Armada a entrevista coletiva na sala de imprensa do Vasco, após o jogo de domingo, o ex-deputado apresentou-se a pedido dos repórteres para falar sobretudo da situação de Romário, que desaparecera durante a semana de São Januário e se oferecera para jogar pelo telefone, no dia da partida, assim como quem diz: \"Oi pessoal, tô aí hein!\" Afinal, o profissionalismo no Rio é isso mesmo.
Esperava-se uma atitude do presidente do Vasco, mas não. O ex-deputado falou do imenso carinho que tem por Romário; do imenso carinho que o Vasco tem por Romário; das homenagens que o Vasco presta a Romário como a medida de que só ele pode usar a camisa 11; e mais ainda dos privilégios que Romário ainda desfruta no Vasco: todos eles! E terminou assim: \"Se o Romário aparecer no clube...\" Mas isso não é formidável? Esse foi o primeiro item do pronunciamento do ex- deputado, o presidente do Vasco.
O segundo item foi dizer que o Vasco tem um time que pode jogar de igual para igual com qualquer time do Brasil - qualquer time! Este mesmo Vasco que não joga de igual para igual nem com os times pequenos do Rio que freqüentam a Terceira Divisão do Brasil - ou nem isso. O mesmo time do Vasco que obteve este ano sua pior colocação a pior colocação! - em toda a História da competição. Em toda a História!
Não é formidável?
O terceiro item, pasmem!, foi dizer que estava satisfeitíssimo (satisfeitíssimo depois desta campanha aí de cima, a pior do Vasco em toda a sua História) porque acabara de vencer o Flamengo, o que significa, para ele, a conquista de um campeonato. Sim, para o presidente do Vasco, vencer o Flamengo, mesmo que seja só isso, mesmo que seja para tirar uma péssima colocação como esta e mesmo que seja contra este Flamengo caindo pelas tabelas, o presidente do Vasco se sente \"satisfeitíssimo\".
O que é um escárnio com a torcida do Vasco. Será que o torcedor do Vasco está \"satisfeitíssimo\" como o presidente do clube está? O presidente perguntou isso à sua torcida ou nem quer saber o que pensa a torcida?
Não contente com toda essa desfaçatez, o ex-deputado interrompeu as perguntas que os repórteres faziam ao técnico Renato Gaúcho para \"ensinar\" a esses repórteres o que deviam perguntar. Só perguntas que lhe convinham, é claro. Não é formidável? Eu sinceramente não sabia que o ex-deputado, esse homem tão ilustrado, de vasto saber, possuía também o curso de jornalismo e, naquele momento, começava a ministrar uma aula.
Não sei como um dos grandes jornais brasileiros não contrata a peso de ouro o ex-deputado para que ele oriente os jornalistas, ensinando-lhes a fazer uma reportagem, a escrever uma coluna ou a redigir um editorial. Que grande e edificante cabeça estamos perdendo nós, homens de comunicação de todo o país, não é mesmo?
Na verdade, a grande aula de jornalismo veio não do presidente do Vasco, mas do brilhante Eraldo Leite, na Rádio Globo, que disse para seu repórter: \"Vê se há mais alguma pergunta a fazer ao Renato, porque, para ouvir aula do presidente do Vasco sobre o que a imprensa deve perguntar, a gente prefere cortar a transmissão daí\". Esta sim é uma lição de quem conhece jornalismo, lição que todos os profissionais da imprensa deviam seguir, TODOS! Não dar ouvidos nem importância, e muito menos divulgar as bravatas e os delírios do ex-deputado. Assim pouparíamos os ouvidos das pessoas inteligentes e esclarecidas.
Então o que fez o nosso Renato Gaúcho durante todo o tempo? Apenas repetiu as palavras do seu chefe. Nada mais.
Para vocês verem o picadeiro que foi a entrevista do presidente do Vasco.