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Padre vascaíno revela bastidores da torcida de seminaristas pela Seleção

\"\"A primeira associação entre futebol e religião é percebida logo na recepção do Seminário São José, no bairro do Fonseca, em Niterói: um diploma com a marca e a foto do falecido papa João Paulo II. Na mente, vem a lembrança de que a música \"À benção, João de Deus\", hit durante a visita do chefe da Igreja Católica ao Brasil, em 1980, é cantada pela torcida do Fluminense, quando o time tricolor está em crise. Em seguida, uma surpresa para quem pensa que a vida dos rapazes dentro do local é pura e exclusivamente reclusão: há um campinho de futebol no caminho para o outro prédio da administração, com direito à dois postes de refletores.

\"A grama precisa ser aparada\", explica o seminarista, \"mas o pessoal costuma se reunir toda segunda-feira para jogar bola\". Em seguida, surge o padre Demétrio (vascaíno), diretor espirtual do Seminário. Ele conta que 91 jovens vivem no local, estudando para serem padres ou teólogos. Perguntado a respeito da qualidade técnica das partidas de futebol envolvendo os internos, o religioso diz que a maioria joga bem. Robson Oliveira (flamenguista), de 26 anos, conta suas expectativas para a partida envolvendo Brasil e Portugal: \"Acredito que a Seleção Brasileira vai conseguir chegar nas semifinais\". Quando perguntado sobre a presença da religião entre os jogadores, ele faz um elogio: \"Quando vejo as entrevistas coletivas, percebo uma postura humilde da parte deles, isso é bom\". Ele reconhece a evolução técnica do Brasil nos primeiros jogos, destaca o atacante Luís Fabiano como o melhor da equipe e até jogou futebol em escolinhas na infância, antes de seguir a vocação religiosa, atuando de zagueiro.

\"\"Começa a montagem do telão para todos acompanharem Brasil x Portugal, no salão do prédio onde os seminaristas estudam e dormem. Nos céus da manhã niteroiense, um som de vuvuzelas ao longe, faltando meia hora para o início do jogão, o último da primeira fase. Não há enfeites em verde-e-amarelo, mas o sentimento brasileiro de torcida é o mesmo.

Curiosamente, haverá uma prova teológica durante o horário da partida: \"É que o padre-professor que vai aplicar o exame não tinha outro horário\", explica padre Demétrio. Em um dos bancos que circundam o jardim, o seminarista Pedro (flamenguista) está concentrado. Mas nos livros, estudando para a prova. como a chamada será oral ao invés de escrita, os internos vão poder assitir a algumas partes da disputa na televisão. \"Vou tentar conciliar\", diz Pedro, 29 anos, há 8 anos no Seminário São José. Antes de seguir a vocação religiosa, ele costumava ir ao Maracanã. Admitiu que no fundo, torcia um pouquinho pelo atraso do padre-professor. Palpite para o jogo? \"Dois a dois\". Diante da minha supresa, a explicação: \"É que sem o Kaká no meio-campo fica difícil\".

\"\"Às onze horas em ponto, todos querem pelo amor de Deus que o telão seja ligado, o que só acontece quando a partida já estava aos quatro minutos do primeiro tempo. Embora não percam a seriedade do desejo de servir a Deus e serem guias espirituais, os seminaristas presentes não perdem o jeito juvenil de ser, típico da idade: Brincam, \"zoam\" uns com os outros, acham graça e aplaudem o cartão amarelo recebido pelo português Duda, por reclamação, depois da punição recebida pelo zagueiro Juan, \"comemoram\" o chute na trave de Nilmar e depois percebem que a bola não tinha entrado. Ave Maria!

\"Só não pode ter palavrão\", adverte padre Demétrio.

\"\"Não houve oração antes do início do jogo, como alguns poderiam imaginar. Também não há vuvuzela. Mas tem atabaque, tocado pelo seminarista Thiago Linhares (botafoguense e goleiro nas partidas realizadas no campinho do seminário), 24 anos, há seis no local. \"É pra dar um clima africano, dar uma boa animada no pessoal\", explica. Parece não agradou muito, pois nos primeiros minutos de partida, ele é \"jogado\" para a segunda fileira das cadeiras postas no salão, para divertimento dos seus colegas. Durante o intervalo, ele dá a definição perfeita do que foi o jogo no primeiro tempo: \"Os portugueses estão muito retrancados. Mas meu palpite é que o jogo vai terminar 2 a 0, com um gol do Luís Fabiano e outro do Robinho, que vai entrar durante o segundo tempo\".

\"\"São poucos os que estão vestidos com as cores da seleção. Um deles é Rafael Carvalhaes, de 27 anos, 4 anos de estudos religiosos. \"A Seleção está bem, mas precisa criar mais oportunidades de jogada\". Ao perceber os risos dos companheiros mais próximos, ele confessa: \"Eu nem entendo muito de futebol. Sempre fui perna-de-pau. Mas sempre que a Copa do Mundo acontece, todo mundo vira torcedor e veste a camisa\".

O segundo tempo começa e a retranca da seleção de Portugal continua. Uma prova de que, apesar de estarem voltados para a espirtualidade, eles acompanham o futebol carioca sempre que podem: todos meio que insinuam um coro de \"Pet, Pet, Pet...\", \"pedindo\" a presença do atacante rubro-negro (que é sérvio, por sinal) para solucionar a dificuldade de finalização da Seleção Brasileira.

\"\"Também não teve \"uuuuhhh!\", mas teve \"aaaahhh!\" com o quase gol de Ramires no início do tempo extra. Apito final. Robinho sequer levantou do banco, e os palpites de Thiago e Pedro (que assistiu boa parte do jogo) não se confirmaram. \"Do Brasil, a gente sempre espera mais, mas pelo menos cumpriu o seu papel, que foi conseguir a classificação em primeiro lugar no grupo\", resume Sávio Catharino, 25 anos, há dois anos e meio no local. com um jeito um pouco tímido (mas simpático), o xará do antigo craque flamenguista diz que chegou a jogar na escolinha do Vasco. Mas a vocação religiosa, mais forte, surgiu depois.

A arrumação no salão é feita de forma rápida, da mesma maneira em que todos regressam aos seus afazeres e estudos de todos os dias, na rotina serena do Seminário. Realmente, devido ao bloqueio português, o resultado não foi o esperado, mas uma coisa se deve louvar a Deus: a Seleção Brasileira continua na Copa. E se Deus quiser, com a taça na mão.

Fonte: SRZD - Sidney Rezende
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