O diretor de futebol do Fluminense, Paulo Behring, deu uma declaração que me deixou estarrecido, já que colocou a culpa pela decadência do futebol carioca na imprensa, principalmente na paulista.
Concordo que, às vezes, a imprensa paulistana, não paulista, exagera e vê certo prazer em cutucar o futebol carioca.
Eu, no entanto, discordo da visão do senhor Behring, e digo isto com propriedade, uma vez que sou profundo admirador do futebol carioca que, para mim, representa a essência do estilo brasileiro, que nos fez e nos faz sonhar a cada dia em sermos jogadores de futebol, estrelas, mitos vivos, como Ronaldo e Romário.
Tive a oportunidade de acompanhar grandes times do Rio de Janeiro, como o Flamengo da década de 80, que arrastava multidões em qualquer canto do Brasil, assim como o Vasco de 87 e 88, que tinha um dos ataques mais fulminantes que vi em minha vida, com Romário e Roberto Dinamite.
Também pude ver a conquista do Estadual do Rio de Janeiro de 89 pelo Botafogo, em grande estilo, numa decisão suada, digna de contos de botecos pelo Brasil afora.
Além de tais lembranças, não consigo esquecer a força do futebol carioca no começo da década de 90, chegando a ter Flamengo, Botafogo e Vasco entre os três primeiros do Campeonato Brasileiro de 1992. E como posso esquecer do Vasco tricampeão carioca, que teve como ápice o saudoso Denner.
O auge de minhas lembranças de um futebol carioca forte está na final do Carioca de 95, com aquele gol fantástico de barriga, do então atacante do Fluminense, Renato Gaúcho.
Curiosamente, o declínio do futebol carioca começou justamente por causa da beleza demonstrada em campo, que mascarava o escárnio das administrações de tais clubes.
Acreditando que nada mudaria, os dirigentes cariocas investiram pesado em contratações dúbias e não se importaram com o dia de amanhã, esquecendo-se de que o grande diferencial de seu futebol eram as revelações das categorias de base.
Assim, o primeiro a cair foi o Fluminense, chegando à Série C do Brasileirão. Depois, o Botafogo capengou por anos na Série A, culminando no rebaixamento, em 2002.
O Flamengo, por sua vez, se auto-sustentava com a soberba do tricampeonato carioca em cima do rival Vasco, e acreditava, mesmo com altas dívidas, de que o clube jamais seria afetado.
E, por último aparece o Vasco, que foi o grande time carioca no final dos anos 90, com dois títulos brasileiros, uma Libertadores, uma Copa Mercosul e dois vice-campeonatos mundiais.
O clube de São Januário, no entanto, colecionou inimigos em todo país com a maneira ríspida e ditatória com que Eurico Miranda comanda o clube, que hoje agoniza à espera de investidores que têm medo em depositar seu dinheiro num clube que é comandado por apenas \"uma\" pessoa.
Hoje, o futebol Carioca é a versão apocalíptica que eu nunca sonhava em ver, pois cresci com os toques de bolas refinados e os gritos de gol no templo do futebol, o Maracanã, mesmo sem nunca ter pisado no cimento do Mário Filho.
Eu sinceramente torço para que as dívidas sejam sanadas, os investidores reapareceram e Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense voltem e ilustrar os sonhos dos jovens amantes do futebol, que necessitam da magia do futebol carioca de volta, o quanto antes...