Márcio Rodriguez de Souza renovou em fevereiro o plano de sócio-torcedor do Vasco por mais seis meses, prazo mínimo para permanecer no programa do clube atualmente. Membro da categoria Colina Mais, o representante de vendas de 43 anos tem direito a um ingresso para si e um adicional, e paga por isso R$ 89,90 por mês.
Com a interrupção do futebol no Brasil nos últimos dias em função da pandemia do novo coronavírus, e sem prazo para retorno, o morador de Jacarepaguá aguarda uma posição do clube sobre o que será feito diante da falta de jogos.
— É uma oportunidade para o Vasco dar alguns descontos em mensalidades, ou daqui seis meses dar um mês grátis. Ainda não recebi contato nenhum relacionado a isso, não informaram nada sobre o que pode ser feito — afirmou Márcio.
A realidade é comum aos torcedores de Flamengo, Fluminense e Botafogo, que se dividem sobre as soluções. Além de equipes de todo o Brasil. Mas algumas já se mexeram. Esta semana o Palmeiras anunciou que as mensalidades pagas durante o período sem futebol serão convertidas em créditos para retiradas de ingressos em jogos futuros no qual o time paulista seja mandante.
André Monnerat, Head de Negócios da Feng Brasil, empresa especializada em projetos de engajamento de torcedores, entende que o problema será encontrar maneiras de evitar a debandada de sócios e o não pagamento das mensalidades.
— O grande desafio é manter os torcedores adimplentes em um momento de baixo engajamento com o clube. Mal comparando, é o que acontece nos intervalos sem jogos entre as temporadas. Só que agora vivemos este panorama sem sabermos ao certo o prazo para isso acabar — analisa o especialista.
No Vasco, uma reunião na próxima segunda-feira pretende tratar do assunto.
— Estamos planejando uma série de ações nesse sentido. Não definimos exatamente quais são. Está sendo pensado. Uma das coisas seria prorrogar o prazo como sócio. Estamos avaliando os impactos —, afirmou o presidente Alexandre Campello.
Torcedores se dividem e alguns topam ajudar clubes
A previsão do Vasco para 2020 é arrecadar R$ 48 milhões com sócio-torcedor. Com bilheteria e venda de jogos, mais R$ 20 milhões. O clube é hoje o que tem mais membros em seu programa, o Sócio Gigante, com 180 mil pessoas. Muitos que aderiram na chamada Black Friday, como o empresário Rodrigo Torres, 34 anos, morador da Tijuca. Segundo o torcedor, o clube deveria dar a opção de cancelamento ou devolver o valor sem uso no futuro de outra forma, mas caberia aos vascaínos continuar ajudando neste momento difícil.
— Seria legal o clube dar opção da restituição durante a quarentena, pois não presta o serviço contratado. Eu continuaria o pagamento. Se o clube quisesse dar corteria lá na frente, seria legal reconhecer o torcedor que não o abandonou. Entrei para ajudar, é tudo pelo clube — defende Rodrigo, que paga até maio R$ 80.
No Flamengo, que ultrapassa os 120 mil sócios no Nação Rubro-negra, o desafio é ainda maior. Alcançar meta do orçamento que prevê R$ 96 milhões com o programa, e R$ 108 milhões em bilheteria de jogos nesta temporada.
Através da assessoria instucional, o clube indicou que não deve fazer mudanças imediatas, mas em contato com o serviço de atendimento ao cliente, funcionários indicaram que uma orientação seria dada no site do Flamengo em breve. Daniel Bonvivi, gerente do sócio-torcedor do clube, foi procurado e não quis se posicionar. "Nossa prioridade é cuidar dos funcionários e atletas nesse momento", disse o Flamengo.
Paula Silva Alvarenga, 27 anos, esperava que o clube tivesse postura semelhante a do Palmeiras, e lamentou que o programa de sócio tenha uma comunicação ruim com a torcida.
— Em uma semana isso vai continuar e queria que o Flamengo tivesse uma postura de ajudar todo mundo, mas a comunicação do sócio-torcedor é bem ruim — afirma a torcedora, cujo plano anual se encerra em dezembro, e tem gasto de quase R$ 400 por mês no Mais Paixão.
— Os meses que não tem nada eles podem dar de bônus, como março. Ou dar um mês a mais, eles não perderiam dinheiro e ajudariam a gente. O Palmeiras está revertendo o valor — comparou.
Tempos de criatividade
O GLOBO apurou que o Botafogo, até o fechamento desta edição, não registrou pedidos de cancelamento em massa. O clube considera que a torcida está sendo compreensiva. A ideia que a diretoria analisa é estender o prazo de término dos pacotes, evitando prejuízo aos sócios. A estimativa do ano era arrecadar R$ 9 milhões com os planos e R$ 11 milhões em bilheteria.
— Tem pouca informação até agora. Minha fatura está paga, ainda não falaram o que vão fazer. Não penso em cancelar, eu pago a taxa e faço o plano dos jogos. Já que é para ajudar o Botafogo, não tenho necessidade de mexer, apesar de financeiramente não saber o que vai acontecer - disse Marcello Diniz, taxista que ganhou notoriedade na internet ao gravar um vídeo exclamando "Gatito, herói, pegou" na final do Carioca de 2018.
- É um desafio grande criar formas do programa, e mesmo do clube como um todo, entrar no dia-a-dia dos sócios e dos torcedores sem termos jogos acontecendo. É preciso ser muito criativo para pensar em novas formas de interação e de conteúdo que consigam trazer os torcedores para perto em um momento em que a concentração de todo mundo está em outros temas bem mais urgentes - completa André Monnerat, da Feng.
O Fluminense ainda não votou a previsão orçamentária de 2020. A reunião aconteceria dia 27 de março.
Fora do Rio, o Fortaleza se posicionou através do presidente Marcelo Paz:
- Ainda é prematuro pensar em alguma mudança nos planos, mas estamos em constante monitoramento em caso de a situação permanecer por um período maior. Não sabemos quando os jogos vão voltar, por enquanto eles não foram cancelados, mas adiados, e até por isso a demanda permanece - explica.
- De qualquer maneira vamos aguardar, saber por quanto tempo as competições vão ficar paradas e como vai ficar o calendário. Nosso clube sempre deu total atenção ao torcedor e ao sócio em geral, por meio de ações constantes e medidas que privilegiassem nosso público. Estamos em atenção.