Torcida

PM tem conhecimento das brigas, diz chefe de organizada

A morte de Diego Martins Leal, de 30 anos, na tarde do último domingo, vítima de uma briga entre torcedores do Vasco, pelo qual torcia, e do Flamengo, momentos antes do clássico, válido pela 18ª rodada do Campeonato Brasileiro, suscitou novamente uma velha discussão no futebol brasileiro: como evitar a violência planejada entre facções organizadas?

Surgiram políticas públicas, como a criação do Estatuto do Torcedor, em 2003, e, mais recentemente, do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no qual as torcidas se comprometiam com inúmeros termos pré-estabelecidos — o que incluía não brigar. Contudo, apesar da criação de tais medidas, o país não se enquadrou no que se era esperado e atingiu, em dez anos, a vergonhosa liderança mundial no número de mortes de torcedores, ultrapassando Itália e Argentina.

Querendo entender o que realmente acontece, o SRZD entrevistou um diretor de uma organizada de um grande clube do Rio de Janeiro. O torcedor preferiu a discrição e por isso alteramos seu nome. Também não quis que identificássemos seu time. Na entrevista que se segue, ele explica os procedimentos feitos antes dos jogos, e os erros que ainda permitem que as confusões aconteçam, fazendo uma dura crítica à Polícia Militar, que, para ele, poderia intervir para o fim dos conflitos.

\"Essa história de acabar com as organizadas já tem um tempo. No inicio do ano passado foi assinado o TAC, em que as torcidas se comprometiam com várias coisas, inclusive em não brigar. Depois disso, todas as torcidas, em vésperas de clássicos, são obrigadas a enviar ao GEPE (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios) seu local e horário de concentração, e como irão ao estádio (trem, metrô, a pé, ônibus alugado etc.), e todos os materiais que entrarão no estádio (bandeiras, faixas, baterias)\", disse.

Marcadas em sua maioria através de redes sociais na internet, as brigas são caracterizadas pela violência e pela covardia, em que o uso de armas de fogo é frequente. Para Fernando, devido a essa presença de armas, há uma disparidade entre as organizadas durante as brigas.

\"Todos sabemos que é impossível acabar com as brigas de torcida. É uma coisa que vem de muitos anos atrás, e nunca vai acabar. A diferença de antigamente para agora é a internet. É claro, antigamente as brigas pra mostrar qual torcida ‘mandava mais’ eram mais ‘leais’, ‘na mão’. Hoje, com a facilidade de se adquirir armas de fogo, raramente você consegue ter um embate entre as torcidas, porque um dos ‘bondes’ sempre atira primeiro\".

O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), criado em meados de 2011, prevê punições brandas em um primeiro momento às facções que tiverem membros envolvidos em confusões, sendo agravadas dependendo da reincidência.

\"Segundo o TAC, as punições se iniciam mais leves, como a perda de materiais por um jogo, até a extinção da organizada. Essa punição de três anos prevista visa que a facção tenha fim por si só, para que o MP não precise pedir a interrupção das atividades da torcida\".

Fernando ainda acusa a Polícia Militar de fazer vista grossa na marcação dos confrontos, que geralmente acontecem próximos a cabines da PM.

\"As maiores brigas de torcida atualmente acontecem ‘embaixo do nariz’ da Policia Militar, pois elas acontecem sempre nos mesmos locais. Bastaria que o batalhão local colocasse uma viatura no local que as coisas melhorariam bastante. Por exemplo, em Jacarepaguá, onde aconteceu umas das brigas em que torcedores foram baleados: todo jogo tem briga ali naquela praça. No Méier, todo jogo entre Fluminense x Vasco tem briga ali, ao lado da cabine da PM. Ou seja, os pontos de brigas são mapeados. Todos sabemos aonde as brigas acontecem, menos a PM, que finge que não sabe\".

Procurada pela reportagem, a PM não quis comentar as acusações, sugerindo que o diretor entre em contato com o Disque-Denúncia a fim de formalizar uma acusação contra a instituição.

\"A PM não repercute informações que não possuam dados concretos. É necessário que o diretor entre em contato com o Disque-Denúncia, no 2253-1177 e faça a sua denúncia\", informou a assessoria de imprensa da corporação.

\"O que deveria acabar não são as torcidas, mas sim esses pseudo-torcedores que não aguentam brigar na mão e ficam dando tiro a torto e a direito (muito mais torto que direito). Torcedor organizado vai na mão. Quem dá tiro é bandido e tem que ser tratado como tal\", concluiu o torcedor.

Fonte: SRZD - Sidney Rezende
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