Em conversa om a Goal, o atacante passou a limpo suas últimas temporadas e impressões do futebol europeu e brasileiro
Sonho com um futuro de protagonismo nas seleções brasileiras e no futebol europeu, mas sem esquecer do passado como jogador do Vasco da Gama. Paulinho deixou São Januário em 2018 como venda mais cara já realizada pelo Cruz-maltino, que recebeu cerca de 20 milhões de euros do Bayer Leverkusen. Na Europa, o atacante vê a próxima temporada com empolgação após se recuperar de uma lesão no joelho que lhe tirou quase um ano de futebol entre 2020 e 2021.
Em entrevista exclusiva para a Goal Brasil, Paulinho revelou que pensa em voltar um dia ao Brasil e torce para o Vasco, hoje na Série B, estar novamente na elite do nosso futebol para “poder dar mais alegrias à torcida”. O atacante também torce para estar na lista da seleção olímpica, a ser divulgada pelo técnico André Jardine e garante: ainda não acha impossível conseguir uma vaguinha no grupo de Tite para o Mundial de 2022. Confira, abaixo, como foi a conversa com o jogador de 20 anos.
Lesão no joelho e período de recuperação
“Uma das piores lesões que eu tive, senão a pior. Foi um momento difícil, um choque, até porque eu estava vivendo um momento bom pelo clube, crescente... Foi um choque por tudo o que eu estava vivendo e por tudo o que eu tinha vivido também no começo do ano, com a seleção olímpica”.
“Foi um período de muita evolução mental, uma busca de energias boas para a recuperação fluir bem e para eu não ter algum problema durante este percurso que todos sabem que é muito difícil. Ainda mais pra quem ama o que faz. Mas eu me recuperei bem, me preparei bastante durante este período. Quando eu voltei fiquei muito feliz com a volta. E agora é só manter o trabalho para poder, nos próximos desafios, estar preparado para o que vier”
Qual foi a maior dificuldade durante este período de recuperação?
“Foi tentar manter a cabeça boa, tentar manter a energia boa. A saúde mental boa. Porque é um período difícil, quando você está acostumado a treinar todo dia, a jogar todo fim de semana.... Pra gente é um choque, porque a gente está sempre querendo jogar, estar adaptado a uma coisa e do nada você tem que parar. Aí já entra um outro foco. E a gente fica um pouco ansioso para poder jogar, porque é um período bastante longo. Aí tem que ter muita paciência, tranquilidade e discernimento... mas eu consegui botar o foco na recuperação, tirei o foco de todo o resto para não ter nada para atrapalhar na recuperação”.
O que significa o Vasco na sua vida?
“O Vasco foi minha segunda casa durante uns dez anos aí, antes de eu ser vendido. Eu dormi no Vasco, estudei no Vasco, fiz tudo no Vasco. Joguei futsal... Eu chegava no Vasco de manhã e saía de noite só".
"E isso a gente acaba criando uma identidade, uma energia boa entre os funcionários, jogadores, porque é muito tempo que a gente passava junto. E até hoje eu sei que devo todo o carinho ao clube que me revelou, que me deu todo o suporte para eu estar onde estou hoje. E eu sou muito grato a eles. Vou estar sempre torcendo para que o Vasco esteja sempre crescendo”.
Como vê o time atual do Vasco?
“Esse ano eu não acompanhei tanto, mas quando eu cheguei no Brasil agora (férias) vi alguns jogos já... Eu espero que o Vasco, neste ano, possa fazer um bom campeonato na Série B. A gente sabe que é difícil, porque o Vasco é um time grande e tem que sempre brigar por títulos na elite do futebol, que é a Série A. E acho que o Vasco tem tudo para subir neste ano. E com o apoio da torcida... é uma das torcidas mais fanáticas que eu vi no Brasil e eu sei que quando eles dão suporte para a gente, para os jogadores que estão lá dentro, nada consegue parar o Vasco. Ainda mais em São Januário”.
Já imaginou uma parceria com Cano?
“Nunca parei pra pensar nisso não (risos), mas eu acompanhei bastante o Vasco no ano passado e vi que ele fez bastante gol. Realmente mostrou a que veio no Brasil e ganhou a torcida. E isso é muito bom para o Vasco, o Vasco precisa bastante disso, deste jogador que faz a diferença, que faça sempre os gols, e acho que ele está sendo bastante importante neste momento do Vasco”.
Só defenderia o Vasco no Brasil?
“Eu sou bastante profissional e nunca fechei a porta de lugar nenhum, até porque a gente não sabe o dia de amanhã. Mas, como eu falei, o Vasco sempre vai ser minha segunda casa e sempre vai ser o primeiro clube que eu vou estar disposto a ajudar de qualquer maneira. Eu espero que o Vasco possa estar sempre crescendo para que no futuro a gente possa se encontrar. A gente nunca sabe o dia de amanhã, e quem sabe a gente possa se encontrar num futuro bonito para eu poder dar mais alegrias à torcida”.
Pensa em voltar pro Brasil por agora ou só a longo-prazo?
“Em um primeiro momento o meu objetivo é ficar na Europa. Eu tenho objetivos bem grandes, mas é claro que é um passo de cada vez. Eu sempre procure viver assim, fazer minha carreira assim, temporada a temporada, mas não sei dizer se será num futuro próximo ou num futuro longo. É bem difícil, porque tudo pode mudar muito rápido e a gente não sabe o que pode acontecer daqui a duas ou três temporadas”.
Vasco seria o seu time favorito, o que você escutaria primeiro, em uma eventual volta?
“Com certeza seria o Vasco. A primeira coisa que eu procuraria seria o Vasco. O Vasco está na minha vida, sempre esteve. Até quando eu não jogava futebol a minha mãe sempre foi muito fanática pelo Vasco, e o Vasco sempre esteve presente na minha vida”.
Maior dificuldade quando chegou na Alemanha e no que melhorou?
“O maior choque acho que foi na chegada, o choque de cultura, porque é bem diferente do que a gente vive no Brasil. As pessoas são mais frias, o ambiente em si no país, no clube, é bem diferente do que a gente vive no Brasil. No começo a gente sentiu um pouco, acho que é normal de qualquer pessoa, por causa da diferença. Mas logo depois consegui me adaptar e me sentir confortável dentro do clube, no dia a dia, treinamento, língua e fui aprendendo isso com o tempo e fui me sentindo muito bem. Em um ano eu já estava me sentindo bem, confortável em tudo isso”.
“E o que eu mais evoluí, acho, foi a paciência, a saúde mental... ter mais tranquilidade. Porque a gente vive com bastante emoção no Brasil, né? (risos) E na Europa já não é tanto assim. Então o que eu mais aprendi foi a ter mais paciência com tudo, em relação a tudo na vida”.
Antes de sofrer a lesão, o que estava faltando para o Paulinho ser titular absoluto no Leverkusen? Era a competição com o Kai Havertz (hoje no Chelsea)?
“Não, não. Pra mim nunca teve competição nenhuma. Eu sempre estive preparado para qualquer momento e sempre esperei minha oportunidade. E todas as vezes que que eu tive oportunidade de jogar mesmo eu consegui fazer bons jogos, consegui ter bons números".
"Acho que não faltou nada não, só faltou o treinador (Peter Bosz) me botar pra jogar mesmo. Eu sempre me senti preparado, treinando bem e treinando bastante, para chegar nos momentos em que eu tivesse oportunidade eu fazer meu papel, mostrar meu talento, o que eu posso dar pro clube. E eles sempre notaram isso, tanto que quando me deram a oportunidade eu consegui fazer dois gols e dar assistência no meu primeiro jogo como titular”.
Meta para a próxima temporada
“Tem as Olimpíadas... tem que sair a convocação ainda mas eu estou bem preparado para poder ter esta oportunidade também. E eu vou trabalhar bastante. Eu sempre estive bem focado, e agora mais ainda, depois da minha recuperação, eu me sinto bem e tranquilo para poder chegar nesta próxima temporada aí e mostrar o que eu posso dar. E espero que seja uma boa temporada para mim e para o clube também”.
O Jardine mudou muitos nomes na última convocação da seleção olímpica e disse que vai dar preferência ao momento dos jogadores... Você foi um dos jogadores mais importantes no pré-Olímpico. Qual é sua expectativa para a convocação?
“Eles sempre souberam que eu estive preparado para este momento, claro que eu tive a lesão há um ano, mas a gente sempre teve uma relação muito boa. Eu com a comissão técnica e com o próprio treinador, o Jardine. Ele sabe bem do que eu posso agregar para a equipe, e eu sei bem o que posso agregar. E eu me sinto bem para a oportunidade que ele me der, se ele confiar em mim eu vou estar preparado para poder ajudar a seleção como eu sempre busquei fazer desde quando eu sou convocado, desde os meus 14 anos".
"Vamos ver o que pode acontecer. Tudo pode acontecer. Eu estou com a minha cabeça muito tranquila. O que vier eu vou estar sempre tranquilo e focado sempre no próximo objetivo. Se vier a convocação vou ficar muito feliz, e espero ajudar bastante nas Olimpíadas, e se não vier também é bola pra frente e focar na próxima temporada porque tem muita coisa boa pra vir”.
E ainda acha que dá pra pegar um lugar na seleção principal para 2022?
“Disputar uma Copa do Mundo é o meu maior sonho, ainda mais pela seleção brasileira, que tem uma importância imensa no mundo. É como eu falei: sempre procurei trabalhar por etapa. E é claro que eu sempre vou ter este sonho de jogar Copa do Mundo. Mas não é impossível não. É possível sim. Ainda tem um ano para a competição acontecer, é uma temporada. Mas vou estar focado em fazer meu bom trabalho pelo clube e a seleção vai ser consequência”.
Tem preferência por algum campeonato europeu?
“Se pintar oportunidade eu vou estar preparado. A Espanha tem um futebol muito bom, a Inglaterra também tem um campeonato muito bom.... são campeonatos de um nível top. A Alemanha também, a própria Bundesliga também é um campeonato muito bom, de um nível bem alto, e todos os jogadores querem participar dessas grandes ligas né?”
Quem é o seu espelho no futebol?
“Eu nunca tive isso... sempre procurei ter a minha própria identidade e meu próprio estilo. Mas claro, quero ter números bons iguais a Cristiano Ronaldo, Messi, igual ao Mbappé está fazendo agora. O próprio Neymar, nossa referência no Brasil... são estes jogadores Top que a gente almeja sempre buscar os números deles. Mas eu sempre me espelhei muito no Cristiano Ronaldo, por ser um cara bem focado. Eu me pareço muito com ele neste sentido, de ser bem focado e saber bem o que quer na vida. Acho que é ele quem eu mais pareço, neste sentido da cabeça, mas eu sempre procure ter o meu próprio estilo jogando bola”.