Dívida grande, penhoras, processos judiciais e o sentimento de tratamento diferenciado. O Fluminense vive atualmente um dos seus períodos financeiros mais delicados nos últimos anos. O bloqueio nas receitas de direitos de transmissão, venda de atletas e outros prêmios por parte da PGFN (Procuradoria Geral da Fazenda Nacional) ligou o sinal vermelho. A solução encontrada: ir a Brasília buscar apoio político no cabo de guerra com o órgão federal.
A irritação por considerar-se asfixiado pela PGFN fez o presidente Peter Siemsen ir à capital na última segunda-feira. Na pauta, encontro com senadores, representantes do Ministério da Fazenda e uma proposta de pagamento do débito que permita ao time honrar outros compromissos. Dos políticos, o mandatário ouviu promessas de ajuda, tanto na discussão da dívida, quanto nas últimas penhoras, em especial da venda do atacante Wellington Nem.
A bomba de R$ 31 milhões do Fluminense explodiu em 2012, mas foi fabricada antes, durante anos de gestões que não fizeram o pagamento de imposto de renda retido na fonte e previdência. Uma tentativa de acordo com a Fazenda para que a dívida com a União fosse parcelada em quatro ou cinco anos, com prestações mensais de pouco mais de R$ 1 milhão, foi rejeitada.
Ao mesmo tempo, praticamente todas as receitas foram bloqueadas para execução da dívida. A última delas foi a venda do atacante Wellington Nem ao Shakthar-UCR. Sem dinheiro, a solução tem sido buscar empréstimos e antecipar alguns ativos. A visão interna de má vontade fez com que Siemsen recorresse às instâncias superiores.
Nos encontros na capital do país, o mandatário tricolor pediu que a situação do clube seja revista e levou documentos comprovando a intenção de pagar o que deve. Em março, o Flamengo conseguiu o acordo para pagamento da dívida com a Fazenda em parcelas, justamente a situação pleiteada pelo rival das Laranjeiras. O Vasco está muito próximo do mesmo trato para obter as Certidões Negativas de Débito e anunciar o patrocínio de R$ 20 milhões da Caixa.
Tentando evitar uma crise ainda maior com a Fazenda, o Fluminense não se pronunciará publicamente sobre o tema até ter uma definição. Uma coletiva do presidente deve acontecer nos próximos dias para esclarecer o assunto. Em blogs de grupos políticos, porém, textos acusam a entidade federal de tentar desestruturar o time das Laranjeiras e de oferecer mais facilidades ao clube da Gávea.
No final de 2012, a desembargadora Salete Maccalóz determinou a centralização de todas as execuções da PGFN na 9ª Vara, em parcelas menores, de R$ 1,127 milhão mensal. A medida, porém, acabou não tendo o efeito desejado por conta de uma outra decisão judicial desfavorável.
Flamengo não vê favorecimento
Se o Fluminense destaca sua intenção de pagador, argumentando que já quitou mais de R$ 40 milhões em impostos correntes e atrasados desde 2011, início da atual gestão, o Flamengo se defende do suposto benefício. Na visão do clube da Gávea, os R$ 40 milhões pagos no início do ano para obtenção das Certidões Negativas de Débito foram responsáveis por abrir caminho para o acordo.
Além disso, o vice-presidente de finanças Rodrigo Tostes argumenta que o clube ofereceu os contratos de patrocínio com Adidas e Peugeot para pode parcelar o restante do débito. Segundo ele, o time da Gávea desembolsa pelo acordo R$ 5 milhões por mês para o pagamento de atrasados, além de outros R$ 2 milhões em impostos correntes.