Andar pelas ruas do Rio de Janeiro neste final de semana permite encontrar pessoas com sentimentos diferentes. Vascaínos desesperados e esperançosos, rubro-negros convictos da vitória e outros desapontados com o desempenho recente. Mas as ruas falam e reproduzem sensações de Flamengo x Vasco.
Não sobre Barcelona x Real Madrid.
O grande jogo do final de semana, no mundo, é o clássico espanhol. E, no entanto, o velho país do futebol sobrevive falando sobre os jogos daqui. Até os que valem pouco.
Nem todo lugar do mundo é assim. Viajar é uma bênção, estar na Rússia é ouvir do taxista que torce pelo Real Madrid e outro para o Manchester City. Em Moscou? Ah... não! "Até gosto do Spartak", dizia o taxista, durante a Copa do Mundo.
Ouvir gente ainda falando de Flamengo x Vasco em dia de Barcelona x Real Madrid é o símbolo de um patrimônio que sobrevive no futebol brasileiro, mas que precisa ser cuidado para não ser perdido. A eleição da CBF, marcada para esta semana, entrega ao candidato único, Ednaldo Rodrigues, um desafio: manter o futebol brasileiro vivo.
Há dez dias, as ruas do Rio de Janeiro passavam sensação diferente deste domingo. "Tem um jogaço hoje", disse o garçom. Pura provocação, perguntei qual. Tinha Fluminense x Olimpia, pela Libertadores, mas o camarada respondeu: "Real Madrid x PSG." Claro que sim.
Ninguém duvida de que aquele era o jogaço daquela quarta-feira, muito menos depois de assistir aos dois espetáculos. Os meninos do Brasil vão assistir cada vez mais ao futebol europeu e cada dia mais a relação Brasil x Europa vai se tornar igual à do basquete brasileiro x NBA. A não ser que se trabalhe para que este ex-país do futebol tenha no futuro a quinta melhor liga do mundo, como descreveu o presidente da Liga Espanhola, Javier Tebas, em sua passagem relâmpago por São Paulo.