Pó-de-arroz no Vasco
Foi imerso orgulhosamente em aristocracia que um clube da Zona Sul do Rio de Janeiro lambuzou jogadores negros com pó-de-arroz a fim de colocá-los em campo sem desagradar seus próprios torcedores. Até a segunda metade do século passado, este mesmo clube só permitia que negros, pobres e desfavorecidos ingressassem em sua sede pela porta dos fundos. Talvez continue assim até os dias de hoje.
O Fluminense, cujo mascote aparece vestido com fraque e cartola, é o preconceito em forma de instituição. E cultivou seus princípios fora do armário, ao contrário do outro, parido de sua costela, portanto com a mesma vocação, que foi morar entre o Leblon, a Gávea e a Lagoa Rodrigo de Freitas, mas se intitulando “popular”. Uma ova. Todos farinha do mesmo saco.
O Vasco foi antítese disso até a chegada do MUV. O MUV, que deu à luz o tal “novo Vasco”. Trocou o Avanço pelo perfume francês e perdeu a alma. Incorporou não só os trejeitos dos playboys e almofadas seja de Santa Teresa, da Álcalis ou da Lightpar, como passou a falar a linguagem deles, o aristocracês engomado, a agir como eles, cheios de melindres e na ponta dos pés, a se portar como eles, vestidos de desfaçatez, a tramar como eles, por debaixo dos panos, a negociar como eles, esvaziando os cofres do clube não se sabe o destino do que estava guardado. Mas como o Vasco nada tem a ver com eles, virou um retumbante fracasso, ao tomar como estilo o talco preconceituoso do Fluminense ou a arrogância da costela tricolor da Gávea.
O fracasso da flamenguização mendiga deve ser debitado da conta de Olavo Carvalho, José Mandarino, Nelson Rocha, José Carlos Osório, Peralta, dentre diversos outros penduricalhos, de agora ou foragidos, seguidores da mentira que tentaram implementar em São Januário, o Vasco-zona-sul-simpático-subserviente-mas-tudo-bem. Este nunca foi o Vasco legítimo, mas sempre foi o Vasco dessa gente. Aristocratas, não-vascaínos, alheios às nossas tradições, que sentem nojo de povo, de sócios de tamanco e das pilastras do Estádio Vasco da Gama. Gente que quer o Vasco alinhado (abaixo) daqueles que sempre desejaram – e com eles no poder, conseguiram – nos ter como subalternos por sermos o “repulsivo clube dos negros, pobres e nordestinos dos anos 20”. Apostem: os playboys do Vasco odeiam a nossa História.
Com estas verdades expostas, talvez os vascaínos – seu quadro social incluído – possam entender o que se passa agora nos bastidores do clube. Em 2013, cerca de três mil sócios ingressaram no quadro social. O objetivo: devolver ao Vasco a sua legítima alma. Sim, é preciso ter um ano contribuindo socialmente para votar. Sim, a retumbante resposta a esta campanha deflagrada pelo CASACA! indicou que o legítimo vascaíno quer de volta a alma do Vasco. Sim, haverá eleições nos primeiros meses da segunda quinzena de 2014. Sim, essa gente se associou em massa em 2013 porque não aguenta mais ver o Vasco fora de seu corpo, ou a alma vascaína fora do Vasco.
Foi então que Olavo, Osório, Mandarino, Rocha, Peralta, dentre demais penduricalhos aristocratas, chegaram a uma brilhante conclusão, talvez através do instrumento repressor que criaram chamado “conselhinho”: “o nosso processo mendigo de flamenguização só estará completo quando nos mostrarmos uma costela bastarda do Fluminense. Quando pusermos no forno o nosso preconceito aristocrata. Quando mostrarmos que o Vasco fecha as portas à escumalha que para ele torce. Ainda que isso vá contra a História verdadeira do clube de subúrbio que somos”. Mas e daí, se a idéia desde 2008 era exatamente esta?
Com quase um ano de contribuição social dos novos sócios, a aristocracia vascaína que sonha em enquadrar o Vasco no modelo elitista que não lhe serve, os chamou, através de uma carta intimidadora, para “prestar esclarecimentos”, sob ameaças. Comunicou a alguns que “ainda não são sócios, pois o presidente do clube não assinou suas propostas de associação”. Mesmo com 11 meses de contribuição e matrícula. Ou seja: em outras palavras, disse a essa gente para passar o pó-de-arroz no rosto pois, caso contrário, não serão aceitos.
E mais: assim como foi prática nas Laranjeiras até outro dia, em vez de receber estes novos sócios na secretaria do clube para prestar tais informações, mandou-os para o famigerado portão 19. Para quem preferir, exigiu que os novos sócios entrassem pelos fundos.
Qual é a diferença entre as atitudes do Vasco flamenguizado de Olavo e do tricolor de fraque e cartola, cujo subproduto parido de uma costela é aquilo o que o Vasco de Olavo, o “novo Vasco”, gostaria de ser? Nenhuma. É de Olavo, é de Peralta, é de Osório, é dos penduricalhos elitistas a ideia do filtro social, do pó-de-arroz, do portão exclusivo para “duvidosos”. Mesmo que tenha sido ele, Olavo, que levou em 2009 para dentro do clube o programa de sócios mais corrupto da História do Vasco, o “O Vasco É Meu”. Nome perfeito para a lafranhagem. Curiosamente, este não investigado. Curiosamente, este não filtrado. Curiosamente, este não merecedor de um portão 19 inteirinho para ele.
O CASACA! estará em São Januário neste sábado em plantão. Em defesa destes sócios. Em defesa do Vasco legítimo. Em defesa da alma vascaína. E contra Olavo. Contra o que ele representa. Contra o pó-de-arroz que ele e seus parceiros querem instituir no Vasco. Contra a entrada especial para pobres, negros, nordestinos.
Preste atenção, Olavo. Preste atenção, Peralta. Preste atenção, Osório. Prestem atenção, playboys. Vale para os outros que passaram 6 anos tentando impor ao Vasco o que ele não é:
As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.
(José Augusto Prestes – Presidente do Club de Regatas Vasco da Gama – 1924)
Vocês não são Vasco. Vocês estão na contramão de nossa História. Vocês são uma mácula na História do clube. E é por isso, não só que fracassaram tentando transformar o Vasco no que ele não é, como fracassarão neste último suspiro aristocrata, preconceituoso, covarde e indigno.
Equipe CASACA!