Policiais da Delegacia do Consumidor (Decon) do Rio de Janeiro continuam debruçados sobre a investigação que tenta pôr fim ao esquema de desvio e ingressos para os jogos no Estádios do Maracanã e de São Januário. Com base em denúncias anônimas e escutas telefônicas autorizadas pelo Ministério Público, a polícia deteve dez pessoas para averiguações e trabalha agora no inquérito que visa acabar com a evasão de renda nos jogos promovidos nos dois estádios.
— Temos informações de que o grupo agia há mais de uma década — diz o delegado Rodrigo Oliveira, diretor do Departamento de Polícia Especializada, colocando o dedo numa das mazelas mais alarmantes dos grandes jogos de futebol no Rio .
Para a polícia, o esquema desvendado envolve funcionários da empresa que confecciona ingressos para os jogos, bilheteiros e cambistas. Um sistema articulado que começou a ser desbaratado na última semana, às vésperas do jogo decisivo do Brasileiro entre Flamengo e Grêmio, após quase dois meses de investigação da operação denominada “Gol de mão”.
Irmãos no grampo Para policiais envolvidos no caso, os bastidores revelam que o esquema de evasão de rendas pode ser maior e mais rentável do que se imagina. No jogo contra o Grêmio, por exemplo, cálculos preliminares estimam que R$ 4,5 milhões seriam faturados na venda de ingressos com ágio de até 500% se os suspeitos não tivessem sido detidos. Com eles, foram apreendidos oito mil ingressos destinados à gratuidade.
Entre os detidos, estão o gerente da BWA, Fulvio Silva do Nascimento, que confecciona e vende ingressos dentro do Maracanã; e seu irmão, Fagner do Nascimento, supervisor da empresa. Os dois tiveram os telefones grampeados e suas conversas sustentaram a investigação.
Segundo os policiais da Decom, após a confecção dos ingressos os irmãos os desviavam para os cambistas com preços mais altos. As meia entradas eram vendidas como se fossem inteiras.
No grampo, Fulvio e Fagner, que já vinham sendo investigados, negociam entradas para o jogo Flamengo x Grêmio depois de os ingressos já estarem esgotados nos postos de venda. A polícia alega que os irmãos exibem patrimônios não condizentes com suas respectivas rendas salariais, como carros de luxo e motocicletas.
Num dos grampos obtidos pela polícia, Fúlvio fala, no dia 3 de dezembro — quando os ingressos para a final do Brasileiro já estavam esgotados — com uma pessoa não identificada sobre 30 cadeiras para o jogo do Maracanã. Em outra ligação, negocia para receber o valor de R$ 1.560 por uma venda.
A polícia não conseguiu provas de envolvimento da cúpula da BWA, que tem sede em São Paulo, no esquema de desvio dos ingressos. Os irmãos e mais quatro funcionários, além de quatro cambistas (um deles, Guarda Municipal), presos no sábado, já foram liberados pela 32ª Vara Criminal.