Da forma como andam as coisas para José Luis "El Puma" Rodríguez, às vezes é difícil lembrar que ele ainda vive um processo de adaptação ao Vasco e ao futebol brasileiro. O lateral-direito de 26 anos chegou ao Rio de Janeiro dois meses atrás para sua primeira experiência longe do Uruguai - com exceção de uma passagem curtíssima, de apenas um jogo, pelo Racing, da Argentina.
Pumita quer começar logo as aulas de português para derrubar a barreira da língua que existe entre ele e seus companheiros, embora isso não atrapalhe o entrosamento dentro de campo e tampouco impeça uma resenha ou outra. A entrevista exclusiva à equipe da Globo nesta terça-feira, no CT Moacyr Barbosa, por exemplo, foi interrompida por algumas brincadeiras entre ele e Nenê.
Tenho a ajuda dos meus companheiros, das pessoas que trabalham no clube, e isso é muito importante para minha adaptação", explicou o lateral-direito titular da equipe comandada por Maurício Barbieri, autor de dois gols nos últimos dois jogos. As aulas devem começar em breve.
Por outro lado, dois meses parecem ter sido o suficiente para que o jogador fosse abraçado pela torcida do Vasco. Uma relação ainda mais fortalecida pelo bonito gol no domingo, que garantiu a vitória por 1 a 0 sobre o Flamengo no Maracanã.
- É impressionante como apoiam e estão em todos os lugares, nos recepcionando em hotéis, aeroportos, sempre em bom número - conta Pumita.
No clássico foi muito emocionante como a torcida incentivava, cantava, pulava. Dava pra sentir em campo e é algo que me emociona muito.
— Puma Rodríguez, lateral do Vasco
- Se me perguntassem antes, não imaginava ganhar de 1 a 0 com um belíssimo gol meu, com os torcedores gritando meu nome. Ter vivido isso foi incrível. Minha família estava lá, então fiquei muito contente e emocionado - concluiu.
As boas atuações contribuem para a relação: além dos dois gols marcados, Puma tem uma assistência em nove jogos pelo Vasco. Carismático, o uruguaio é figurinha carimbada nas redes sociais do clube e faz questão de devolver o carinho e se aproximar dos torcedores quando possível. Como aconteceu na chegada a Brasília para o jogo contra o Trem-AP, pela Copa do Brasil, quando ele ficou por cerca de meia hora tirando fotos e distribuindo autógrafos na frente do hotel.
O lateral ainda é o maior ladrão de bolas do Vasco no Campeonato Carioca, com 24 desarmes. Entre os jogadores de todas as equipes, perde no quesito apenas para Matheus Lira, do Madureira, com 28.
Vale Puskás?
Anotada a pintura de Puma Rodríguez no Clássico dos Milhões, os vascaínos imediatamente deram início às comparações com o golaço de Pavard, da seleção da França, nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2018 contra a Argentina (veja no vídeo abaixo). O lance foi indicado ao Prêmio Puskás naquele ano, mas não chegou a ficar entre os três finalistas.
O lateral do Vasco admite as semelhanças.
- Foi muito parecido com o do Pavard, só que o do Pavard foi mais perto e um pouco mais acima. Difícil de comparar, os dois são muito bonitos - acredita ele, antes de acrescentar:
- Quanto ao Puskás, vamos ver se vai acontecer (risos).
Pumita Rodríguez conta que ficou sem reação quando viu a bola estufar a rede do goleiro Santos.
- Acho que é o gol mais bonito que já fiz e também o mais importante pela situação e por ser um clássico. [...] É um pouco difícil fazer um gol como aquele. Quando vi a bola vindo pensei em chutar e quando a vi na rede foi emoção total e alegria. Não sabia o que fazer, só saí correndo para trás para comemorar com meus companheiros, não sabia como festejar.
— Puma Rodríguez, lateral do Vasco
Elogios a Barbieri
Nas seis temporadas em que defendeu o Danubio e em 2022, quando vestiu a camisa do Nacional, Pumita trabalhou com técnicos renomados no futebol uruguaio, como Pablo Repetto, Pablo Gaglianone e Leonardo Ramos. Na seleção, também foi comandado por Fabián Coito e Diego Alonso, por exemplo.
Dito isso, a metodologia de Maurício Barbieri no Vasco tem causado boa impressão no lateral, como esclareceu na entrevista.
- O trabalho é muito bom, é um treinador que não se prende muito a um sistema de jogo. Ele foca nas táticas e em que momento pode aplicá-las. É um treinador muito bom, que tem as ideias muito claras e que passa isso para a gente de forma muito clara. Isso faz com que a gente queira fazer o que ele passa. No dia a dia, jogo a jogo, estamos fazendo o que ele pede. Tem sido muito bom para todos.
No Vasco, Puma é uma peça ofensiva importante e pisa a todo momento no último terço do campo. As temporadas em que mais fez gols na carreira até aqui foram em 2017 (Danubio) e 2022 (Nacional), quando marcou três vezes. Falta um para que ele iguale sua marca mais goleadora, portanto. E não estamos sequer no meio do ano.
- O Maurício dá muita liberdade para os laterais chegarem. Trabalhamos muito as finalizações. Espero que eu siga ajudando com assistências e gols, mas o mais importante é a equipe ganhar - disse.
Disputa no Vasco e na seleção
O clássico contra o Flamengo marcou o duelo entre os dois laterais-direitos da seleção uruguaia: Pumita x Varela. Hora de deixar "a amizade de lado", como disse o jogador do Vasco.
- Eu já o conhecia na seleção, nos damos muito bem. Claro que, na partida, a gente deixa a amizade de lado, todo mundo quer ganhar. Na seleção temos essa disputa por posição, e a decisão é do treinador - conta.
No Vasco, até aqui Pumita é absoluto na posição, mas o clube contratou recentemente o lateral-direito Paulo Henrique, emprestado pelo Atlético-MG, que garantiu que chega para tirar o sossego do uruguaio. Puma enxerga uma disputa sadia.
- Ainda não conversamos muito, mas é bom para o clube, para mim também. Até para que eu não me canse. É bom para ele chegar em um clube que está bem - disse o lateral, que projeta a evolução da equipe para o restante da temporada:
- Estamos melhorando a cada dia e a cada jogo. Como chegaram muitos jogadores novos e o treinador, estamos assimilando ainda uma ideia, mas estamos indo bem. Isso está sendo visto à medida que passam os treinos e os jogos. Temos muitos bons jogadores, o Andrey que voltou agora, o entrosamento de todos vai melhorar.