O Vasco não caiu hoje. Não, não foi por culpa da derrota para o Vitória por 2 a 0 (gols de Leandro Domingues e Adriano) que o clube viveu na tarde de domingo o dia mais triste da sua história. A queda vem sendo costurada há anos. Escolha errada de treinadores; jogadores sem a menor condição de vestir uma camisa histórica; guerra política; acomodação com derrotas e mais derrotas. Um clube grande como Vasco, com mais de 11 milhões de torcedores, não pode se acostumar a perder. Quem é gigante - e o Vasco é enorme -, se contorce nos momentos dolorosos. Há anos o Vasco parecia anestesiado. Por isso, estou convicto de que a dor do rebaixamento, a mácula do desalento, a vergonha de ouvir piadas idiotas dos adversários e o choro coletivo testemunhado hoje, em São Januário, servirão para despertar o clube. E mostrar à diretoria, aos poucos jogadores que servem e aos torcedores, que vale muito ser, jogar e viver o Vasco. O dia 7 de dezembro de 2008 tem dois lados. A consumação da queda. E o início da reconstrução.
Doeu fundo na alma ver o torcedor tentar se jogar da marquise de São Januário. O bombeiro o impediu. E ele verá o Vasco renascer. Não vale a pena procurar culpados agora. O importante é fazer. A diretoria passada errou muito. Escolheu Alfredo Sampaio, inventou Romário como treinador. Há anos vinha enfiando pela goela dos vascaínos um time patético. O novo comando também falhou nos primeiros meses. Recebeu uma herança ruim, mas poderia ter sido mais ousado. Apostou em Edmundo (boa aposentadoria!), sabe-se lá porque contratou Tita, Fernando e Odvan , viu alguns jogadores atuarem com absoluta má vontade e desdém e nada fez. Paciência. Caiu. Agora é hora de levantar. E seguir em frente.
O risco que o Vasco corre hoje não é o de jogar a segunda divisão. Isso muita gente grande já fez e outros também farão. Grêmio, Atlético Mineiro, Botafogo, Palmeiras, Coritiba, Corinthians. Claro, o ideal é não descer. Mas não é o fim do mundo. O inferno, sim, será o clube mergulhar em nova briga política. Não é hora. O grupo que assumiu em maio precisa de tempo. Precisa reconstruir. Merece crédito. Mas terá que agir.
Não é preciso ser rico para andar arrumadinho, bem vestido. Basta ter bom gosto. Achar peças certas nos locais certos. Com o novo patrocinador e novo fornecedor de material esportivo, o Vasco começa a respirar. Mas terá que saber montar um time. Sim, pensar grande não é contratar Ronaldo Fenômeno, nem Adriano. É saber onde há bons jogadores, com custos razoáveis e que, preferencialmente, tenham orgulho de jogar pelo Vasco.
Na reconstrução, não cabe ter gente que queira usar o clube como escada ou trampolim. Acertar na escolha do treinador também é obrigatório. Ninguém tem mais o direito de errar. O torcedor vascaíno está cansado de ver trabalhos mambembes, esquemas táticos primários e treinadores com respostas prontas. Renato Gaúcho está saindo. Amanhã isso será confirmado. Há muita gente boa (e nova) no mercado. Gente louca para entrar pelo portão principal de São Januário. Gente que vai se orgulhar de servir ao Vasco.
O Vasco caiu. Sim, caiu. Foi um dia triste? Sim, o mais triste de todos os dias. Mas com uma torcida como aquela, uma história tão rica e uma marca tão forte, é mais do que certo que o futuro chegará mais rápido do que muitos imaginam.
Que a reconstrução comece. Já. Não há tempo a perder.