No dia 11 de julho, Zé Ricardo completará dois anos como técnico de futebol profissional. É pouco para sentenças definitivas de que ele é isso ou aquilo. E pelo que já viveu parece mais.
Foi em 11 de julho de 2016 que, depois de 11 partidas como interino, Zé foi efetivado como substituto de Muricy Ramalho no Flamengo.
No dia 25 de agosto de 2017, ele assumia o Vasco em substituição a Milton Mendes.
Nos primeiros passos como profissional, a nada doce vida de Zé Ricardo, 47 anos, traz questionamentos, percalços, uma quase unanimidade em relação a pessoa que é fora de campo – justo e honesto - críticas da arquibancada e de parcela da imprensa.
Mas carrega principalmente o rótulo de que se apega a jogadores questionados e nem sempre rendendo o esperado em campo. Foi assim com Márcio Araújo no Flamengo; e com Wellington no Vasco, além de outros.
No Vasco, 53,9% de aproveitamento
Em São Januário, Zé soma 47 jogos, sendo 21 vitórias, 13 empates e o mesmo número de derrotas; 76 pontos em 141 disputados. Aproveitamento de 53,9%. Número positivo, ao meu ver, dentro da análise de um time limitado e com a caótica situação financeira do clube que tem de fazer malabarismo para manter pagamentos em dia e nem pode projetar grandes contratações.
Além de acompanhar o trabalho do treinador, conversas com profissionais que trabalharam com Zé no Flamengo e outros que hoje estão ao seu lado, ajudam a entender o perfil do treinador: é justo, fiel, mas quando precisa mudar falta firmeza. E a convicção que sempre o acompanha entra em questão.
“Ainda inseguro, mas tem tudo para ter um futuro brilhante”.
Variações dessa frase são usadas para definir o treinador.
No Vasco, Zé pegou um time montado, na reta final do mandato de Eurico Miranda. Ainda assim, teve espaço para opinar em algumas contratações. Enfrentou e teve que conter insatisfação de jogadores com salários atrasados. Se viu no meio do turbilhão político que assola o clube desde dezembro. Sobreviveu, mesmo que por muitas vezes incomodado com toda situação fora das quatro linhas.
Zé tem o grupo na mão. Conseguiu isso com seu jeito de ser, daqueles que sai em defesa dos jogadores, evita exposição do grupo. "Ganhou o vestiário", como se diz no jargão da bola. É tido como sério, correto, “não tem nada de traíra”, destaca um jogador; mas logo chega outra avaliação: “mas precisa ser mais firme, colocar o p... na mesa”.
Muda, não muda, muda...
O técnico nem sempre parece convicto quando precisa mudar. Foram mudanças de esquema tático em partidas do Carioca e também contra o Racing, pela Libertadores, que fizeram pipocar questionamentos de dentro do próprio Vasco. Mudou, não parecia seguro e a coisa desandou em alguns momentos.
A crítica principal se dá por conta da manutenção de certos atletas. Uma das características de comando de Zé Ricardo é dar confiança aos jogadores, assim ele acredita que ganha a lealdade do elenco – por outro lado, faz a torcida perder a paciência, o que não parece tirar sua paz.
Desde o ano passado, Zé é constantemente criticado por insistir em escolhas que já não funcionavam: Paulão e Wellington. A dupla, titular absoluta desde 2017, caiu de produção e entrou na mira de vaias e impaciência da maioria absoluta da torcida.
A zaga
A mudança na zaga se tornava mais delicada já que Breno vinha de lesão e reduziu as opções do técnico. Ricardo começou o ano na defesa, mas perdeu espaço. Erazo entrou, e saiu. Werley entrou, e foi sacado até Erazo voltar. Paulão seguia com status de quase intocável. E tome críticas.
Depois de perder por 3 a 0 para o Bahia pela Copa do Brasil, e anunciar que mudaria o time, o técnico deu chance a Breno, recuperado depois de seis meses, e lançou Bruno Silva no meio-campo. Ele viu o rendimento da equipe crescer contra o Vitória – mesmo com a derrota para o time baiano.
Efetivou Breno e Bruno como titulares, e o time se portou melhor diante do Flamengo (1 a 1) e La U.
Passado recente e presente
Ano passado, no Flamengo, traços iguais. Convicção, pressão por mudanças, manutenção. Enfim, alterações que nem sempre surtiram efeito. Na mais radical delas, acabou demitido.
No jogo que marcou sua demissão do Rubro-Negro, Zé Ricardo abriu mão de suas convicções e deixou no banco nomes questionados. Armou uma escalação surpreendente sem utilizar os atletas contestados que por muito tempo defendeu, como Márcio Araújo, Rafael Vaz, Gabriel.
Com um volante só, Arão, o time perdeu referência, padrão e foi derrotado dentro de casa pelo Vitória. Naquela altura, o primeiro turno do Brasileirão 2017 se encerrava, e o Flamengo estava a 18 pontos do líder.
E agora?
Zé Ricardo terá uma dura missão pela frente, com um time limitado, sem poder de investimento no mercado – a projeção interna é que só em abril de 2019 a asfixia financeira alivie um pouco e o Vasco consiga respirar. Antes disso, o time terá o longo Brasileirão pela frente, além da Sul-Americana. Sem fórmulas mágicas, a dura realidade cai no colo do Zé.
O treinador terá de achar soluções dentro do próprio grupo, buscar um equilíbrio entre convicções, necessidades do time e limitações de elenco. Não é uma tarefa simples. Não é de se esperar paciência da torcida. E logo ali na frente será colocado à prova novamente.
E isso antes mesmo de completar dois anos como técnico de time principal - tempo por muitas vezes deixado de lado em avaliações no imediatismo de futebol.
Zé Ricardo pode fazer mais? Claro. Pode fazer melhor? Evidente. Errou no Vasco? Sim, algumas boas vezes. Mas tem o mérito de levar adiante um elenco desacreditado, desgastado pelos atrasos de salários (no momento a maior parte dos vencimentos está em dia) e inconstante em suas atuações. E num clube sem dinheiro, sem paz política um único dia e com uma torcida que precisa de convicção para cantar que o Vasco é o time da virada.
Janir Júnior é chefe de reportagem de futebol no GloboEsporte.com. Antes, como repórter, teve passagens como setorista nos quatro grandes clubes do Rio e seleção brasileira