Nessa semana, o preconceito voltou a ser tema nos noticiários. Houve a polêmica do deputado federal Jair Bolsonaro, que disse que seus filhos não se relacionariam com negras porque foram bem educados. Além disso, o atacante Neymar, defendendo a seleção brasileira na Inglaterra, viu uma banana ser atirada na sua direção, dentro de campo. Um cenário marcante para o jogo deste domingo entre Vasco e Bangu, que se enfrentam no dia em que a equipe de São Januário veste pela primeira vez o terceiro uniforme, em homenagem ao time que, em 1923, foi o primeiro campeão estadual com negros em seu plantel.
A bandeira da igualdade une as duas equipes e provoca discussão. O Bangu reclama ter sido o primeiro clube a aceitar negros, antes mesmo do Vasco, e reuniu documentos que comprovam que, em 1905, um ano após a fundação do clube, já havia um negro no elenco.
O Vasco não é pioneiro na questão racial, ou na ampliação do esporte para outros setores sociais. O futebol só começou em 1916 e em 1923 eles, enfim, chegaram à Primeira Divisão. No dia 14 de maio de 1905, o Bangu já tinha o jogador negro Francisco Carregal, fato documentado inclusive com foto e com longa crônica escrita por Mário Filho no clássico livro \"O negro no futebol brasileiro\", de 1947 disse o pesquisador Carlos Molinari.
O argumento de que o Bangu foi pioneiro na abertura a jogadores negros é reconhecido pelo Vasco:
O Bangu começou tendo negros no clube. Inclusive, o Luis Antonio da Guia, irmão do Domingos da Guia, já tinha jogado na década de 10. O Vasco só teve negros em 1923. Foi o primeiro campeão tendo negros no time. Em 24, criaram uma nova federação e convidaram o Vasco, mas com a condição de excluir 12 jogadores por ocupação duvidosa. O Vasco se insurgiu por uma carta do presidente José Augusto Prestes, que mudou o futebol brasileiro. Com isso, o Vasco passou a ter a simpatia de quem não olhava para futebol por não distinguir cor, credo ou classe econômica. afirmou o diretor de patrimônio João Ernesto.
Independentemente de quem foi o primeiro, os dois clubes fizeram um grande serviço: abriram as portas do futebol brasileiro para os negros. Um golaço da igualdade racial, dentro e fora de campo.