Creio que muita gente - e até mesmo você - já deve ter ouvido a famosa frase de que o "pênalti é algo tão importante que deveria ser cobrado pelo presidente do clube". Exageros à parte, de fato o pênalti é algo bastante traiçoeiro, que mexe com a cabeça de quem vai cobrar.
O goleiro, no caso, é um franco-atirador: se não pegar, não leva culpa; se defender vira herói. Com o atacante, a história já é bem diferente. Os segundos que o separam entre recuar e correr até a bola para chutar parecem uma eternidade. As pernas já não respondem direito, principalmente quando o momento é decisivo.
Por isso, fica a pergunta: de quem é a responsabilidade de um pênalti perdido? Do jogador que chutou para fora (ou, então, caso o goleiro tenha defendido, mérito dele) ou do técnico que oficializou o jogador como cobrador oficial? Ou, ainda, do grupo de atletas que elegeu o chutador oficial do time?
Coloquei essa questão hoje em virtude do pênalti perdido pelo meia Pablo, do Vasco, no jogo contra o Fluminense, no último sábado, pelas semifinais da Taça Rio (o segundo turno do Estadual do Rio de Janeiro).
O jovem cruzmaltino foi uma aposta do técnico Antônio Lopes. Adianto que Lopes acertou em sua escalação, pois Pablo fez uma boa partida. Mas o jogo terminou empatado por 1 a 1 e, por isso, teve de ser decidido nos pênaltis (ou tiros livres da marca do pênalti, como preferem alguns puristas).
Mostrando personalidade, Pablo se apresentou ao técnico para ser um dos cobradores e Lopes o atendeu. No entanto, e aí é que eu acho que houve o equívoco, o garoto foi designado para ser o último atleta vascaíno a cobrar. Não seria melhor se o meia fosse colocado para ser o segundo ou terceiro cobrador?
Não sei o que se passou na cabeça de Antônio Lopes naquele momento, mas acredito que o mais indicado deixar um jogador mais experiente para o fim. Só para constar: Edmundo foi substituído a poucos minutos do final, portanto, já não estava mais em campo (se bem que ele também não é dos melhores, cobrando pênaltis).
Sabemos que o futebol é um jogo e, como tal, tudo pode acontecer, ainda mais em se tratando de penalidades máximas. Porém, como em qualquer esporte que envolve paixão e emoção, o futebol aflora ambivalências das mais variadas no ser humano. E não apenas em quem torce, mas também em quem está dentro de campo.
O detalhe é que a cobrança de Pablo foi quase perfeita, até porque o goleiro Fernando Henrique foi para um lado e a bola para o outro, só que bateu na trave... Eu, no lugar de Pablo, pediria para medir novamente a distância entre os postes. Vai que não tem 7 metros e 32 centímetros...
Na conversa de botequim e nas mesas-redondas, certamente já foram manifestadas várias "verdades": infelicidade, imperfeição, erro, sorte do goleiro, culpa do técnico e, a que acho mais plausível, culpa dos deuses do futebol, numa conspiração planejada contra Eurico Miranda, o todo-poderoso do Vasco da Gama que até ganhou uma biografia.
O torcedor vascaíno que cruzar com Pablo na rua deve cumprimentá-lo. Jogou bem e teve personalidade para se apresentar ao técnico numa verdadeira fogueira, coisa que muitos craques experientes se omitem em situações como esta.
Por isso, jogar a culpa no jovem meia é algo simplista, que ignora todas as variáveis que cercam a cobrança de um pênalti. Bola pra frente, Pablo.