O Vasco pode e deve lamentar os erros de arbitragem que prejudicaram a equipe em partidas decisivas do Estadual (João Batista de Arruda na semifinal da Taça Rio contra o Flamengo) e Copa do Brasil (Evandro Roman no jogo de volta contra o Vitória em São Januário). Assim como é legítimo renovar as esperanças e exaltar a luta e o poder de recuperação do time no segundo tempo da derrota por 2 a 1 para o Atlético-MG fora de casa na estreia do campeonato brasileiro.
Mas também não há como negar que o time vascaíno sofre com as sérias limitações do elenco e Gaúcho, treinador efetivado por Roberto Dinamite, ainda não conseguiu equacionar os problemas táticos herdados de Vágner Mancini, seu antecessor no comando técnico da equipe.
No meio-campo, a dependência do talento e da liderança de Carlos Alberto continuam travando o setor. O trio de volantes não conseguem facilitar a saída da defesa nem trabalhar a bola com viradas de jogo que surpreendam os adversários. Nem mesmo a escalação do meia Magno pela esquerda deixou o toque mais fácil entre as intermediárias. Na ausência do capitão, tudo depende de Philippe Coutinho, jovem de talento raro e que não se esconde do jogo, mas também não é um meia organizador para centralizar a articulação do time no 4-3-1-2 proposto pelo treinador.
A carência na criação atrapalha os atacantes, que não recebem a bola mastigada para a conclusão. No Mineirão, com Dodô novamente apagado, Elton lutou sozinho contra a retaguarda dos donos da casa e, apesar de marcar o gol único da equipe, não teve condições de reverter a vantagem atleticana construída em dezoito minutos no primeiro tempo com os gols de Ricardinho e Muriqui.
O retorno de Ramon desafogou um pouco o jogo pela esquerda. O problema é que o voluntarioso lateral às vezes peca pelo individualismo, não marca bem e a cobertura de Thiago Martinelli não é das mais velozes. Não por acaso, Gaúcho tem escalado Nilton mais plantado e posicionado o volante como um terceiro zagueiro de acordo com as características da partida. Dedé é mais uma aposta do treinador para tentar resolver os problemas crônicos do miolo da zaga.
Pela direita, segue a indefinição: Fagner não consegue uma sequência de jogos por seguidos problemas físicos, Élder Granja não inspira confiança e Gaúcho se viu obrigado a improvisar Paulinho na posição. O volante até buscou o apoio com o auxílio de Souza e Coutinho, mais ainda precisa de mais jogos para se adaptar à função.
A diretoria comandada pelo competente Rodrigo Caetano trabalha duro na busca de reforços. Zé Roberto, ex-Botafogo, Flamengo e atualmente no Schalke 04, é bom nome, mas não parece ser o meia criativo que o Vasco precisa no momento. Branquinho, sim, pode ajudar na armação se repetir em São Januário o desempenho no Ramalhão. Só é preciso saber como será a adaptação do meia às cobranças em um dos times mais populares do país. Nunes, contratado ao Santo André, chega para preencher a vaga no ataque aberta pela provável saída de Dodô e o zagueiro Cesinha, também do time do ABC, é o nome aventado no momento para tentar dar a tão desejada solidez defensiva à equipe.
Ainda é cedo para vislumbrar o futuro vascaíno na principal competição nacional. Apesar da pouca cancha entre os profissionais, Gaúcho tem raízes no clube e parece contar com a confiança da direção e dos focos de liderança do elenco para prosseguir seu trabalho. Com criatividade e mais respaldo dentro e fora de campo, é possível pensar numa trajetória digna das tradições vascaínas no seu retorno à primeira divisão.