Os vascaínos podem lamentar as ausências de Carlos Alberto, Felipe e Zé Roberto, que tornaram as manobras ofensivas mais previsíveis, e é legítimo o protesto contra a arbitragem de Cléber Abade, que deixou de marcar falta clara sobre Jonathan no lance que terminou no contragolpe atleticano e no tolo pênalti de Nilton sobre Daniel Carvalho.
Mas transferir toda a culpa do mau resultado em São Januário para a falta de sorte e no equívoco do arbitragem é desviar o foco do grande erro do time da casa: o recuo excessivo na segunda etapa.
No primeiro tempo, o 3-4-1-2 armado por PC Gusmão, que tinha Nilton na zaga pela esquerda e Fumagalli como meia de ligação, teve problemas pela total falta de criatividade e o encaixe tático do 3-1-4-2 montado por Luxemburgo, que não contou com Tardelli e Obina na frente. O time perdia a bola no meio e o Galo ameaçava nos contragolpes com a constante movimentação na frente de Daniel Carvalho e Diego Souza, que abandonou a exótica camisa 1. Com o suporte de Rafael Jataí, grudado em Fumagalli, Fabiano e Serginho se projetavam às costas de Rafael Carioca e Rômulo e sempre levavam perigo a Fernando Prass.
Com o acerto da marcação da zaga e dos volantes, o Vasco foi se soltando até abrir o placar no golaço de Éder Luís em jogada de Fágner, a melhor opção ofensiva do time carioca. O lateral/ala ainda teve a chance de ampliar em boa combinação com Nunes, que fez correto trabalho de pivô quando acionado, mas sofreu com a incipiência do meio-campo.
Primeiro tempo: Atlético-MG no 3-1-4-2 com marcação encaixada no início e perigosos contragolpes com a movimentação da dupla de ataque e a chega dos volantes; Vasco só cresceu quando arrumou a retaguarda e encontrou no lado direito a melhor opção ofensiva para seu 3-4-1-2.
Luxemburgo desmontou o esquema com três zagueiros no intervalo ao trocar Lima e Serginho por Neto Berola e Ricardinho. O treinador não pode ser acusado de negligência ou desleixo no comando atleticano. Mas fica a pergunta: o que custa tentar manter uma base tática e na escalação e ir mudando conforme as circunstâncias? Por que não definir um volante, talvez Jataí, para executar a função de terceiro zagueiro ou um zagueiro, talvez Réver, para virar volante e não queimar substituições na mudança de esquema?
Mesmo desorganizada num 4-2-2-2 que tinha Fabiano e Ricardinho ocupando praticamente o mesmo espaço, a equipe mineira foi avançando conforme o Vasco recolhia suas linhas para administrar o resultado. Para melhorar a marcação e acelerar o contra-ataque, Gusmão trocou Nunes e Fumagalli por Nilson e Fellipe Bastos.
A entrada de Méndez no lugar de Fabiano rearrumou o Galo com o meio em losango. PC respondeu com Jonathan no lugar do lesionado Éder Luis, mantendo o 3-4-1-2, mas numa proposta claramente defensiva. Nem a consciência das limitações dos jogadores disponíveis justifica a cautela excessiva num jogo em casa contra um adversário igualmente desfalcado e que se afunda a cada rodada na zona de rebaixamento.
O castigo veio na penalidade máxima não tão bem cobrada por Ricardinho, mas que Prass não conseguiu segurar. E o maior paradoxo: o time que exagerou no recuo acabou levando o empate num contragolpe.
Com as mudanças dos treinadores, o Galo se soltou num 4-3-1-2 que ficou ainda mais ofensivo pelas limitações e a cautela excessiva do Vasco, que manteve o desenho tático, mas praticamente abdicou do ataque.
Com o 19º jogo sem derrota, PC Gusmão ultrapassa Muricy Ramalho e é o novo recordista de invencibilidade na era dos pontos corridos entre os treinadores. Números respeitáveis, sem dúvida. Mas o Vasco e seu técnico podem mais num campeonato que ganha em equilíbrio a cada rodada.
Mesmo com todos os problemas, foram dois pontos perdidos em São Januário. E de difícil recuperação.