Em 2004, Felipe era a maior estrela do Flamengo e, mesmo com um futebol inferior ao do início da carreira, no Vasco, o jogador era comparado a Garrincha pela mídia esportiva.
Para decisão do Estadual daquele ano, o volante Coutinho foi o escolhido para marcar Felipe e, durante a semana, Geninho, treinador do Vasco, foi flagrado dando orientação para Coutinho aos berros: \"Pega, pega...\"
A frase foi descontextualizada pelo colunista Renato Maurício Prado que passou a semana pressionando a arbitragem e afirmando que Geninho estaria orientando Coutinho a usar da violência. A pressão teve efeito, pois apesar de marcar Felipe de forma leal e sem fazer faltas, Coutinho levou cartão amarelo no primeiro tempo após Felipe se jogar.
No segundo tempo, Coutinho fez uma falta que merecia cartão amarelo. Como já havia levado o primeiro cartão injustamente, o volante vascaíno foi expulso. Com o Vasco tendo um jogador a menos, o Flamengo teve a vida facilitada e sagrou-se campeão.
Após a pressão do colunista à arbitragem, Chico Anysio escreveu, depois da decisão, uma coluna criticando a postura do colega na semana que antecedeu a partida.
Leia a seguir o texto.
O jogo de futebol do domingo, no Rio, ao mesmo tempo que deu o título ao Flamengo, nos mostrou com maior claridade duas coisas: a primeira, que o Vasco jogou contra o Flamengo, como eu sempre supunha e não contra o Felipe, como imaginava a nossa clarividente crítica esportiva. O Felipe não foi nenhuma diferença e isto é o lógico, porque ele está tão perto do Garrincha quanto eu do Tony Bennett.
A segunda coisa foi melancólica, porque eu me acostumei a comentar jogos desde os 17 anos de idade e sempre fiz o máximo para não deixar interferir nos meus comentários minha preferência por um clube ou pelo outro. E sempre consegui. Nesta semana de uma final, no Rio, como sempre aconteceu, surgiram coisas que foram faladas, prometidas, ameaçadas etc.
Tudo isto existe para ser minimizado pela crônica, porque não é papel de um jornalista aumentar um fogo que ainda nem se sabe se será aceso. Fernando Calazans e Maurício Prado, dois cronistas do Flamengo que recebem um salário do jornal \"O Globo\", passaram a semana inteira incitando o árbitro contra os defensores do Vasco, colocando as coisas de modo que à primeira falta sobre o Felipe fosse dado um cartão amarelo e, posteriormente, o vermelho. É claro que o time dos prestigiados cronistas, quando era bom, nos tempos de Mozer, Andrade, Adílio, Zico e Tita, podia abrir mão deste expediente feio, para usar o mais lindos dos adjetivos. Não se promove uma partida atirando o árbitro contra os jogadores do time adversário, pois isto, na dependência do que ocorrer no jogo, pode causar um grande problema com as torcidas e não é exatamente este o dever de um cronista esportivo. E não nos esqueçamos de um agravante: no atual estágio do nosso futebol, nem os times e nem os árbitros prestam. O Flamengo venceu, o Vasco teve um jogador expulso (por causa do Felipe), mas os dois cronistas rubro-negros do \"Globo\", são, para mim, figuras expúrias porque apesar de não serem mais crianças, ainda não aprenderam a ter um bom comportamento de adulto. O que eles fizeram foi coisa de meninos sem responsabilidade; se eles não são isso, já sei o que são: pífios. Quanto à transmissão do Galvão Bueno, ele poderia ser mais honesto e vestir uma camisa do Flamengo.
Ary Barroso fazia isso e era genial. É melhor ser francamente torcedor de um time do que ser do tipo desses de quem eu falei. A cada dia que passa mais eu louvo o Washington Rodrigues, que já foi até treinador do Flamengo e comenta sem torcer. É difícil, porque para isso precisa ter talento. Chico Anysio