\"Agarra demais, a muralha da Colina se chama Fernando Prass\". É com esse grito, que tem um funk como origem, que a torcida do Vasco costuma saudar seu goleiro antes de cada partida. E ultimamente o apelido tem sido mais do que justo. São sete jogos sem saber o que é levar gol (ao todo, 677 minutos), sendo cinco vitórias e dois empates no período. Os números o deixam perto de recordes, tanto do clube quanto da história do Campeonato Brasileiro.
Pelo Vasco, o detentor da mais longa marca é Acácio, que passou nove partidas seguidas sem ser vencido pelos atacantes. No Brasileirão, o Palmeiras de 1973 conseguiu impedir os adversários de marcar em dez oportunidades consecutivas, uma a mais do que o São Paulo de 2007, que lidera a estatística na era dos pontos corridos.
Ídolo do clube e preparador de goleiros de Fernando Prass, Carlos Germano elogia muito seu pupilo e enxerga nele características suas e do atual recordista vascaíno.
- Eu e Prass temos muitas coisas parecidas: a tranquilidade, o fato de ser um líder dentro de campo. Essas coisas funcionam, são importantes. Ele é arrojado, nisso lembra muito o Acácio. Ele tem um lado muito técnico também, que é na hora de esperar o momento da definição do atacante. É uma característica dele. O tempo de reação dele é muito bom, e a gente confia bastante. É o ponto mais forte dele - analisou.
Para Germano, Fernando Prass está perto de se tornar o que ele, Acácio e Mazaropi foram para o Vasco.
- O trabalho que ele faz, com a tranquilidade que tem, é muito bom. É questão de tempo, a perfeição só chega dessa forma. Não adianta atropelar as coisas. O tempo vai mostrar, ele é um líder. Eu estou há muito tempo no clube e sei que ele é uma referência, como foi Mazaropi, Acácio e Carlos Germano. O Prass está nesse caminho. Nos dias de hoje é muito difícil ficar muito tempo em um clube, e ele está - afirmou.
Prass chegou a São Januário em 2009, quando o Vasco se preparava para a disputa da Série B do Campeonato Brasileiro e vinha de um rodízio constante de goleiros nos anos anteriores. Precisou vencer a concorrência de Tiago, que foi contratado com status de goleiro-artilheiro. Aos poucos, ganhou espaço e a confiança dos torcedores, mas já foi alvo de críticas, principalmente sobre suas saídas do gol. Germano reconhece a deficiência de Prass no fundamento, mas pondera que a torcida tem de ser grata por tê-lo em sua meta.
- O cara que não souber conviver com as críticas tem que parar de jogar. Isso é normal, até porque é Vasco da Gama, não é um clube qualquer. O Fernando é muito bem preparado psicológica e mentalmente para suportar a pressão de qualquer time. Criticam porque ele não pega pênalti e que não sai do gol. O torcedor vascaíno tem que agradecer por ter o Prass. Ficou cinco anos batendo cabeça com goleiro. Isso é normal, faz parte do cotidiano. Pode não sair muito do gol, mas compensa de outras formas - disse Germano.
Prass é líder no quesito de pênaltis defendidos no Brasileiro: é o único que fez duas defesas, diante de Grêmio e Figueirense (veja esta no vídeo). Segundo Germano, o camisa 1 costuma desafiar os jogadores em cobranças durante os treinamentos e se dá bem com frequência.
Os elogios ao goleiro se estendem a todo o sistema defensivo do time, que contribui para o momento:
- O Prass vive um momento bom, mas o time também está bem organizado. A parte defensiva está excelente, com o meio-campo, laterais e defesa. Muitas vezes o próprio Alecsandro ajuda lá atrás nas bolas paradas, então essa invencibilidade é fruto do conjunto - comenta.