O comércio internacional de atletas continua a ser a atividade mais rentável dos times brasileiros e a venda de Robinho para o Real Madrid colocou o Santos no topo da lista dos maiores clubes por receita em 2005.
O levantamento feito pela Casual Auditores com os balanços de 21 clubes mostra que o time santista quase dobrou o faturamento, em relação a 2004, para R$ 135,7 milhões. O avanço do superávit foi ainda mais impressionante: 518%, para R$ 63 milhões.
O Santos faturou R$ 93,6 milhões só na rubrica negociação de atletas, disparado à frente de Cruzeiro, com R$ 56,7 milhões, e São Paulo, R$ 26,2 milhões.
Robson de Souza, mestre da \"pedalada\", fez a diferença. \"A maior transação do futebol brasileiro\", segundo proclama o Santos em seu balanço, movimentou cerca de US$ 50 milhões, dos quais US$ 30 milhões ficaram na Vila Belmiro. Isso significou uma receita de R$ 70,7 milhões direto na conta de resultados.
Apesar de a venda de jogadores não ser a razão de existir de um clube de futebol, a exportação de talentos é o que mantém os times com a cabeça fora d\"água. Se em países da Europa a venda é considerada uma receita não-operacional, no Brasil ela é quase o que os americanos chamariam de \"core business\".
Dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) mostram que em 2003 a exportação chegou a um patamar recorde de 858 jogadores. Em 2004 foram 857. No ano passado, 804.
A negociação de atletas representou 31% das receitas dos clubes em 2005, praticamente inalterado em relação a 2004. Em seguida vieram os direitos de transmissão dos jogos pela televisão, com 26% (29% em 2004). Bilheteria e esporte amador ficaram estáveis em 6% e 9%, respectivamente, enquanto patrocínio e publicidade passou de 11% para 15%, com ajuda do contrato entre Corinthians e Samsung.
A dependência da venda de jogadores para fechar o balanço no azul preocupa Carlos Aragaki, sócio da Casual. \"Os jogadores estão sendo vendidos cada vez mais cedo, os clubes estão buscando na raiz\", afirma. \"Será que vão surgir novos Robinhos e Kakás?\"
Um cálculo feito pela Casual ilustra bem o grau dessa dependência: em 2005, o resultado conjunto dos 21 clubes do ranking foi um déficit de R$ 11,6 milhões, menor que os R$ 67,3 milhões de 2004. No entanto, se for excluída a venda de atletas da conta, os times acumulam um déficit de R$ 286,6 milhões, 33% maior que os R$ 215,4 milhões de 2004. Sem a negociação dos chamados \"atestados liberatórios\", somente o Atlético paranaense teria superávit em 2005, por conta do contrato fechado com a japonesa Kyocera, que colocou seu nome no estádio do clube.
O Atlético, que tem a sétima maior receita, é o vice-líder em superávit, atrás do Santos. O Furacão também vem depois do Peixe na lista de maiores lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) - um indicador de desempenho operacional muito utilizado por investidores.
O São Paulo, segundo colocado no ranking de faturamento, liderou a lista de receitas com televisão, a segunda maior fonte de recursos dos clubes. Campeão da Copa Libertadores e do Mundial Interclubes em 2005, o Tricolor paulista ficou à frente de Corinthians e Flamengo, clubes com as maiores torcidas do país.