Todas as confusões dos últimos pleitos não foram suficientes para os agentes políticos do Vasco aprenderem. Faltando ainda mais de um ano para a próxima eleição, ela já está à beira de viver sua primeira judicialização, outra vez envolvendo o quadro de associados.
Há duas frentes de processos com iminência de acontecer: de um lado, as centenas de pessoas que foram barradas de ingressar na categoria que dá direito a voto em 2020 mesmo tendo pago até três meses de mensalidade após o clube definir a redução da taxa de adesão.
O veto partiu do presidente cruzmaltino, Alexandre Campello, que em comunicado aos mesmos, se baseou no artigo 14 do estatuto vascaíno para dizer que "a diretoria não é obrigada a dar os motivos da recusa".
A dura postura no caso revoltou sócios, torcedores e até mesmo alguns aliados do dirigente. Muitos dos que foram diretamente afetados com a decisão já informaram que irão ingressar na Justiça contra a medida e grupos políticos têm se oferecido para prestar assessoria jurídica.
Paralelamente ao caso das pessoas impedidas, há uma polêmica interna entre o presidente da Assembleia Geral, Faues Mussa, e Alexandre Campello.
Desde abril, Mussa - que tem como atribuição de seu cargo organizar a eleição - protocolou uma série de solicitações na secretaria do clube com o intuito de obter uma lista nominal e detalhada dos sócios que entraram e saíram em todos os meses, os que não se recadastraram (que, teoricamente, ficam impedidos de votar), além dos sócios-proprietários, remidos, etc. Porém, segundo o dirigente, ele nunca conseguiu obter.
"Eu já tentei de tudo. Agora não tem mais o que fazer. Não vou mais fazer reunião com ele (Campello). Já pedi, ele prometeu me entregar e não me entregou. Vou tomar uma medida talvez mais drástica, porque é um absurdo o presidente da Assembleia Geral não ter direito a listagem de sócios", declarou Mussa ao UOL Esporte ressaltando que tem sido cobrado:
"Não vou esperar mais. Tem sócio me cobrando, conselheiro me cobrando... Dizem que vão fazer uma eleição transparente e, não sei por que, não me entregam a lista de sócios. Se está tudo certo, não tem problema, não é?".
O Vasco alega dar transparência à questão dos sócios desde quando colocou uma aba em seu site oficial com o mesmo nome onde há um resumo, em números gerais, dos sócios ativos com a quantidade de cada categoria a partir de maio de 2019, dividindo entre os sócios estatutários (com direito a voto) e os sócios-torcedores.
Esta, por enquanto, foi a única ao qual Mussa teve acesso, algo que, em sua avaliação, é insuficiente para elaborar todo o processo eleitoral de 2020.
Entenda o caso
Após o Conselho Deliberativo votar pela redução da taxa de adesão para a categoria que dá direito a voto (sócio-geral), cerca de mil vascaínos ingressaram com o pedido até o dia 15 de agosto, que foi o prazo máximo dado para quem quisesse participar da eleição de 2020.
O plano, porém, prevê que, para se associar, a pessoa precisa de um sócio proponente para assinar sua ficha de inscrição e também de uma aprovação pelo presidente do clube, Alexandre Campello.
Passados até três meses de mensalidades pagas, centenas de torcedores ainda não tiveram uma resposta sobre suas situações, o que têm gerado reclamações dos mesmos e críticas por parte da oposição, que acusa Campello de estar "peneirando" os novos associados.
O presidente vascaíno, então, foi cobrado pelo Conselho de Beneméritos e o respondeu em carta alegando que a demora se dá por supostas movimentações suspeitas na adesão dos postulantes à sócios-geral, detalhando alguns itens como: ônibus fretado para associação em massa; plantões de sócios no clube para assinarem como proponentes - com casos de até 130 propostas assinadas pelo mesmo proponente; e primeiras mensalidades pagas com cartões de crédito de terceiros (veja na carta em anexo).
Até o momento, pouco mais de 400 pessoas tiveram suas propostas aceitas e a tendência é a de que o número não se altere tanto, com centenas tendo seus ingressos na categoria de sócio-geral vetados por Campello.
Veja a íntegra do comunicado:
"Viemos através deste informá-lo que sua proposta de sócio-geral do Club de Regatas Vasco da Gama, infelizmente, foi indeferida. Referente à justificativa da recusa, segue trecho do artigo 14 do estatuto:
'As importâncias de que trata o presente artigo ficarão em depósito e serão devolvidas, desde que não seja aceita a proposta. A diretoria não é obrigada a dar os motivos da recusa'.
Em breve, entraremos em contato para mais informações quanto à devolução do valor despendido no ato da proposta".