Vamos colocar os pingos nos is. As torcidas organizadas, definitivamente, não são as únicas – talvez, nem as maiores – culpadas pela violência que se tem visto neste Brasileirão. Esses gângsters travestidos de torcedores são uma consequência nefasta da ineficiência da Justiça, do Ministério Público, dos governos, dos dirigentes das entidades e dos clubes. O problema que gera tudo isso não é a falta de leis, mas de compromisso e rigor das autoridades para fazer cumprir a lei. Mal que afeta a sociedade brasileira como um todo.
Até quando continuaremos a tratar assunto que pode comprometer o próprio futebol – é inegável que a violência afasta o público e afeta a economia dos clubes – com medidas paliativas que, os fatos comprovam, estão muito distantes de combater o problema de maneira eficaz?
Não adianta impedir a organizada de ir ao estádio. Não adianta proibir bandeiras ou bexigas como se isso evitasse conflito. Não adianta revistas à porta das arenas se rojões e por vez bombas entram por caminhos transversos. Tudo isso é jogar para a galera, mostrar "serviço". Não adianta, apenas, cassar o mando de campo dos times – essa gente pouco se importa se o clube será prejudicado, a alegada paixão não existe, é apenas pretexto para extravasar sua irracionalidade. Isso deve existir, é claro, mas muito mais precisa ser feito.
O câncer da violência tem de ser atacado de frente. O Estatuto do Torcedor há 10 anos estabeleceu que a entidade organizadora do campeonato e o clube mandante têm de desenvolver o plano de jogo. Trabalho sério, detalhado, com a participação de todos os envolvidos no evento, com as funções de cada um definidas em prol da segurança. A PM, os exemplos se sucedem, não pode arcar sozinha com essa tarefa. Não tem condições, não está preparada para fazê-la. Só conhece a linguagem da força.
Lugar de vândalos é no banco dos réus. Quiçá na cadeia. Por formação de quadrilha, por ameaça à ordem pública, por porte de arma e drogas – não são raras as vezes que isso é encontrado com eles – por agressão, por dano ao patrimônio público. Leis não faltam para enquadrá-los. No mínimo, como os hooligans ingleses, têm de ser banidos de vez dos estádios, obrigados a se apresentar na delegacia e lá passar o dia dos jogos. É uma forma de assegurar, ao menos, o direito de ir, vir e torcer de quem realmente ama o seu clube.
Enquanto as autoridades fazem marola e fogem de suas responsabilidades, as cenas se repetem. Na Bahia, em Brasília, em São Paulo, em Minas, no Paraná... E não são mais confrontos de rua, longe dos estádios. Aqueles dos quais se diziam tão difíceis de controlar. Não! Agora o palco são as próprias arenas, as antigas e, ainda pior, as novas inauguradas para a Copa. É este o país que queremos que o mundo veja? É assim que pretendemos atrair a atenção do planeta da bola? Não dá mais. Que cada um faça a sua parte. Salve o futebol do Brasil. E cumpra-se a lei.