Quem apitta?
O presidente interino aproveitou os holofotes acesos pela saída de Romário para alardear, pela enésima vez, que interfere até na escalação do time quando estão em jogo os interesses do Vasco. Faltou aclarar quem são os outros interessados.
Reinaldo Pitta, que o diga. Desde que saiu da prisão, o agente de jogadores voltou a estar influente no Vasco. Pitta é o agente de Alan Kardec e de Alex Teixeira.
Os dois são considerados duas jóias da coroa vascaína. Se negociados para o exterior, seu agente abrirá um largo sorriso que qualquer vascaíno não daria.
A camaradagem entre o presidente interino do Vasco e Reinaldo Pitta vem de longa data. Vai além da vizinhança de suas casas de praia. E já violou até mesmo o Regulamento de Transferências da Fifa.
Em junho de 2001, o então presidente do Vasco assinou uma procuração, dando à empresa holandesa WFC (da qual os agentes Reinaldo Pitta e Alexandre Martins eram administradores) poderes para negociar o volante Paulo Miranda.
Seria perfeito se o regulamento da Fifa não proibisse transferências através de empresas e depósitos de clubes diretamente nas contas bancárias destas e nas de agentes.
Porém, com esse favor, o caminho estava aberto para um parceiro de Pitta, o agente franco-argelino Logbi Henouda, mais conhecido no futebol como Franck Henouda, comandar a operação em que o Girondins de Bordeaux, da Primeira Divisão francesa, pagou US$ 3,94 milhões a mais do que o Vasco declarou receber pela venda do apoiador.
O clube francês fez uma saída de caixa de US$ 5,94 milhões. Somente US$ 2 milhões entraram na conta corrente do Vasco. A diferença de US$ 3,94 milhões passou por bancos da Suíça, dos Estados Unidos e do Uruguai, sem jamais ter sido registrada no Banco Central do Brasil ou na Receita Federal. O negócio, que deixou de recolher o equivalente, em 2001, a US$ 709,2 mil (18%) em impostos no Brasil. E fez a alegria de agentes e dirigentes.
Agora, novamente, um jogador representado por Pitta é alvo de polêmica no Vasco. E justamente um atleta que interessa ao Paris Saint-Germain, clube francês que acabou de contratar Souza, do São Paulo, sob a intermediação de... Franck Henouda.
O agente franco-argelino, radicado em Porto Alegre, tem grande amizade com Paulo
Angioni, gerente de futebol do Vasco. Foi com a ajuda de Angioni que, no passado, Henouda levou o atacante Roni do Fluminense para o Rubin, da Rússia.
Seria mera coincidência que o intermediário das ordens do presidente interino do Vasco para a escalação de Alan Kardec fosse o mesmo Angioni? A demissão de Romário joga luz sobre as relações obscuras entre dirigentes e agentes.
Personagens com histórico de interesses comuns se envolvem novamente numa trama, em que o Vasco, certamente, é a parte menos beneficiada.