Quando Anitta entrou no palco para se apresentar no Prêmio Multishow na Arena da Barra, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, nesta terça-feira, trouxe, além de um repertório recheado de hits como "Will I See You", "Is That For Me", "Paradinha" e "Sua Cara", um corpo de dançarinos que acabou sendo um show à parte. Em seu espetáculo de inclusão, a Poderosa mesclou suas bailarinas habituais com um modelo plus size, uma dona de casa, uma cadeirante, um rapaz com Síndrome de Down e uma atleta paralímpica de natação. Se 2016 foi um ano especial para Camille Rodrigues com a participação na Paralimpíada do Rio de Janeiro, em 2017 ela realizou seu sonho de, enfim, dividir o palco com a artista que tanto admira.
Muito assídua nas redes sociais, a jovem de 25 anos tem o costume de publicar vídeos dançando. Inclusive, já postou imagens fazendo coreografias da cantora, como a do hit "Paradinha" (assista abaixo). E, claro, sempre marcando nessas postagens o perfil da Poderosa. Nesta terça-feira, Camille viveu a experiência de integrar o balé da artista e não decepcionou. Amputada desde os quatro anos de idade, ela, que usa uma prótese, surpreendeu até mesmo a artista com sua desenvoltura.
- Fiquei impressionada. Incrível a facilidade, mobilidade. Para mim, é uma coisa que seria muito difícil. Isso passa uma força... Quando o público olha isso no palco, te passa tudo, uma energia boa, te passa força! - relatou em entrevista exclusiva à TV Globo e ao GloboEsporte.com a Poderosa, que levou os prêmios de "Melhor Cantora", "Melhor Música", com "Sim ou Não", e "Música Chiclete", com "Loka", que tem participação de Simone e Simaria.
Anitta explicou que Camille Rodrigues foi selecionada por sua coreógrafa Arielle Macedo e prontamente aprovada por ela. A Poderosa já conhecia seus vídeos no Instagram.
- Encarreguei a minha coreógrafa (da escolha), eu tinha essa vontade. Queria mostrar que era possível ter todo tipo de gente fazendo todo tipo de trabalho. Para o Prêmio, eu quis expandir isso: "Eu quero o balé mais diferenciado que você conseguir: eu quero idosos, quero anão, quero pessoas com deficiência. Quero tudo. Eu já conhecida vídeos dela. Minha coreógrafa comentou dela: "Lembra daquela menina?". Eu falei: "Chama ela". Eu achei incrível. Era a mensagem que eu queria passar, o que eu sonhei. A mensagem que eu quero passar é: eu não estou ajudando ninguém. Eles me dão irreverência, um palco lindo, uma mensagem, é tudo - falou.
A atleta do Vasco da Gama competiu a Paralimpíada do Rio de Janeiro em 2016, mas não subiu ao pódio. Suas principais conquistas foram nos Jogos Parapan-Americanos. Ela foi ouro nos 400m livre, 100m costas e 100m livre e bronze nos 50m livre em Toronto 2015. Em 2011, a paduana foi medalhista de prata nos 100m livre, 400m livre e 100m costas e bronze nos 50m livre. Se as conquistas no esporte são muitas, ser chamada por Anitta para dividir o palco do Prêmio Multishow foi uma realização pessoal sem igual.
- Sempre fui fã da Anitta e sempre postei muitos vídeos com as músicas dela. Quando soube, falei: “Ai meu Jesus Cristo, não pode ser”. Minha mãe falou: “Não pode ser verdade”. Ela ficou muito feliz. Se eu não viesse deficiente, acho que muitas coisas na minha vida não teriam acontecido. Hoje eu sou recordista brasileira (ela tem seis marcas nacionais nas provas 100m livre, 50m livre, 100m costa, 100m borboleta e 400m livre), fiz parte do balé da Anitta, já conheci vários países. Meu pais falam que sou muito corajosa e que tem medo das minhas atitudes, porque eu não tenho medo de me jogar. Eu me jogo - comentou Camille.
Aí vai uma sequência de tirar o fôlego com os looks bafônicos do meu tapete vermelho! #PrêmioMultishow
Apaixonada pela dança, ela faz aulas de Fit Dance. Seus vídeos fazem sucesso, e Camille já tem 190 mil seguidores no Instagram atualmente. A atleta afirma que dançar a faz se sentir livre e que estar em um mesmo palco que Anitta não parecia um sonho possível de ser realizado.
- Eu postei um video na internet... Fez sucesso, as pessoas gostam. Quando não boto, pedem. O sentimento que eu tenho é liberdade, quando eu estou dançando. Muitas pessoas acham que deficiente não pode ser bailarino. Na verdade, todo mundo pode dançar. A proposta é essa: liberdade, você sentir, se expressar. A "Paradinha", que todos nós entramos, é a inclusão. Nunca pensei que eu ia dividir uma hora um palco com ela - admitiu.
Camille Rodrigues nasceu em 13 de abril de 1992 com uma má formação genética. Ela cresceu na cidade fluminense de Santo Antônio de Pádua. Depois de ter sua perna direita amputada com apenas quatro anos de idade, passou a usar prótese e, aos 13 anos, iniciou a prática esportiva da natação na Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andref).
- Eu estava começando uma atrofia na bacia, e aí a médica me indicou a natação. Foi começando como tratamento, mas com 13 anos eu estava começando a ganhar das pessoas sem deficiência na minha cidade - lembrou.
A categoria de Camille no código internacional de classificação funcional é S-9 , na qual "S" significa swimming, natação em inglês, e 9, o grau de deficiência. A-9 incluir atletas com "lesão medular na altura de S1-2, ou pólio com uma perna não funcional, ou amputação simples acima do joelho, ou amputação abaixo do cotovelo".