio curto”, disse Sampaio. Ontem, o Animal foi ao clube, mas só fez musculação. Ele, que é presença incerta contra o Itabaiana, quarta-feira, no Rio, pode ser punido por sua atitude.
Um líder polêmico que divide opiniões:
Eri Johnson — “O Eurico é a cara do Vasco. Na rua, ele pode estar vestido todo de azul, mas vai parecer que está com o uniforme do Vasco. Em qualquer lugar que ele estiver, vai estar lá um pedaço do Vasco.”
Fernanda Abreu — “Não conheço o Eurico, mas é sempre bom haver uma renovação no poder. Sou a favor de mudança irrestrita. E ele vai largar o Vasco mais cedo ou mais tarde. Não tenho nem acompanhado os jogos do time ultimamente.”
Martinho da Vila — “O Fidel deixou o poder bem, na hora certa, antes que o barco afundasse. Acho até que ele deveria ter saído um pouquinho antes. O Eurico já foi muito útil, fez muito pelo Vasco. Atualmente, não. E se ele continuar assim, vai sair muito mal. No lugar dele eu já teria ido embora.”
Francisco de Carvalho (Chiquinho da Mangueira) — “A situação do Fidel é diferente da do Eurico porque lá, em Cuba, não havia eleições e ele era o poder. Ao contrário do Vasco, em que há eleição de três em três anos. Quem tem de decidir se o Eurico deve ou não continuar são os sócios.”
Paulinho Mocidade — “Tiro o chapéu para o Eurico, mas ele é muito radical. Por isso, durante anos, nenhuma empresa queria patrocinar o Vasco. Ele precisa delegar poderes, ser mais flexível. Até porque o Vasco está acima de tudo e de todos.”