"Rolou a bola, Juninho Paulista, bateu na defesa, emendou Romário... GUARDOU! É CAMPEÃO! É CAMPEÃO! É CAMPEÃO! Gooooool, é do Vasco! DO VASCO! DO VASCO! É do milagre, é da vitória, é na raça, é o rei Romário. É o quarto gol. É de virada. É inacreditável. Eu quero ouvir o hino do Vasco campeãããão" Foi dessa maneira que Luiz Penido narrou o gol do Vasco que ele considera inesquecível. Nem é preciso dizer que é o quarto gol na vitória por 4-3 sobre o Palmeiras, na final da Mercosul de 2000. O locutor da Rádio Globo, também passou ao longo da carreira pelas rádio Tupi e Nacional e na TV, onde apresenta o Tempo Extra, na CNT, falou sobre aquela partida e como explodiu naquele momento.
- O jogo inesquecível que eu narrei do Vasco foram vários, mas o jogo dos jogos é o Vasco 4-3 no Palmeiras. Aquele momento era tão fantástico pelo ineditismo. Ninguém esperava que o Vasco fosse conseguir uma vitória depois de estar perdendo por 3 a 0 no primeiro tempo, ter um jogador expulso... o Júnior Baiano levou cartão vermelho e o Vasco foi na garra, na raça na coragem. Aquele título conquistado foi realmente O JOGO. Parece que é o jogo da história do Vasco. Ele é muito marcante. Claro, o gol do Juninho, lá no Monumental, também é, mas esse jogo contra o Palmeiras supera tudo - conta o Penidaço, antes de ressaltar que esse gol não sai da memória da torcida do Vasco:
- O gol que a torcida quando me encontra na rua mais se lembra, fala, posta no Youtube, reposta, fala em todas as redes sociais é o gol desse jogo. É o gol que finalizou com chave de ouro a conquista da Copa Mercosul. O Romário fazendo quando ninguém mais esperava, nem o próprio Vasco, a verdade é essa. O lance foi tão comovente que ao narrar eu cheguei as lágrimas. E a galera do Vasco também. Tanto que esse é o gol ao qual os torcedores mais fazem referência.
O narrador acredita que esta narração ficou eternizada por ter gritado como um torcedor mesmo, já que naquela transmissão ele realmente estava torcendo para o Gigante da Colina conquistar o título:
- Eu acho que o torcedor gostaria de fazer justamente aquilo. E naquele momento, como eu amo o Vasco, eu fiz o que o torcedor faria porque eu também estava torcendo pro Vasco tanto quanto o torcedor que estava no bar, na arquibancada, em casa... ele gostaria de fazer aquilo vascainamente, genuinamente, com alma, coração. Eu inclusive fui às lágrimas e acho que entreguei o torcedor o que ele esperava de mim diante daquela virada, fulminante, emocionante e com título.
CLIMA DE GUERRA EM GUAYAQUIL
Outro título histórico do Vasco narrado por Luiz Penido foi a conquista da Libertadores da América, em 1998, quando o Cruzmaltino derrotou o Barcelona-EQU. Penido recorda aquele jogo de volta, que selou o título, como o maior perrengue que passou na carreira. Desde a chegada ao Equador, até a ida para o estádio, a hostilidade do povo equatoriano com a delegação do Gigante da Colina e os jornalistas brasileiros foi enorme e assustadora. (No vídeo abaixo, a narração do primeiro jogo, em São Januário)
- O maior perrengue que eu passei narrando jogo do Vasco foi ganhando jogo e título, então vou chamar de perrengue do bem. Mas foi realmente muito brabo. Eu era o único locutor titular presente no estádio, narrando o jogo e o clima que precedeu o jogo a gente nem sabia que em Guayaquil eles tinham composto uma música que era "La Copa no se vá" e quando chegamos lá, encontramos um clima de hostilidade. Quando chegamos lá, já foi um perrengue. A pista estava lotada, o saguão do aeroporto, tudo... tivemos que descer pela parte militar do aeroporto. Levados em conduções especiais em condições absolutamente anormais, com polícia armada até os dentes, porque os caras estavam armados até os dentes. Entramos no hotel pelos fundos porque na porta a aglomeração era tamanha e ficou intransitável e aquele bicampeonato conquistado no Estádio Monumental Isidro Romero Carbo, num clima da maior hostilidade que já vi. Nunca vi nada parecido. Era uma coisa que eles queriam demais. Só que a gente queria também e já estava 2-0 pro Vasco, mais os dois gols lá, só aí que o clima arrefeceu. A coisa foi pesada. Foi braba. Durante o percurso, na chegada, o Luiz Mendes era o comentarista e estava sentado ao meu lado e eu no corredor num microônibus blindado. No caminho pro estádio jogaram um paralelepípedo que estorou na direção dele, se nao fosse blindado, só Deus sabe o que iria acontecer. Foi uma coisa absolutamente alucinante. Ainda bem que o Vasco meteu a taça lá no alto e botou mais uma faixa no peito - explica o locutor.
VASCO DOS SONHOS COM 12: "ALGUÉM SE VIRA AÍ"
Desafiado pelo Site Oficial do Vasco para montar o Vasco dos sonhos, Penido escolheu dois times. O primeiro foi só com jogadores que ele viu jogar e transmitiu jogos:
- O melhor Vasco que eu narrei eu montaria com Carlos Germano, Válber, um craque que jogava bem em todas as posições, Dedé, Mauro Galvão e Felipe, o Mazinho foi um grande lateral, mas fico com o primeiro. Luisinho, Geovani e Juninho Pernambucano; Edmundo, Roberto Dinamite e Romário. Esse ataque, meu Deus do céu, que ataque é esse, hein. Fora do normal.
Já a segunda equipe, recorrendo a litetura, o locutor surpreendeu e escolheu 12 jogadores. Na brincadeira, ele disse que não tem como colocar só três jogadores no ataque tendo jogadores como Ademir Menezes, Edmundo, Romário e Roberto Dinamite:
- Agora, um 11 de todos os tempos, vou recorrer a literatura e alguns jogadores que eu não vi jogar. Como por exemplo, Barbosa no gol. Não lembro de outro no nível do Válber na lateral-direita. Bellini, Mauro Galvão e Felipe. Danilo, Geovani, Juninho Pernambucano e Ademir Menezes; Edmundo, Dinamite e Romário. Meu time ficou com 12, alguém vai ter que se virar pra tirar um. No meu coube ou 12, a Fifa não deixa, mas eu vou tirar o Edmundo e deixar o Ademir Menezes, artilheiro da Copa de 50? Vou tirar o Roberto, maior artilheiro da história? Vou tirar o Romário que fez o milésimo e nasceu pro futebol com a camisa do Vasco? Não dá pra tirar, alguém se vira aí e tira um jogador. Não posso tirar o Ademir também. Que time. Olha a riqueza de atacantes da história do Vasco. Que coisa sensacional.
BATE-BOLA
Luiz Penido, narrador da Rádio Globo
1. Você é uma das vozes mais conhecidas do país e principalmente aqui no Rio de Janeiro, é sempre lembrado pelos torcedores que o escutavam no estádio e nas resenhas pós jogo na volta pra casa. Como é ter esse importante reconhecimento?
O reconhecimento é o melhor pagamento que a gente pode receber. Eu sempre tive o maior carinho pelo Vasco e nas vezes em que os torcedores, isso acontece com todos os clubes, mas como estamos falando do nosso Gigante, é o que eu chamo de salário moral. Ele dá um combustível excepcionalmente grande para o jogo seguinte, para a próxima partida, para as próximas competições, o porvir. Esse amor retribuído é muito gratificante. É tudo de bom.
2. Uma das marcas registradas nas suas narrações são os bordões como "nas ondas do rádio", "barato bom, barato bom é do Vascão", "e o que resta dessa festa?", "rala rala", "Fortalece a massa".... eles surgem naturalmente? Como você criou essa identidade?
Os bordões nascem no rádio com o Waldir Amaral, depois foram se aperfeiçoando, criando outros e como eu nasci numa equipe comandada por ele, era uma coisa natural que eu incorporasse ao meu vocabulário. Mas eu tinha que ter as minhas próprias expressões. Então, "barato bom é do Vasco", "o que resta dessa festa", "rala, rala"... e tudo mais que é dito nas ondas do rádio é uma coisa que vem surgindo e com o tempo eu vou atualizando isso na gíria da pelada, o que os envolvidos falam, seja a torcida na entrada do estádio, das músicas que são cantadas pela galera, da música popular brasileira, seja ela samba, samba-enredo, funk. Nas ondas do rádio é um bordão da música Rádio Pirata, do RPM, é uma coisa que tem que dar um F5 permanentemente. Criei essa identidade através da originalidade dos meus bordões, embora eu não tenha inventado o bordão na transmissão esportiva e sim o Waldir Amaral.