Futebol

Opinião: "Adeus, Brasileirão velho, feliz Vasco novo"

Continuo às voltas com o simulador. Fui acompanhando os jogos do Campeonato Brasileiro, desde ontem, e projetando os confrontos das próximas rodadas. Ficou claro, desde o início, que São Paulo e Vasco seriam os grandes personagens. Ambos têm um clássico como próximo compromisso, ambos estão no caminho dos times que disputam o título, e no meio de tudo isso vão se enfrentar. O Tricolor ainda tem claras ambições – chegar à Libertadores e quem sabe esperar uma série de tropeços para começar a pensar até em ser campeão – e pretendo escrever sobre isso em outro post. Para hoje, é a situação do Machão da Colina que me intriga mais.

O que quer, o que quererá o Vasco no Campeonato Brasileiro? Se ainda restava algum perigo de rebaixamento, foi embora de vez com a vitória sobre o Grêmio Prudente (45 é o número mágico, e é claro que o time ainda vai pontuar mais). A Sul-Americana interessa, sim, mas já está bem encaminhada. E, por mais que tenha passado a valer vaga na Libertadores – de duas temporadas depois, essa coisa longínqua no tempo do futebol -, ainda não é um catalisador de grandes atuações, uma inspiração para uma arrancada irresistível.

O Vasco vai, enfim, jogar pela honra. Ou simplesmente entrar de férias. Ao mostrar a classificação do campeonato, quando eu apresentava o Redação SporTV, brincava com os comentaristas que times na situação dos cruzmaltinos formavama a turma do Feliz Ano Novo (com o número variando de acordo com o campeonato: agora é o Feliz 2011). Estar nela não significa entregar jogos, perder todas. Nem mesmo entrar em campo sem vontade. Só quer dizer que falta a motivação, o algo a mais para querer vencer. E acaba faltando alegria também – porque quem vive uma situação como essa está, via de regra, chegando ao fim de uma temporada decepcionante.

O Vasco entrou no Campeonato Brasileiro de 2010 ainda sob desconfiança de sua torcida. Mesmo o mais ardente vascaíno sabia que o time que conquistou com sobras o título da Série B não teria condições de lutar por muita coisa na Série A. Os reforços vieram, mas Dorival Júnior, o homem que conseguiu juntar os cacos na segundona, se foi – e ninguém, até PC Gusmão, tinha conseguido se firmar depois dele. A campanha no Campeonato Carioca foi decepcionante. Perder a final da Taça Guanabara para o Botafogo e sequer chegar à final da Taça Rio deu a má sensação de que ainda faltava subir aquele degrau a mais para encarar o Brasileirão.

rodrigo caetanoMas o vascaíno teve esperanças na competição nacional. Num reflexo de como estão mudando as coisas no futebol, o astro da recuperação não estava dentro de campo, nem ao menos à beira dele ou – o que seria mais do que aceitável num clube que tem seu maior ídolo no cargo de presidente - na tribuna de honra. A virada que o time da virada vislumbrou estava nas mãos (ou, mais precisamente, nas planilhas Excel) de Rodrigo Caetano, o diretor de futebol. É ele, hoje, quem os adversários mais ambicionam tirar do Vasco. Foi ele, com seu programa de computador que antevê os contratos que estão por terminar, que conseguiu viabilizar as contratações que chacoalharam o time na parada para a Copa do Mundo: Éder Luis (que desprezou o Flamengo por confiar em Caetano), Zé Roberto, Felipe, Rafael Carioca.

Com eles, PC Gusmão montou um time que demorou a perder, esboçou uma reação, fez bons jogos. Com eles, o time de PC Gusmão começou a patinar, empatou jogos que poderia ter vencido, começou a perder e só nesta quinta-feira, ao chegar aos 45 pontos, deixou para trás o pesadelo de voltar à Série B. O que deu errado? Rodrigo Caetano, no fim das contas, contratou mal? PC não soube transformar as contratações numa equipe competitiva? Ou foram os próprios contratados que não corresponderam às expectativas? O futebol adora deixar essas perguntas no ar, ou respondê-las com evasivas decepcionantes como: um pouco de tudo isso.

pc2O futebol, gostava de repetir Lúcio de Castro nas terças-feiras em que eu apresentava o Redação SporTV, não tem receita. O Corinthians foi campeão brasileiro em 2005 com um time cheio de estrelas, mas todo brigado, no meio de uma enorme bagunça provocada pelos descaminhos de seu misterioso investidor. O Flamengo, atual detentor do título, conquistou-o com um técnico contestado, um camisa 10 (a posição, não o número) veterano e um artilheiro que frequentava mais as páginas policiais do que o caderno de esportes. O Vasco de 2010 pode ter caminhado um pouquinho na contramão dessa falta de lógica: tem um time batalhador, trouxe reforços de peso para qualificá-lo, mas não aconteceu.

Os reflexos já tinham começado a ser sentidos, mesmo antes do jogo que garantiu a permanência na Série A. Na véspera de enfrentar o Grêmio Prudente, PC Gusmão deu uma entrevista magoada. Exibimos alguns trechos no SporTV News, e fiquei com a sensação de que estava vendo, na verdade, o ultimato de um técnico ameaçado – e se foi isso, funcionou, porque no dia seguinte o vice José Hamilton Mandarino ligou para dizer que ele continua no cargo. Apenas 4.189 vascaínos se animaram a ir a São Januário (e bem menos, 2.474, pagaram ingresso) para uma partida, bem ou mal, decisiva. Se já era assim enquanto ainda valia alguma coisa, o que será agora?

O Vasco do Feliz 2011 tem um bom goleiro (que o Fluminense não conseguiu levar); um dos melhores laterais direitos do campeonato; um zagueiro que é titular na minha seleção do prêmio Brasileirão; e jogadores experientes do meio de campo para a frente. Precisa de reforços para o ano em que vai voltar a disputar alguma coisa – como de resto todos os clubes brasileiros precisam – e tem defeitos graves, como o de não conseguir se impor aos adversários mesmo quando joga melhor. Mas esse é também o Vasco de 2010, que já tem pela frente um clássico contra o líder do campeonato, o Fluminense (sem Zé Roberto e provavelmente sem Éder Luis); que ainda enfrenta Corinthians e Cruzeiro, que estão na briga direta pelo título; e o São Paulo, que quer entrar.

O Feliz 2011 do Vasco vai mexer na felicidade de muita gente no Brasileirão de 2010.

Fonte: Blog do Marcelo Barreto
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