Política

Os principais planos dos candidatos à presidência do Vasco

Muita gente achou que a morte de Eurico Miranda em março de 2019, em decorrência de um câncer no cérebro, traria a tão sonhada paz ao conturbado ambiente político do Vasco da Gama. Um ano e oito meses se passaram desde o adeus ao lendário ex-presidente. E a primeira eleição do clube sem ele ainda conta a sua sombra. Os antigos euriquistas ainda têm força e o cenário político é caótico, muito parecido com o dos pleitos anteriores: batalhas processuais, acusações, trocas de farpas entre os grupos, intervenções judiciais, incertezas e muito caos.

Inicialmente, a eleição estava marcada para amanhã (7), mas os candidatos chegaram a um consenso pelo adiamento e, posteriormente, a Justiça concedeu uma liminar mandando o pleito para o dia 14 de novembro — exclusivamente online. Alguns dos presidenciáveis, porém, recorrem da decisão, enquanto ainda não há um consenso sobre a empresa que vai gerir a votação virtual e nem sobre o formato dela.

Entre promessas de aportes financeiros milionários já no início do mandato, salários em dia, reforma e ampliação de São Januário, além de uma equipe mais competitiva no futebol, concorrem ao cargo máximo do Vasco o empresário Jorge Salgado, o executivo Julio Brant, o advogado Leven Siano e o escritor Sérgio Frias, além do médico ortopedista Alexandre Campello, que busca a reeleição. Agora, vamos (tentar) explicar para você o que acontece em São Januário e porque essa é uma eleição histórica.

Porque a eleição é histórica...

Esta será a primeira eleição direta da história do Vasco da Gama. Até 2017, o sócio votava nas chapas concorrentes e as duas primeiras formavam o Conselho Deliberativo. A primeira colocada indicava 120 conselheiros e a segunda, mais 30. Estes 150 se juntavam aos outros 150 natos e os 300 realizavam uma votação interna para a escolha do presidente.

No dia 31 de agosto deste ano, em uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) virtual, os sócios aprovaram, com 98%, as diretas.

Outra novidade será a votação online. O associado poderá escolher seu presidente por computador, tablet ou celular através de uma plataforma fornecida por uma empresa contratada pelo clube para gerir o pleito. Ainda não está 100% garantido, porém, se o formato será integralmente virtual ou híbrido, com o sócio tendo a alternativa de votar pela internet ou presencialmente.

No Brasil, Grêmio e Internacional já utilizam este formato virtual, e Bahia e Santos passarão a implementar também pela primeira vez este ano.

...e porque as polêmicas não acabam

Após uma guerra de liminares para a realização da Assembleia Geral Extraordinária (AGE), que culminou na aprovação das diretas por 98% dos sócios participantes em votação online, os atores políticos do Vasco prosseguiram com as polêmicas. Agora, para a organização da eleição presidencial.

Presidente da Assembleia Geral, Faues Cherene Jassus, o Mussa, divulgou um edital convocando o pleito, inicialmente, para o dia 7 de novembro em formato 100% virtual. Atual presidente do clube, Alexandre Campello acusou o dirigente de estar a serviço da chapa "Sempre Vasco", do candidato Julio Brant, e não concordou com os termos, divulgando outro edital convocando uma eleição exclusivamente presencial.

Com o impasse formado, os candidatos resolveram se reunir em São Januário e chegaram a um consenso: adiar o pleito. Paralelamente, os presidenciáveis Campello, Jorge Salgado, Leven Siano e Sérgio Frias iniciaram um movimento para tentar convencer Mussa a implementar eleições híbridas, com o sócio podendo escolher entre votar online ou presencialmente.

Porém, no mesmo dia, a Justiça entendeu que o presidente da Assembleia Geral, pelo estatuto do clube, é o único responsável por dar as diretrizes do processo eleitoral, e resolveu acatar a ação do dirigente, decretando a votação integralmente virtual, mas para o dia 14 de novembro por conta do pouco tempo hábil para a organização do pleito.

Impasse para escolha da empresa

Uma nova reunião foi marcada entre os candidatos ontem (5) para a definição da empresa que vai gerir a votação online. Porém, novamente houve um impasse. As empresas que apresentaram seus projetos não deram garantias de segurança suficientes para uma eleição híbrida já para o dia 14. Alguns candidatos sugeriram, então, um novo adiamento do pleito, mas Mussa não concordou, uma vez que o estatuto prevê que a votação deve ocorrer na primeira quinzena de novembro.

Sem acordo, a princípio, a eleição está mantida para o próximo dia 14, em formato 100% online, com a empresa "Eleja Online", que já havia gerido a Assembleia Geral Extraordinária (AGE). Campello e Leven Siano, porém, recorreram da liminar e, caso a Justiça acate os recursos, uma nova mudança de cenário ocorrerá.

Euriquistas rachados

Desde a morte de Eurico Miranda, seus apoiadores se dividiram na política vascaína. Um dos grupos mais fieis, o ?Casaca!?, rachou. Quem ficou, lançou Sérgio Frias, autor da biografia de Eurico, como candidato. Os que saíram fundaram outro grupo, o ?Fuzarca?, que declarou apoio a Leven Siano. O racha entre euriquistas também se estendeu aos beneméritos, que se espalharam entre as cinco chapas concorrentes ao pleito. Alguns, inclusive, fizeram parte da base de apoio na administração Alexandre Campello.

Ex-presidente vivo é neutro

Roberto Dinamite é o único ex-presidente da história do Vasco que está vivo. O ídolo cruz-maltino, no entanto, tem se mostrado neutro até aqui. O UOL Esporte, inclusive, o procurou para tratar do tema, mas ele preferiu não opinar e reforçou que está focado em sua campanha para vereador no Rio de Janeiro, onde está filiado ao SD-RJ (Solidariedade). Roberto Dinamite foi presidente do Vasco entre 2008 e 2014, tendo acumulado dois rebaixamentos (2008 e 2013) e sido campeão da Copa do Brasil (2011).

Presidente controverso, Campello busca reeleição

Para chegar à presidência, Alexandre Campello se beneficiou das brechas oferecidas pelo formato indireto das antigas eleições do Vasco. Em 2017, atendeu ao apelo popular e se aliou a Julio Brant (na foto acima, os dois abraçados durante a eleição) na formação de uma chapa única para derrotar Eurico Miranda. Campello se colocou na posição de vice-presidente-geral do grupo, que venceria na votação entre os sócios e indicaria 120 conselheiros.

Porém, na eleição restrita ao Conselho Deliberativo, os conselheiros de seu grupo político articularam uma aliança em cima da hora com apoiadores de Eurico Miranda, romperam com Brant e lançaram o seu nome como candidato à presidência, algo permitido pelo estatuto.

Campello acabou sendo pivô de um acontecimento histórico no clube: nunca um candidato que venceu entre os sócios — no caso, Brant — havia perdido no Conselho Deliberativo. Embora dentro das regras, o atual presidente carregou durante os três anos de mandato a alcunha de "golpista", usada por parte de opositores e por um grande número de torcedores.

Apesar do ambiente adverso, Campello levanta agora a bandeira de ter sido o presidente que construiu o centro de treinamento do futebol profissional, o que iniciou o projeto do CT da base e o que está à frente do clube na transformação do programa de sócios-torcedores do Vasco no maior do gênero no país. Por conta disso, se sentiu confiante para lançar sua candidatura com a chapa intitulada de "No Rumo Certo".

Presidência vaga até a posse?

Apesar das eleições serem agora em novembro, o novo presidente do Vasco só toma posse, a princípio, "na terceira dezena de janeiro" —segundo o estatuto, após o dia 20 daquele mês. Há, no entanto, um movimento por parte de algumas chapas e conselheiros para tentar convencer Campello a antecipar a posse caso ele não seja reeleito. A possibilidade de que isso aconteça, porém, é pequena.

Quais são os planos dos candidatos?

Agora, o UOL mostra as principais plataformas dos cinco presidenciáveis

Equacionar as finanças

Alexandre Campello

Acredita que em 2021, com o recebimento de receitas que haviam sido adiadas por conta da pandemia, conseguirá manter os salários em dia. Fechou nesta semana um projeto de parceria com uma empresa de bitcoin que rendeu, de imediato, R$ 10 milhões. O projeto prevê que o torcedor possa comprar criptomoedas relativas a percentuais de mecanismos de solidariedade de 12 jogadores já vendidos pelo clube.

Jorge Salgado

O objetivo é captar R$ 150 milhões para equilibrar o fluxo de caixa já no início da administração. O projeto financeiro ainda prevê reduzir a dívida do clube dos atuais R$ 620 milhões para R$400 milhões em três anos; e aumentar a receita anual de R$ 200 milhões para R$ 400 milhões.

Julio Brant

Promete criar um fundo creditório para arrecadação de R$ 70 milhões a R$ 100 milhões já nos primeiros 100 dias da gestão. Parte desses recursos serão para capital de giro e parte para investir diretamente no futebol.

Leven Siano

Planeja captar US$ 60 milhões com o propósito de reestruturar as dívidas. Em seu projeto, acena com 12 executivos, dentre eles Francisco López, ex-diretor de negócios do Manchester City e ex-diretor-financeiro do Barcelona, e João Guimarães Rodrigues, que trabalhou no departamento de marketing do Benfica.

Sérgio Frias

Fala em explorar mais o potencial de engajamento demonstrado pela torcida recentemente para aumentar o poder de arrecadação do clube. Promete salários em dia em sua gestão.

Reforma de São Januário

Alexandre Campello

Um memorando de entendimento foi assinado com a empresa WTorre para reforma de ampliação e modernização de São Januário. Segundo Campello, as reuniões estão avançadas para a criação de um fundo de investimento e a posterior assinatura de contrato em definitivo da obra.

Jorge Salgado

Ideia é dar continuidade ao projeto apresentado por Campello, mas com a ressalva de que será feita uma análise detalhada dos termos: ?É de fundamental importância a saúde plena do caixa do clube e o envolvimento da torcida. Dessa forma, primeiramente vamos entender a parte financeira e lançar uma consulta popular para ouvir a opinião do torcedor?.

Julio Brant

Já havia acenado com um projeto na última eleição em que participou como candidato. Segue a favor da ampliação e modernização de São Januário, mas sem excluir as características populares do estádio. A ideia é ter um projeto viável financeiramente e que tenha a participação e opinião do torcedor.

Leven Siano

Acena com dois projetos para a reforma e ampliação de São Januário: um com a empresa sueca Serneke Group e outro pela Popuolous, que construiu os estádios de Wembley, do Arsenal e do Tottenham, na Inglaterra. Neste último, o designer seria inspirado na caravela de São Gabriel.

Sérgio Frias

É a favor da ampliação de São Januário, mas levanta a bandeira também de se aumentar apenas parcialmente a capacidade, criando um setor específico para os visitantes de modo que todo o restante do estádio fique à disposição do torcedor vascaíno.

Centro de treinamento

Alexandre Campello

Quer concluir a 2ª etapa do CT profissional. Os recursos para isso virão de investimento do clube e novamente do crowdfunding junto ao torcedor. O CT da base (CT de Caxias) já está em fase final para ser entregue ainda este ano.

Jorge Salgado

Há a promessa de concluir o CT, que ainda prevê uma segunda etapa com sete campos, sendo um mini-estádio para a base e instalações fixas de hotelaria, vestiário, academia e demais estruturas para o departamento de futebol.

Julio Brant

Alega que seu grupo foi o responsável por trazer a empresa ?Tecnoplano?, que realizou o projeto do centro de treinamento, inaugurado recentemente pelo Vasco. Também pretende concluir a obra.

Leven Siano

Quer completar as obras do centro de treinamento e ainda prevê reforma e modernização das sedes da Lagoa e do Calabouço, ambas já acenando com empresas contratadas para tocar os projetos.

Sérgio Frias

Prega o aproveitamento inteligente do centro de treinamento vascaíno, priorizando a integração com as categorias de base e dando espaço ao futebol feminino também.

Gestão do futebol

Alexandre Campello

A ideia é manter a estrutura do departamento de futebol atual, com o vice-presidente José Luiz Moreira e o diretor-executivo André Mazzuco. Uma mudança ou outra mais sutil pode ocorrer em função das alianças políticas recentes formadas para a criação da chapa.

Jorge Salgado

Promessa é de um investimento de R$ 100 milhões. O departamento será comandado por um comitê gestor. Para a base, a ideia é implementar um sistema de retroalimentação, com parte dos recursos das vendas de jogadores formados no clube sendo revertida para as categorias. Há, também, um projeto de investimento de R$ 15 milhões no futebol feminino.

Julio Brant

Criará um Comitê Gestor e o diretor-técnico será Felipe ?Maestro?, ídolo do clube. A ideia é que, ao lado dele, tenha um diretor-executivo para tocar as questões mais burocráticas do departamento futebol. Não estão descartadas também a participação de outros ídolos, como Edmundo e Pedrinho. Brant promete um aporte financeiro e um time mais competitivo logo em seu início de gestão.

Leven Siano

O candidato promete um grande nome, conhecido internacionalmente, para o cargo de diretor de futebol. Ele terá a assessoria do italiano Fábio Cordella, o mesmo que intercedeu nas negociações com Yaya Touré para o Vasco, que acabaram não se concretizando. Também há a promessa de investimento forte no futebol para a montagem de uma equipe competitiva já para 2021.

Sérgio Frias

O candidato da chapa "Aqui é Vasco" não descarta manter pessoas do atual departamento de futebol do clube, mas planeja ter um gestor executivo para gerir o setor e uma pessoa que faça uma melhor transição entre as categorias de base e o profissional.

Sócio-torcedor deve votar?

Alexandre Campello

Sim.

Jorge Salgado

Sim.

Julio Brant

Sim.

Leven Siano

Sim.

Sérgio Frias

Sim.

É a favor da reforma do estatuto?

Alexandre Campello

Sim.

Jorge Salgado

Sim.

Julio Brant

Sim.

Leven Siano

Sim.

Sérgio Frias

Sim.

Fonte: UOL Esporte
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