Futebol

Opinião: "Nossos ídolos não são mais os mesmos"

Nossos ídolos não são mais os mesmos

Eu estava tentando evitar, mas aí O Globo me faz o maldito favor de mandar junto com a edição dominical o álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro. Agora não tenho mais desculpa. É como dar um copo de uísque na mão de um alcoólatra. O da Copa do Mundo eu até consegui evitar, mas agora é mais difícil, afinal, todo mundo sabe que seu time é muito mais importante do que a seleção. Apesar de que colecionar a Holanda ou a Espanha ser muito mais interessante do que o Barueri.

Álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro é uma coisa complicada. Não precisa nem esperar a janela de transferência, quando muitos times mudam radicalmente. Ele já nasce desatualizado. O Fluminense, por exemplo, vem sem Deco e Belletti, o Palmeiras sem Valdivia e o Botafogo sem Maicosuel. No Vasco não há a revelação Johnattan (ou Jonathan, nunca sei como se escreve o nome do rapaz), que, provavelmente, vai brilhar no decorrer do Campeonato se não for vendido pra Ucrânia. Mas querer a perfeição seria impossível já que os times hoje trocam de clube mais do que os colecionadores trocam figurinhas nos recreios.

No meu tempo de moleque havia as figurinhas “carimbadas”.

Lembra? Os craques dos times vinham com um carimbo, uma espécie de “firma reconhecida” pelo bom futebol. Zico, Roberto, Renato Gaúcho, Sócrates, Romerito e pronto, lá vou eu escancarando que estou ficando velho. Hoje os craques ganharam destaque individual o que pode gerar discussão. Já na opção “Eterno Ídolo” começam erros que poderiam ter sido evitados. Não é tão difícil escolher o maior ídolo da história de um clube. Por mais que haja controvérsias entre um ou outro não dá para achar certo que Renato Gaúcho seja o maior da história do Fluminense.

Segundo o álbum, ele teria jogado apenas 15 partidas pelo clube, com quatro gols. O que uma barrigada não faz... Acharia mais justo Rivelino, o líder da Máquina.

Ou mesmo Assis, líder no tri dos anos 80. Talvez fosse mais justo se Renato fosse o maior ídolo do Grémio, mas o representante do tricolor gaúcho acabou sendo Baltazar. Justo? Ao mesmo tempo deve ter sido um parto escolher o maior ídolo do Grêmio Barueri. O título acabou ficando com Pedrão, que jogou oito partidas pelo clube e agora defende as cores do Goiás.

Pena as ausências de Ronaldo e Roberto Carlos no Corinthians.

Parece que não concordaram em receber o mesmo que os demais jogadores, o que acho uma bobagem, afinal, não vai ser um pacotinho ou outro a mais que vai aumentar a fortuna dos dois. O importante seria eternizar a imagem e frequentar as páginas das gerações que vão ficar feito doidos atrás de novas figurinhas para completar seu álbum.

Hoje me arrependo de não ter guardado os álbuns que colecionei quando novo. Mas ao tempo me sinto um pouco aliviado por não ver com meus próprios olhos que os craques da minha infância hoje são barrigudos, carecas e já viraram treinadores, cartolas ou comentaristas

Falando em ídolos e passado, dia desses me perguntaram no Twitter, onde atendo sob a alcunha de @bmazzeo, qual seria meu Vasco de todos os tempos. Gostei da ideia.

Mas preciso de tempo para arranjar um esquema tático capaz de ter Geovani, Juninho Pernambucano, Tita, Roberto, Romário e Edmundo no mesmo time.

Ainda os ídolos. Achei exagerada a expulsão de Carlos Alberto domingo. Ele deveria ter esperado o juiz na saída e dar com o chinelo nele!

Agora, pensando nos ídolos do futuro: boa sorte, Mano!

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)

Fonte: Coluna de Bruno Mazzeo - O Globo
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