Quem entra no gabinete da presidência, em São Januário, logo se depara com um homem de olhar cansado. O ex-atleta incorporou à rotina, diariamente pela manhã, um remédio para pressão alta. À noite, o comprimido é para controlar taxas que saíram do padrão. Regularmente, Roberto Dinamite é visto em audiências na Justiça do Trabalho. Após anos como a única figura simbolicamente forte o bastante para levar ao poder o grupo de oposição a Eurico Miranda, Roberto completou seu primeiro ano à frente do Vasco lidando com mais problemas do que esperava. Diz ter herdado um clube em estado mais grave do que supunha. Mas enfrenta mais contestações e alcançou menos resultados no futebol do que poderia imaginar.
O Vasco hoje é um clube aberto e mais profissional. Ao fechar contratos, mostra a verdade diz Roberto.
Espera pela Eletrobrás ganha contornos de drama
De fato, há propostas de campanha cumpridas à risca. O clube se abriu, processo que culminou no novo programa de sócios. O Vasco anunciou todos os valores de negociações como Eletrobrás e Penalty. Mas internamente, há contestações. O Conselho Fiscal acusa demora na prestação de contas e falta de envio de documentos contábeis ao órgão. O presidente alega não ter tido acesso a documentos da gestão anterior: Estou agora assinando documentos de tudo o que pagamos para enviar.
O início foi traumático. Após batalha judicial, Roberto chegou ao poder na nona rodada do último Brasileiro. Cinco meses depois, veio o rebaixamento e o senso comum de que Roberto herdara um clube enfraquecido.
Mas cobrava-se de uma gestão que prometera uma fila de investidores e trabalhara quase três anos para assumir, um plano de emergência: Estávamos no meio da competição. Não havia jogador no mercado. Antônio Lopes pediu um zagueiro e Roque Júnior custava R$ 150 mil por mês. Não tinha nada em caixa. Só entrou o dinheiro da venda do Philippe Coutinho diz Roberto.
A profissionalização prometida se iniciou. Mas os custos altos geram discussão, principalmente no futebol. O Vasco terminou 2008 operando em déficit mensal superior a R$ 2 milhões.
A meta de não fabricar dívidas em 2009 seria inviável e o clube avançou pouco nos cortes.
Mantém 530 funcionários já teve 430 há três anos. O orçamento de 2009 previa gastos de R$ 16 milhões no futebol. O clube, oficialmente, diz gastar R$ 1,5 milhão por mês e projeta R$ 18 milhões anuais. Até dentro do clube há quem garanta que os números são maiores.
O orçamento contava com recursos que não entraram, como Eletrobrás, cotas de TV que estavam comprometidas por antecipações, além da inadimplência da Champs. Roberto anuncia um estudo para cortar funcionários.
De janeiro a junho de 2008 (gestão anterior) o Vasco contratou 120 pessoas. O Vasco de 2010 ainda terá muita dificuldade financeira. Mas será referência em cumprir compromissos.
Salário aqui sempre atrasou. Hoje, se tem manifestação de funcionário, são sempre os mesmos. Parece dirigido.
A asfixia financeira tornou um suplício a espera pela Eletrobrás, antes vista como salvação.
Contratos com estatais exigem certidões que atestem a ausência de dívidas públicas. O Vasco, após sete meses do acordo, só agora poderá assinar. Razões para que se cobrasse um plano B.
Até se pensou, mas a cada dia tinha um incêndio a solucionar no clube. Era necessidade de dinheiro para pagar funcionários, rebaixamento. O contrato da Eletrobrás prevê um trabalho social na região de São Januário, permitia mostrar que o Vasco estava preparado para ter uma parceria deste porte. A negociação passou por prefeito, governador, presidente.
No futebol, quase 30 jogadores foram contratados em 2009 e ganharam prioridade. Os salários, ao contrário dos funcionários, estão em dia. Por vezes, com aportes do empresário Carlos Leite, escolhido para conduzir a montagem do elenco, outra medida que faz a oposição se exaltar. Roberto diz que a venda de Morais ajudou a quitar parte das dívidas com o agente.
Carlos Leite é um grande vascaíno, a relação não é só de empresário. No início, sequer se fazia documento das negociações.
Hoje, mais de 50% do compromisso com ele está resolvido.
O caso do Morais tirou do Vasco uma situação que só poderíamos resolver na frente. E ele (Leite) não estava cobrando.
Dinamite não esconde certa frustração com o rendimento do time na Série B: Nem esperávamos o início tão bom no Estadual e Copa do Brasil. Precisamos reverter. O esforço é muito grande para cumprir obrigações e queremos em troca esta vontade do time.
Roberto lidou com grave crise política na saída do vice de marketing, José Henrique Coelho, presidente do MUV, grupo que sustentou a candidatura: Nada foi feito para cortar gastos e compromissos de competência e transparência não foram cumpridos. Não participo de nenhum estelionato, principalmente eleitoral diz Coelho, afirmando que o MUV, antes desmobilizado, voltará a se reunir.
Ao sair, Coelho acusou Roberto de agir como deputado.
Ou seja, sem medidas duras de austeridade. Outra crítica foi o emprego de parentes que seguem no clube. O cunhado, Leonardo Marins, é secretário particular.
O sobrinho, Victor, trabalha no futebol de base. Já o genro, Gérson, é sócio da empresa de logística do futebol.
Hoje, os opositores apontam gastos desnecessários, como dois diretores financeiros com altos salários e três secretárias no gabinete presidencial.
Não chego demitindo pessoas diz Roberto, já que algumas secretárias trabalhavam com Eurico Miranda. Dizem que não sou administrador. Nem preciso. Tenho que administrar pessoas mais capacitadas, cada uma em sua área.