Paulo Autuori nunca escondeu que trabalhar no Vasco representava um sentimento diferente e que, por isso, há muito tempo não sentia-se tão feliz profissionalmente. Na tarde da última quarta-feira, ele finalmente realizou o desejo de comandar a equipe do seu coração. Assim, aquele discreto profissional até começou a partida contra o Olaria mantendo a sua linha. Mas ao longo dos 90 minutos e até o apito final do empate em 0 a 0 ele foi um técnico vibrante e que procurou fazer o grupo jogar no ritmo dos seus gestos.
Quando o árbitro deu início à partida, Paulo Autuori estava sentado no banco de reservas. Parecia que, por ser uma estreia, estava ali mais para observar do que para instruir. Mas pouco tempo depois, teve-se a certeza de que o treinador estava empenhado em fazer o mais rapidamente possível do Vasco um time à sua semelhança. Passou o tempo todo à beira do gramado.
No momento de acompanhar uma jogada, Autuori cruzava os braços. Mas logo gesticulava muito, com movimentos curtos e rápidos. A maioria deles era direcionada a Eder Luis. Queria ver o atacante aparecendo para o jogo e ajudando a recompor a defesa quando o Vasco não tinha a bola. Mostrava aos jogadores a necessidade da bola trabalhada e da chegada ao ataque com velocidade.
À medida que o tempo foi passando e o Vasco não conseguia fazer o gol que o aliviaria, Paulo Autuori foi mostrando mais agitação. Aplaudia as jogadas mais expressivas como uma arrancada de Dedé ao ataque que levantou a torcida no primeiro tempo. Passou a olhar com mais frequência o relógio no punho direito usando sempre os óculos de grau pendurados no pescoço. Antes de uma cobrança de falta ou escanteio fosse contra ou a favor baixava a cabeça e olhava o gramado, como se estivesse se concentrando para executar a batida.
Pouco afeito a reclamações com a arbitragem, passou a se dirigir ao juiz apenas a partir do final do primeiro tempo. Mesmo assim, no máximo abrindo os braços para questionar uma decisão. Pouco antes do intervalo, mostrou desânimo com uma jogada errada e foi para o banco de reservas. Mas logo estava de volta à beira do gramado.
No segundo tempo, com a situação mais complicada, Autuori teve uma movimentação mais intensa. Levou as mãos à cabeça e demorou alguns segundos para reagir ao gol perdido por Eder Luis, a chance mais clara do Vasco no jogo. Aplaudiu o atacante. Os braços ficaram menos tempo cruzados e os gestos se intensificaram. Mas o time não acompanhou o ritmo das mãos do treinador. E nem precisou o jogo chegar ao final para que ele tivesse a certeza de que vai precisar arregaçar as mangas e colocar a mão na massa para fazer o time evoluir.
- Nós vamos chegar a um ponto melhor, mas não vai ser de qualquer maneira. Eu me recuso a fazer as coisas de qualquer maneira - resumiu.