Em 1992, o jornalista Marco Antônio Cavalcanti, vascaíno de boa cepa, apresentou-me o menino Flávio, caçula da família vizinha a sua num condomínio de casas em Jacarepaguá.
Ainda menino, era o goleiro do time dos marmanjos, que exploravam o fato de o garoto estar dando os primeiros passos no ofício pelas divisões de base do simpático Campo Grande.
Na Tribuna de Imprensa de São Januário, minutos antes de um Vasco x Bangu do Estadual daquele ano, prometi ao amigo que apresentaria Flavinho à divisão de base vascaína.
Como prometido, levei-o ao então diretor da base, Darcy Peixoto, que já conhecia o potencial do jovem goleiro, mas não se mostrou interessado em tirá-lo da base do Campusca.
Havia uma explicação: o Vasco havia acabado de tirar o ex-júnior Valdir Bigode do time da zona oeste e o imbróglio, ainda fresco, atormentava a muita gente nos dois clubes.
Pois bem, o tempo passou e 19 anos depois eis que Flávio reaparece como um fantasma a atarantar o Vasco, como já fizera em outros confrontos entre o Vasco e a Cabofriense.
Apequenou a baliza de São Januário de tal forma que foi difícil para o time de Ricardo Gomes obter os três pontos que lhe garantiram a liderança do Grupo A da Taça Rio.
O Vasco venceu por 2 a 1 e garantiu praticamente a classificação antecipada para as semifinais num jogo que mais pareceu um confronto de ataque contra defesa, tamanha a superioridade vascaína.
O domínio do jogo foi absoluto, mas o Vasco voltou a sentir a falta de um artilheiro que convertesse em gol as inúmeras jogadas de ataque criadas por Felipe, Bernardo e Cia...
O placar foi aberto no primeiro tempo, com um gol de Bernardo, e quando se imaginava que a superioridade vascaína fosse retratada no placar, o time empacou e a Cabofriense empatou.
No segundo tempo, o Vasco lançou-se ao ataque sem o mínimo pudor e até levou sustos, até conseguir o seu gol com Alecsandro convertendo pênalti discutível em Éder Luís, aos 40m.
O gol trouxe fez justiça ao placar trouxe alívio aos vascaínos e presenteou os quase 20 mil torcedores que lotaram São Januário para prestigiar a boa fase do time.
Torcedores, aliás, que fizeram um digno e respeitoso minuto de silêncio em memória às 12 crianças assassinadas na escola de Realengo.
E torcedores que foram embora para suas casas ouvindo pelo radinho o lamentável e equivocado manifesto do meia Felipe, quanto às vaias da torcida a determinado jogadores.
Ele, que é um dos mais experientes jogadores do time, assumiu que os companheiros não cumprimentaram os torcedores por orientação dele, em represália à postura da torcida.
Um gesto tão estapafúrdio quanto bisonho, só comparado talvez à bola que o próprio Felipe perdeu na derrota por 3 a 2 para o Nova Iguaçu, na Taça Guanabara.
É fato que a torcida do Vasco quando lota São Januário potencializa um eventual descontentamento com a atuação de um ou outro jogador ou até mesmo do técnico.
Mas não me parece inteligente por parte de um jogador profissional quebrar a corrente com sua massa justamente quando o time parece engrenar.
Principalmente, quando o porta-voz do manifesto é um dos protagonistas da campanha mais vexatória cumpridas pelo Vasco em Taças Guanabara.
Definitivamente, Felipe só é bom mesmo com a bola nos pés...