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Paulinho quer deixar o Bayer Leverkusen e não descarta retorno ao Brasil

Lá se vão quatro anos desde que Paulinho pegou um avião rumo à Alemanha para viver o sonho europeu. Tanto tempo faz parecer que já é um veterano. Ele disputou 72 partidas pelo Bayer Leverkusen, marcou oito gols, sofreu uma grave lesão no joelho direito e foi campeão olímpico pela seleção em Tóquio. Mas, na última sexta-feira, o atacante completou apenas 22 anos. A partir de agora, entra num ciclo importante de sua carreira, já visto (e cobrado) como adulto. E é justamente atrás deste crescimento que ele vai. O ex-Vasco comunicou ao clube alemão que não quer seguir na próxima temporada. Aguarda a rescisão para mudar de casa. Quer novos ares e mais espaço para se desenvolver e ir atrás de seus sonhos. O principal deles é a seleção brasileira e a Copa de 2026. Sempre, claro, com a proteção de seu pai Oxóssi.

Como é ir tão novo para um país como a Alemanha?

Na época eu tinha 17 anos. Se eu dissesse que queria jogar mais no Vasco, queria. Era muito novo, acho que tinha muita bagagem ainda para ganhar. Mas foi o que o momento pediu. Essa questão da viagem, de mudar de país e de cultura foi um choque no começo. Mas depois de três, quatro meses a gente se adaptou. Consegui entender mais ou menos a língua. Mas sabemos que a cultura, a mentalidade esportiva são diferentes. Leva um tempinho para adaptar.

A mentalidade esportiva é diferente em que sentido?

Não tem muita regra no Brasil. Aqui, tem. No dia a dia você vai percebendo modos de treinar, formas de falar. Isso tudo tem diferença. E você vai se adaptando aos poucos a esse modelo. Ou não. Ou você vai com a sua personalidade, vai com o que você acredita. Foi o meu caso. Por sempre jogar com muitas seleções europeias, vivenciando muito esse ambiente na base, já tinha um bom lastro para poder chegar aqui e não sofrer tanto com a cultura do futebol.

Qual o pró e o contra de um brasileiro estar num clube europeu já com 18 anos?

O contra é não estar no nosso país, não ganhar essa bagagem no Brasil. Acho importante uns dois anos a mais no Brasil. Para ganhar mais bagagem profissional. E mais moral também. Você chega diferente na Europa. A forma como te olham... Quando você chega muito novo, é visto como um garotinho. Aqui eles têm muito essa questão de hierarquia. No treinamento e até na hora de escalar o time às vezes você percebe. Mas tem a estrutura. Você joga competições de nível muito bom, adquire disciplina também.

Você inicia o último ano de contrato com o Bayer. Entende que é um ano importante para mostrar mais o seu futebol? Até porque, em algum momento, vai precisar definir o futuro...

Para mim, o meu futuro já está decidido. O clube já sabe que eu não quero ficar para a próxima temporada. Estão bem avisados, e estamos finalizando a parte burocrática com relação ao contrato para poder sair.

A próxima temporada que você diz é esta agora?

Esta agora mesmo.

Então não fica no Bayer?

A princípio, não. Não é o que quero. Espero que, para onde eu for, possa fazer uma boa temporada, com certeza, jogar mais e poder cumprir minhas metas.

O que você busca?

Quero novos ares. Passei quatro anos na Alemanha. Uma cultura muito diferente. É bem difícil para um brasileiro viver e se adaptar aqui, apesar de eu ter conseguido. Foi uma boa experiência. Tive também uma lesão muito grave no joelho. Foi um momento muito difícil. Ainda mais durante a pandemia. Fiquei um ano e meio sem voltar ao Brasil, sem ver parte da família. Procurei ir à Olimpíada. Consegui, fui campeão olímpico. Nessa última temporada joguei muito mais no Bayer e terminei bem. Acho que é o melhor momento, onde me sinto pronto para sair e vivenciar uma nova experiência onde eu seja feliz.

Tem um novo clube em vista?

O primeiro objetivo é acertar os detalhes com o Bayer. Claro que já tem conversas com outros clubes. Mas, por não ter nada definido no papel (com o Bayer), então não há nada certo com ninguém.

Uma nova experiência não é uma volta para o Brasil, isso?

Não descarto. Tem Brasil e tem Europa. A gente sabe que hoje o nível do futebol brasileiro está muito bom. Diferentemente de alguns anos atrás. E tem a Europa também. Já estou aqui, né? Muitos clubes procuraram.

Você tem uma história muito forte com o Vasco. É possível imaginá-lo jogando no Brasil em outro clube?

A gente nunca pode dizer o que vai acontecer no futuro. É claro que o Vasco está sempre no meu coração. Não perco um jogo. Mas não posso dizer se vou voltar para o Vasco ou se vou para outro time. O futuro é muito incerto. Mas com certeza um dos meus sonhos é poder um dia voltar ao Vasco e dar mais alegria à torcida.

Essa escalada de violência contra jogadores e técnicos não afeta a vontade de voltar?

É uma cultura que tem no nosso país e que não é de agora. Quando eu estava no Vasco, houve momentos em que a torcida tentou invadir. Na época que eu era da escola do Vasco, a gente via protestos. A escola tendo que fechar, e os alunos correndo. Acho que é um processo de longo prazo, porque é uma cultura bem enraizada. O futebol no nosso país mexe muito com a emoção. Mas não é algo que eu vá romantizar. A gente sabe que é muito grave. E temos que continuar lutando.

De que forma?

Com os próprios jogadores protestando e os clubes e a instituição que cuida do futebol brasileiro, a CBF, se posicionando. É importante sempre bater nessa tecla.

Por falar em luta, uma das bandeiras mais caras a você é a da intolerância religiosa. Como foi receber, em junho, as medalhas (Tiradentes, da Alerj, e Pedro Ernesto, da Câmara Municipal, no Rio) como reconhecimento por esta postura?

Quando aconteceu o que fiz na Olimpíada (comemorou um dos gols com o gesto da flecha de Oxóssi), eu não esperava a repercussão tão positiva. Na verdade, não esperava nenhuma. Não fiz para aparecer ou levantar bandeira. Foi simplesmente um gesto natural homenageando meu pai Oxóssi, por saber que aquele dia da semana era dele. Quinta-feira é de Oxóssi. A convocação ia sair numa quinta e a própria estreia da seleção também. Então já estava na minha cabeça que, se fizesse o gol, faria o gesto. E foi uma repercussão maravilhosa. Muitas pessoas vieram falar comigo, mandaram mensagem, se sentiram representadas. E acho que isso foi o mais gratificante. Poder ajudar pessoas a se libertar.

Por falar em pessoas poderem se libertar, o que achou do Richarlyson falar publicamente sobre a bissexualidade dele?

Representa muitas pessoas e acaba encorajando outras a se libertarem. A gente tem que lutar contra todas as intolerâncias. Falamos muito do racismo, do preconceito religioso e do contra os homossexuais por serem os mais expostos, os mais violentos. Mas serve para todos os tipos de preconceitos. Acho que essa luta é muito válida, ainda mais passando por nós, pessoas públicas, que levantam sempre essa bandeira, colocam esses assuntos em pauta.

Acha que o Brasil está mais ou menos intolerante a estes temas desde que você saiu?

A tecnologia, as redes sociais deram acesso a muitas coisas para os dois lados. Tanto com temas importantes sendo mudados de forma positiva como negativas também. Fico mais espantado com as barbaridades que sempre acontecem. Desde 2018 piorou bastante, né? Desde a última eleição. Mas a gente espera que possa dar uma amenizada. A gente sempre espera um Brasil melhor.

Esse próximo ciclo, para a Copa -2026. deve marcar a ascensão da sua geração na seleção. Você pensa nisso?

A seleção sempre foi o maior dos meus sonhos. Jogar uma Copa, participar de todo aquele processo, com Eliminatórias e tudo mais. Tenho isso tudo como objetivo e vou trabalhar muito para conseguir.

Falando do futebol brasileiro, este ano o Vasco sobe?

Com certeza. Tem que subir. Acho que o Vasco está fazendo uma boa competição e tem tudo para conquistar essa vaga na Série A e se manter nela por muitos anos brigando por título. O Vasco merece, a torcida também.

Fonte: Agência O Globo
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