O Peru deixou de ser uma atração para os brasileiros apenas pelas ruínas de Machu Picchu ou os famosos ceviches na culinária. O país sul-americano se tornou a nova sensação do futebol brasileiro. Os jogadores peruanos contaram com habilidade e o baixo custo para superarem o preconceito e se tornarem a segunda força estrangeira no país.
O primeiro desta nova \"safra\" a chegar ao país foi Ramírez, contratado pelo Corinthians em 2011, vindo do Universitario. O jogador, negociado com o time de Campinas, diz acreditar que a evolução do futebol de seu país nos últimos anos foi fundamental.
O nível individual do jogador peruano está muito bom, o nível da seleção também melhorou. A tabela das eliminatórias não é boa para a gente agora, mas se você ganha um jogo, já vai para cima. Acredito que a evolução do futebol peruano nos últimos anos é evidente.
A ascenção, de fato, é recente. Desde a geração de ouro da década de 70, o futebol peruano viveu um ostracismo, nunca conquistou um título da Libertadores e não disputa uma Copa do Mundo desde 1982. Mas a profissionalização recente e os talentos individuais conseguiram se sobressair.
O preparador físico do Vasco, Luiz Otávio, ajudou na negociação de Yotun com o Vasco. Ele trabalhou no Peru entre 1992 e 1994, quando era preparador do Ovación Sipesa e do Sporting Cristal, um dos times locais de maior tradição.
É um país que tem jogadores muito técnicos, de muita qualidade. Na época, eles não tinham muita força física, mas isso mudou muito. Eles têm uma habilidade nata, são inteligentes para jogar. Às vezes uma jogada que você nunca treinou, ele fazem bem. Não é um futebol forte, de choque ou violência, disse.
As redes sociais, a velocidade da informação e a transmissão de vários jogos pelas emissoras de televisão também se tornaram um grande aliado na divulgação do futebol peruano. A Libertadores-2013, por exemplo, tem três representantes do país que serão vistos e observados por jornalistas, clubes, empresários e olheiros.
O empresário Luiz Carlini foi o responsável por trazer Ramírez, Guerrero e Ruidíaz ao Brasil. Ele destaca a importância da maior visibilidade do futebol peruano. O jogador do Coritiba, por exemplo, marcou dois gols contra o Vasco nas quartas de final da Copa Sul-Americana de 2011, quando atuava pelo Universitario, do Peru.
Os clubes disputam a Libertadores e você acaba visualizando um atleta de qualidade, faz contatos e desenvolve um trabalho. Eles acabam jogando contra equipes brasileiras. As comissões técnicas, empresários, não só eu, todos eles, ficam de olho e veem o nível técnico, analisou.
Economia forte e sonho com a Europa
A questão financeira influencia diretamente o desembarque de tantos peruanos no Brasil. Na visão de Luiz Otávio, o crescimento econômico do Brasil e as dificuldades financeiras do Peru são fundamentais para o número de transações.
Ele conta que os salários no país banhado pelo Oceano Pacifício ainda são muito baixos, o que leva a duas consequências: o desejo do peruano em atuar no Brasil pela visibilidade e possibilidade de aumentar a renda; e a facilidade de os clubes brasileiros fazerem contratações que não pesem no bolso.
Para mim, o fundamental é a questão econômica. Existe uma grande dificuldade de se encontrar atletas no Brasil com um baixo preço. O cara aqui faz meia temporada boa e já vale uma fortuna. Peru e Bolívia têm atletas de qualidade, mas são mercados mais baratos. Isso contou na vinda do Yotun para o Vasco, disse.
O pensamento é compartilhado pelo empresário responsável pela nova safra de peruanos no futebol brasileiro. Grandes nomes retornaram ao país pela questão econômica. O Guerrero estava havia dez anos na Alemanha e preferiu ir para o Corinthians. Você vê o Seedorf no Botafogo, o Pato saindo do Milan. O Brasil é a menina dos olhos do futebol.
RAMÍREZ ADMITE QUE SOFREU PRECONCEITO NO BRASIL; CONFIRA O PING PONG
O Brasil se tornou um mercado atraente para os atletas do Peru?
Sim. Se alguém me pergunta no meu país, falo bem do futebol brasileiro. As ligas de maior nível são Brasil e Argentina. Dá um \"plus\" para nós peruanos jogar no Brasil. E jogando aqui no Brasil temos mais possibilidades de atuar na Europa.
Você foi o primeiro da atual safra a vir para o Brasil. Você se considera um pioneiro?
Pode ser, pode ser. Nunca falei desse tema, mas acho que sim. O começo foi difícil, mas depois de alguns anos aqui, as coisas foram bem e deram certo. Eu estou contente com o que aconteceu comigo.
Você sofreu algum tipo de preconceito quando chegou por ser de um país pouco difundido no futebol?
Senti, senti sim. Mas eu tinha consciência de que eu tinha de entrar no campo e mostrar para quem não acreditava no jogador peruano que eu poderia render. Mas hoje sou campeão da Libertadores e do Brasileiro. O Peru não vivia um bom momento futebolístico, mas estamos muito bem.
Qual é a escola do futebol peruano? Há uma característica comum entre vocês?
O jeito do peruano é jogar bola no chão e ser atrevido. É um tipo de jogador que tem personalidade. Tem muito jogador bom jogando fora do país.
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