Paulo César Gusmão chegou ao Vasco no ano passado e encontrou um clube combalido que vivia com salários atrasados e ocupava a vice-lanterna do Brasileiro. A reestruturação começou e, aos poucos, o time foi conseguindo mudar a realidade. Naquele momento foi plantada a semente que acabou germinando neste ano com a conquista da Copa do Brasil. Só que quem colheu foi Ricardo Gomes, que assumiu seu lugar após um início de ano terrível com três derrotas consecutivas no Campeonato Carioca.
Hoje no Atlético-GO, PC Gusmão reconhece que ajudou na montagem do grupo campeão. Ele lembra que acabou lançando jogadores que foram importantes na conquista como o lateral/volante Allan e o volante Romulo. Além deles, nomes como Felipe e Eder Luis começaram a readaptação ao futebol brasileiro sob seu comando. No entanto, ele garante que não se sente nem responsável ou parte do grupo que conquistou a Copa do Brasil. Ao falar do título, ele exalta o trabalho de seu substituto.
- Montamos uma base e revelamos alguns jogadores. O Allan comigo jogava como volante, o Romulo eu lancei, o Fagner teve uma sequência sob o meu comando... Quando eu cheguei, o Dedé estava prestes a ser negociado e eu pedi sua permanência. Hoje em dia eu vejo torcedores falando que ele quase saiu porque pisou no pé do Carlos Alberto e hoje brincam dizendo que sentem medo dele voltar para pisar no pé do Dedé (risos). Pedi a concentração do Anderson Martins e do Bernardo também... A base estava lá, mas o Vasco precisava do que aconteceu. O resgate e o entrosamento do grupo campeão pertence ao Ricardo Gomes por tudo que ele fez - afirmou PC, lembrando também da Mercosul e da Taça João Havelange.
- Falam que o Oswaldo de Oliveira tem mérito no título, mas quem garante que ele seria campeão? Quem estava lá e decidiu foi o Joel Santana. É mais ou menos a mesma coisa - afirmou.
A saída conturbada ele deixa para trás. Segundo PC, nunca houve qualquer tipo de problema de relacionamento com jogadores ou diretoria, apenas circunstâncias que impediram a continuidade de seu trabalho. Tanto não houve mágoa que ele garante que irá falar com todos antes de a bola rolar na noite deste domingo, no Serra Dourada. E foi além, lembrou das raízes vascaínas ao garantir que vibrou e muito com o título inédito.
- O carinho por esse grupo e pela instituição é eterno. Nunca escondi de ninguém que eu e minha família somos torcedores do Vasco e ficamos felizes demais com a conquista. Foi uma época em que o Atlético não estava jogando durante a semana e eu pude acompanhar ao lado da minha esposa todos os jogos. Foi uma bela campanha - reconheceu.
Hoje PC Gusmão desfruta de uma realidade diferente. No comando do Atlético, que conquistou o primeiro bicampeonato estadual neste ano, vê um clube buscando o prestígio de outrora e investindo pesado em estrutura para construir um caminho na elite do futebol brasileiro. Em parceria com o diretor de futebol do clube, Adson Batista, ajuda na caminhada e diz que todos os clubes do Rio precisam de algo parecido com o que tem no CT do Dragão. Confira abaixo os principais trechos do bate-papo realizado durante uma rápida visita pelos alojamentos e campos do clube goiano.
GLOBOESPORTE.COM: Olhando para trás agora, o que acha que deu errado no início do seu trabalho este ano no Vasco?
PC Gusmão: Não foi fácil. Tivemos pouco tempo de pré-temporada, as contratações não foram todas feitas, os salários estavam atrasados e ainda tinha jogadores pedindo para sair, como foi o caso do Zé Roberto que sentiu logo no seu primeiro treino e queria ir para o Internacional. E a cobrança da torcida era grande, afinal de contas eles viram o Flamengo trazer o Ronaldinho Gaúcho, o Fluminense ser campeão Brasileiro e o Botafogo também contratando. E nós apostando mais na base e em uma reformulação.
Mas esperava um início tão ruim com três derrotas consecutivas?
- A expectativa pelo Carioca era alta, mas isso no fim foi muito ruim. Enfrentamos os três times mais bem preparados e estruturados entre os pequenos - Resende, Nova Iguaçu e Boavista. Além disso, ainda tivemos problemas de regularização de jogadores importantes como o Dedé e o Anderson Martins. Ninguém lá entrou para perder. Realmente foram as circunstâncias. A gente pôde dar uma ajuda na reformulação, mas no fim não deu certo para a gente.
A boataria que cercou sua saída incomodou? Como viu os jogadores como Romulo e Eder Luis pedindo respeito ao trabalho realizado?
- Os jogadores sabem como nós trabalhamos. Um dos motivos para eu não ter dado entrevista quando saí foi justamente esse. O treinador não tem de ficar falando. Se a diretoria optou pela nossa saída foi porque não conseguimos o resultado. E eles sabem bem que eu não iria ficar falando para atrapalhar a continuidade. Priorizamos o grupo e a entidade. Cheguei em um clube que ocupava a vice-lanterna e conseguimos conquistar a Copa da Hora. Depois livramos do rebaixamento e conseguimos a vaga para a Sul-Americana. Fomos premiados naquele sacrifício todo.
De longe, o que mudou da sua saída para o Vasco que terminou campeão da Copa do Brasil?
- Chegaram jogadores experientes e decisivos como o Diego Souza e o Alecsandro. O time ficou com uma maturidade maior. Além disso, a diretoria iniciou uma reformulação interna. E esta conquista resgatou o que a torcida queria: um Vasco forte, de volta a Libertadores e que vive um grande momento. O Ricardo também está de parabéns por ter resgatado a auto-estima desse grupo.
Você falou nos reforços contratados e agora o Vasco ainda trouxe o Juninho de volta. Acredita que ele terá condições de brilhar como antigamente?
- O Juninho é um ídolo. Da forma como o grupo do Vasco está equilibrado, ele vai encaixar como uma luva. Será uma peça importante por tudo que representa na história do clube. O Vasco recentemente vivia uma carência de ídolos e hoje tem uma referência como ele e o Felipe. Isso é maravilhoso.
Aqui no Atlético você conquistou o Campeonato Goiano. Almeja saltos maiores?
- Temos de dar um passo de cada vez. Nosso primeiro objetivo no Brasileiro e se manter na Primeira Divisão. Se tudo correr como planejamos podemos pensar em uma vaga na Sul-Americana. Mas o mais importante é ver este clube resgatando a tradição com um trabalho bem feito. Não podemos fugir da nossa realidade e temos de valorizar cada tijolinho construído.
A estrutura do CT impressiona quem entra pela primeira vez. É o que falta nos clubes do Rio?
- Eu falo pelo Vasco, que foi onde trabalhei recentemente. Aconteceram reformas nos vestiários e na sala de musculação que deram ainda mais conforto para o grupo. Mas só treinar em São Januário é algo que complica demais. Lá é o campo de jogo e o desgaste pode atrapalhar. A permanência do Rodrigo Caetano vai ser fundamental para que o planejamento continue. Aqui, por exemplo, não temos grandes luxos, mas tudo é funcional. Temos condições de realizar um grande trabalho. Aqui estão os campos de treinamento, sala de musculação, hotel, refeitório... Se quero privacidade em um treino eu consigo. Isso é o básico. Torço para que não só o Vasco como os outros do futebol carioca consigam dar este passo importante.